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Artigo 6 - Se devemos amar mais a um próximo que a outro.

O sexto discute-se assim. – Parece que não devemos amar mais a um próximo que a outro.

1. – Pois, diz Agostinho: Devemos amar igualmente a todos os homens. Mas, como não poder ser útil a todos, deves servir principalmente aqueles que te estão unidos, como que pela sorte, mais estreitamente, e conforme as circunstâncias de lugar, de tempo ou qualquer outra. Logo, não devemos amar a um próximo mais que outro.

2. Demais. – Quando a razão de amar a diversos é a mesma não deve haver desigualdade no amor. Ora, uma mesma razão temos de amar a todos os próximos, e é Deus, como claramente o expõe Agostinho. Logo, devemos amar igualmente a todos os próximos.

3. Demais. – Amar é querer bem a outrem, diz o Filósofo. Ora, devemos querer igualmente a todos os próximos o bem da vida eterna. Logo, devemos amá-los igualmente a todos.

Mas, em contrário. – Um próximo deve ser tanto mais amado, quanto mais gravemente pecar quem contrariar esse amor. Ora, peca mais gravemente quem contraria o amor de certos próximos do que quem contraria o de outros. Por isso a Escritura preceitua: O que amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe morra de morte; o que não é preceituado aos que amaldiçoam os outros homens. Logo, devemos amar certos próximos mais que outros.

SOLUÇÃO. – Duas opiniões se emitiram relativamente a este assunto. Uns disseram que devemos amar igualmente a todos os próximos, com caridade, mas quanto ao afeto e não, quanto ao efeito externo. E consideram a ordem do amor como devendo ser entendida em dependência dos benefícios externos, que devemos fazer, mais, aos próximos que aos estranhos; e não, em dependência do afeto interior, que devemos ter igualmente para com todos, mesmo para com os inimigos.

Mas esta opinião é irracional. Pois, o afeto da caridade, inclinação da graça, não é menos ordenado que o apetite natural, inclinação da natureza; pois uma e outra inclinação precedem da sabedoria divina. Ora, vemos, na ordem da natureza, a inclinação natural proporcionar­se ao ato ou ao movimento conveniente à natureza de cada ser. Assim, a terra tem maior inclinação da gravidade que a água, por lhe ser natural estar debaixo da água. Por onde e necessariamente, também a inclinação da graça, que é o afeto da caridade, há de proporcionar-se ao que devemos praticar externamente; de modo a termos mais intenso afeto de caridade para com os credores de maior beneficência nossa.

Portanto, devemos concluir, mesmo quanto ao afeto, devemos amar mais a um próximo que a outro. E a razão é que sendo os princípios do amor, Deus e quem ama, segundo a maior proximidade em relação a um desses princípios, há de necessariamente ser maior o afeto do amor. Pois, como já dissemos, em tudo o relativo a um princípio, a ordem há de depender da referência a esse principio.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ O amor pode ser desigual de dois modos. ­ Ou relativamente ao bem que desejamos ao amigo e então amamos, com caridade, igualmente a todos os homens, por a todos desejarmos o mesmo bem genérico da felicidade eterna. - De outro modo, dizemos que o amor é maior por ser o seu ato mais intenso. E então não é necessário amemos igualmente a todos. Ou, devemos dizer, diferentemente, que podemos amar com desigualdade a certos, de dois modos. - Primeiro, por amarmos a uns e não, a outros, devendo conservar essa desigualdade nos benefícios, porque não podemos servir a todos. Mas tal desigualdade não deve existir na benevolência do amor. - Outra porém é a desigualdade do amor quando uns são mais amados que outros: Ora, Agostinho não pretende excluir esta desigualdade, mas a primeira, como é claro pelo que diz da beneficência.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Nem todos os próximos mantêm a mesma relação com Deus; mas uns lhe são mais próximos, por terem maior bondade; e a esses devemos amar mais, com caridade, do que outros que lhe são menos chegados.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A objeção colhe quanto à quantidade do amor, relativamente ao bem que desejamos aos amigos.

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