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Artigo 2 - Se a rixa é filha da ira.

O segundo discute-se assim. – Parece que a rixa não é filha da ira.

1. – Pois, diz a Escritura: Donde vem as guerras e contendas entre nós? Não vem elas das concupiscências, que combatem em vossos membros? Ora, a ira não pertence ao concupiscível. Logo, a rixa não é filha da ira, mas antes, da concupiscência.

2. Demais. – A Escritura diz: aquele que se jacta e que se incha de soberba, excita contendas. Ora, parece que rixa é o mesmo que contenda. Logo, parece que a rixa é filha da soberba ou da vanglória, da que é próprio o jactar-se e excitar contendas.

3. Demais. – A Escritura diz: Os lábios do insensato metem-se em rixas, Ora, a insensatez difere da ira; pois, não se opõe à mansidão, mas antes, à sabedoria ou à prudência. Logo, a rixa não é filha da ira.

4. Demais. – A Escritura diz: O ódio excita rixas. Ora, o ódio nasce da inveja, como diz Gregório. Logo, a rixa não é filha da ira, mas da inveja.

5. Demais. – A Escritura diz: aquele que medita discórdias semeia rixas, Ora, a discórdia é filha da vanglória, como se disse. Logo, também a rixa.

Mas, em contrário, Gregório ensina que da ira nasce a rixa. E a Escritura: O homem iracundo excita rixas.

SOLUÇÃO. – Como já dissemos a rixa implica, uma certa contradição, que chega até às vias de fato, pois que um tem a intenção de ferir o outro. Ora, de dois modos um intenciona ferir o outro. - Primeiro, visando como que em absoluto o mal do outro. E esse modo de ferir é próprio do ódio, cujo fim é ferir o inimigo manifesta ou ocultamente. - De outro modo, tencionamos ferir a outrem, que o sabe e que resiste; e é isso o que significa o nome de rixa. E tal pertence propriamente à ira, que é o desejo de vingança. Pois, não basta ao irado fazer mal ocultamente aquele contra o qual está encolerizado; mas quer que este sinta e que, contra a sua vontade, sofra algo como vingança pelo que fez; como é claro pelo que dissemos da paixão da ira.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ Como dissemos, todas as paixões do irascível nascem das do concupiscível. E sendo assim, o que proximamente nasce da ira nasce também da concupiscência, como da raiz primeira.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O jactar-se e o inchar-se, resultados da soberba e da vanglória, não provocam diretamente a contenda ou a rixa, mas ocasionalmente, provocando-a porque consideramos como injúria a preferência sobre nós, que outrem a si mesmo se dá. E assim, da ira resultam as contendas e as rixas.

RESPOSTA. À TERCEIRA. – A ira, como já dissemos, impede o juízo da razão; e por aí, tem semelhança com a insensatez. Donde resulta que produzem um efeito comum; pois, por falta de razão é que desejamos desordenadamente fazer mal a outro.

RESPOSTA À QUARTA. – Embora a rixa nasça às vezes do ódio, não é contudo, efeito próprio deste: porque está fora da intenção de quem odeia fazer mal ao inimigo rixosa e manifestamente. Mas, quando vê que o inimigo lhe é superior, visa fazer-lhe mal, com rixa e contenda. Ora, fazer mal a outrem rixosamente é efeito próprio da ira pela razão já dita.

RESPOSTA À QUINTA. – Das rixas nascem o ódio e a discórdia no coração dos rixosos. Por onde, quem medita, isto é, quem intenciona semear discórdias entre os outros, provoca-os a que rixem entre si; assim como qualquer pecado pode ordenar o ato de outro pecado, ordenando-o para o seu fim. Mas daqui não se segue seja a rixa filha da vanglória, própria e diretamente.

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