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Artigo 2 - Se deviam estabelecer-se dois preceitos sobre a caridade.

O segundo discute-se assim. Parece que não deviam estabelecer-se dois preceitos sobre a caridade.

1. Pois, os preceitos da lei ordenam-se para a virtude, como se disse. Ora, a caridade não é uma virtude, como se determinou. Logo, sobre a caridade devia estabelecer-se um só preceito.

2. Demais. Santo Agostinho diz que a caridade não ama no próximo senão a Deus. Ora, para nos fazer amar a Deus basta suficientemente o preceito - amarás ao Senhor teu Deus. Logo, não é preciso acrescentar outro preceito relativo ao amor do próximo.

3. Demais. Pecados diversos se opõem a preceitos diversos. Ora, não peca quem deixa de lado o amor ao próximo, se não fizer o mesmo com o amor de Deus; antes, está no Evangelho: Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai e mãe, não pode ser meu discípulo. Logo, não é um o preceito sobre o amor de Deus e outro, sobre o do próximo.

4. Demais. O Apóstolo diz: Aquele que ama ao próximo tem cumprido com a lei. Ora, não cumprimos com a lei senão pela observância de todos os preceitos. Logo, todos estão incluídos no amor do próximo. Portanto, é suficiente esse só preceito do amor do próximo e por consequência não devem ser dois os preceitos da caridade.

Mas, em contrário, o Evangelho: Nós temos de Deus este mandamento, que o que ama a Deus ame também o seu irmão.

SOLUÇÃO. Como já dissemos, quando tratamos dos preceitos da lei, tais preceitos desempenham a mesma função que as proposições nas ciências especulativas, cujas conclusões estão virtualmente contidas nos primeiros princípios. Por onde, quem conhecesse perfeitamente os primeiros princípios em toda sua virtude, não teria necessidade que se lhe propusessem separadamente as conclusões. Mas, como nem todos os que conhecem os princípios são capazes de compreender tudo o que está neles suficientemente contido, é necessário que, para eles, as conclusões científicas sejam deduzidas dos princípios. Na ordem prática, porém, na qual os preceitos da lei é que nos dirigem, o fim exerce a função de princípio, como dissemos. Ora, o amor de Deus é um fim ao qual se ordena o amor do próximo. Por onde, não somente é necessário estabelecerem-se preceitos sobre o amor de Deus, mas também, sobre o do próximo, por causa dos menos capazes, que não pudessem compreender facilmente que um desses preceitos está contido em outro.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­ Embora a caridade seja uma só virtude, implica, contudo dois atos, dos quais um se ordena para o outro como para o fim. Ora, preceitos se estabelecem sobre os atos das virtudes. Logo, necessariamente serão vários os preceitos sobre a caridade.

RESPOSTA À SEGUNDA. Deus é amado no próximo, como amamos o fim, nos meios. Contudo era necessário se estabelecessem explicitamente preceitos sobre um e outro, pela razão já exposta.

RESPOSTA À TERCEIRA. O meio tem natureza de bem, por se ordenar ao fim. E assim sendo, e não de outro modo, afastar-se dele é, por natureza, mal.

RESPOSTA À QUARTA. No amor do próximo se inclui o amor de Deus, como o fim, nos meios, e não inversamente. E, contudo era necessário estabelecer explicitamente um e outro preceitos pela razão já apontada.

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