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Artigo 5 - Se o ódio é um vício capital.

O quinto discute-se assim. – Parece que o ódio é um vicio capital.

1. – Pois, o ódio diretamente se opõe à caridade. Ora, a caridade é a principalíssima das virtudes e a mãe de todas. Logo, o ódio é o máximo vício capital e o princípio de todos os outros.

2. Demais. – Os pecados nascem em nós conforme a inclinação das paixões, segundo aquilo da Escritura: As paixões dos pecados obravam em nossos membros para darem fruto à morte. Ora, dentre as paixões da alma, parece ser do amor e do ódio que todas as mais procedem, como do sobredito resulta. Logo, o ódio deve ser contado entre os vícios capitais.

3. Demais. – O vicio é um mal moral. Ora, o ódio concerne mais principalmente o mal do que qualquer outra paixão. Logo, o ódio deve ser considerado vicio capital.

Mas, em contrário, Gregório não enumera o ódio entre os vícios capitais.

SOLUÇÃO. – Como dissemos, vício capital é aquele que frequentemente da origem aos outros. Ora, o vício é contrário à natureza do homem enquanto animal racional. Mas o feito contra a natureza paulatinamente corrompe o natural. Por onde, necessariamente havemos de começar por nos afastarmos do menos contrário à natureza e acabar por abandonarmos o que lhe é mais conforme. Pois, o primeiro construído é o último a ser destruído. Ora, o que é máximo e primariamente natural ao homem é amar o bem, e sobretudo o bem divino e o do próximo. E portanto, o ódio, oposto a esse amor, não vem em primeiro lugar na destruição da virtude, causadas pelos vícios, mas em último. Logo, o ódio não é vício capital.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­– Como diz Aristóteles: a virtude de um ser consiste na boa disposição da sua natureza. Logo, nas virtudes, há de ser primeiro e principal o que na ordem natural é primeiro e principal. Por isso a caridade é considerada a principalíssima das virtudes. E pela mesma razão, o ódio não pode ser o primeiro dos vícios, como se disse.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O ódio ao mal, que contraria ao bem natural, é a primeira das paixões da alma, assim como o amor natural do bem. Mas o ódio ao bem conatural não pode vir em primeiro lugar, senão que é, por natureza, último; pois tal ódio, como o amor de um bem desregrado, atesta uma natureza de corrupção já consumada.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Há duas sortes de males. Um verdadeiro: o repugnante ao bem natural. O ódio desse mal pode, por natureza, ter prioridade entre as paixões. Há, porém, outro mal não verdadeiro, mas aparente: o que é verdadeiro bem e conatural, embora considerado mal, por causa da corrupção da natureza. O ódio desse mal, há de por força vir em último lugar e é vicioso; não, porém, o primeiro.

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