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Artigo 3 - Se a inveja é pecado mortal.

O terceiro discute-se assim. – Parece que a inveja não é pecado mortal.

1. – Pois, a inveja, sendo uma espécie de tristeza, é paixão do apetite sensitivo. Ora, na sensualidade não há pecado mortal, mas só na razão, como está claro em Agostinho Logo, a inveja não é pecado mortal.

2. Demais. – As crianças não podem cometer pecado mortal. Mas podem ter inveja, como diz Agostinho: Eu vi e conheci por experiência um menino invejoso; ainda não falava e já pálido, com as feições transtornadas, lançava olhares invejosos para outro menino, no seio da sua ama. Logo, a inveja não é pecado mortal.

3. Demais. – Todo pecado mortal contraria a alguma virtude. Ora, a inveja não contraria a nenhuma virtude, mas à némese, que uma paixão. Logo, a inveja não é pecado mortal.

Mas, em contrário, a Escritura: a inveja mata o pequeno. Ora, nada mata espiritualmente a não ser o pecado mortal. Logo, a inveja é pecado mortal.

SOLUÇÃO. – A inveja é genericamente pecado mortal; e o gênero de um pecado se deduz do seu objeto. Ora, a inveja, pela natureza do seu objeto, contraria à caridade, donde vem a vida espiritual da alma, conforme aquilo da Escritura. Nós sabemos que nos fomos trasladados da morte para a vida, porque amamos a nossos irmãos. Ora, o objeto, tanto da caridade como da inveja é o bem do próximo, mas por movimentos contrários; pois, a caridade se compraz com esse bem, ao passo que a inveja com ele se entristece, como do sobredito resulta. Por onde, é manifesto que a inveja é, genericamente, pecado mortal.

Mas, como já dissemos cada gênero de pecado mortal encerra certos movimentos imperfeitos da sensualidade, que são pecados veniais. Assim, o gênero do adultério, os primeiros movimentos da concupiscência: e o do homicídio, os primeiros da ira. Assim também no gênero da inveja se encontram certos movimentos primeiros, que são pecados veniais, mesmo, às vezes, nos varões perfeitos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­– Os movimentos da inveja, enquanto paixão da sensualidade são algo do imperfeito no gênero dos atos humanos, cujo princípio é a razão. Por onde, tal inveja não é pecado mortal. E semelhante é a natureza da inveja das crianças, que não têm uso da razão.

Donde se deduz claramente a RESPOSTA À SEGUNDA OBJEÇÃO.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A inveja, segundo o Filósofo, opõe-se tanto à némese como à misericórdia, mas a luzes diversas. Pois, à misericórdia opõe-se diretamente, pela contrariedade do objeto principal; porque o invejoso se entristece com o bem do próximo; ao passo que o misericordioso se entristece com o mal do mesmo. Por onde, os invejosos não são misericordiosos, como no mesmo lugar se diz, nem inversamente. Relativamente aquele, porém, com cujo bem se entristece o invejoso, a inveja se opõe a némese; pois, o nemesético se entristece com o bem dos que agem mal, conforme aquilo da Escritura: Tive zelo sobre os iníquos, pendo a paz dos pecadores; ao passo que o invejoso se entristece com o bem dos que são dignos. Por onde, é claro que a primeira contrariedade é mais direta que a segunda. Ora, a misericórdia é uma virtude e o efeito próprio da caridade. Por isso, a inveja se opõe à misericórdia e à caridade.

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