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Artigo 8 - Se é mais meritório amar ao próximo que a Deus.

O oitavo discute-se assim. – Parece mais meritório amar ao próximo que a Deus.

1. – Pois, parece mais meritório o que o Apóstolo sobretudo prefere. Ora, o Apóstolo prefere o amor do próximo ao de Deus, conforme o diz: - Eu desejara ser anátema por Cristo, por amor de meus irmãos, Logo, é mais meritório amar ao próximo que a Deus.

2. Demais. – De certo modo parece menos meritório amar ao amigo, como se disse. Ora, Deus é o amigo por excelência, ele que foi o primeiro que nos amou a nós, como diz a Escritura. Logo, amar a Deus parece menos meritório.

3. Demais. – O mais difícil é mais virtuoso e meritório, pois a virtude versa sobre a dificuldade e o bem como diz Aristóteles. Ora, é mais fácil amar a Deus, que o próximo, quer por todos os seres naturalmente amarem a Deus, quer por não haver em Deus nada que não seja digno de ser amado - o que não se dá com o próximo. Logo, é mais meritório amar ao próximo, que a Deus.

Mas, em contrário, o que faz com que uma coisa seja o que é, é essa coisa mesma de maneira mais eminente. Ora, o amor do próximo não é meritório, senão por ser amado por causa de Deus. Logo, o amor de Deus é mais meritório que o do próximo.

SOLUÇÂO. – A comparação do amor do próximo com o de Deus pode ser entendida de duplo modo. - De um, considerando-se um e outro amor separadamente. E então nenhuma dúvida há que o amor de Deus não seja mais meritório; pois, em si mesmo, é devida recompensa a esse amor, porque a última recompensa é o gozo de Deus, para o qual tende o movimento do amor divino. Por isso ao amante de Deus é prometida, na Escritura, uma recompensa: aquele que me ama, será amado de meu Pai e me manifestarei a ele. De outro modo, essa comparação pode ser entendida de modo que o amor de Deus seja considerado no sentido em que só Deus é amado; e o amor do próximo, no sentido em que ele seja amado por causa de Deus, E assim, o amor do próximo inclui o de Deus; mas o de Deus não inclui o do próximo. Por onde, a comparação se faz entre o amor perfeito de Deus, que abrange também o do próximo, e um amor de Deus insuficiente e imperfeito; pois, nós temos de Deus este mandamento. Que o que ama a Deus, ame também a seu irmão. E neste sentido, o amor do próximo tem preeminência.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO, ­– Segundo uma exposição da Glosa, o Apóstolo, quando em estado de graça, não desejava separar-se de Cristo, por amor de seus irmãos; mas o desejava, quando no estado de infidelidade. Por onde, nesse ponto, não deve ser imitado. Ou podemos dizer, segundo Crisóstomo, que essas palavras não significam amasse o Apóstolo mais ao próximo, que a Deus; mas que amava a Deus mais que a si mesmo. Queria assim ser privado por algum tempo do gozo divino, que é próprio ao amor de si, para buscar, no próximo, a honra divina, o que é próprio ao amor de Deus.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O amor do amigo é às vezes menos meritório só por ser o amigo amado como tal; e portanto, afasta-se da verdadeira essência do amor de caridade, que é Deus.  Logo, o ser Deus amado, por si mesmo não diminui o mérito; antes, constitui a essência total deste.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A bondade constitui a essência do mérito e da virtude, mais que a dificuldade. Por onde, não é necessário seja tudo o que é mais difícil mais meritório; mas, sim, que seja mais difícil de modo a também ser melhor.

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