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Artigo 5 - Se o homem deve amar ao próximo mais que ao próprio corpo.

O quinto discute-se assim. – Parece que o homem não deve amar mais ao próximo que ao próprio corpo.

1. – Pois, por próximo se lhe entende o corpo. Logo, se devemos amar ao próximo mais que ao nosso próprio corpo, devemos amar o corpo do próximo mais que o nosso.

2. Demais. – Devemos amar a nossa alma, mais que o próximo, como já se disse: Ora, o nosso próprio corpo é mais próximo à nossa alma do que o próximo. Logo, devemos amar o nosso próprio corpo mais que o próximo.

3. Demais. – Todos expõem o que menos amam para salvar o que mais amam. Ora, nem todos somos obrigados a expor o nosso próprio corpo, para a salvação do próximo, mas só o fazem os que são perfeitos, conforme aquilo da Escritura. Ninguém tem maior amor do que este de dar um a própria vida por seus amigos. Logo, o homem não é obrigado a amar mais o próximo do que o próprio corpo.

Mas, em contrário, Agostinho diz que devemos amar ao próximo mais que o nosso próprio corpo.

SOLUÇÃO. – Devemos amar mais, com caridade, aquilo que tem mais razão de ser desse modo amado, como já dissemos; Ora, a co­associação na participação plena da felicidade, que é a razão de amarmos ao próximo, é maior razão de amar, do que a participação da felicidade, com redundância, que é a razão de amarmos o nosso próprio corpo. E portanto, ao próximo, quanto à salvação da alma, devemos amar mais que ao nosso próprio corpo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ Segundo o Filósofo, cada ente é considerado como sendo o que é nele principal. Por isso, quando dizemos que o próximo deve ser mais amado que o nosso próprio corpo, isso se refere à alma, que é a parte principal dele.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O nosso corpo esta mais unido à nossa alma do que o próximo, no referente à constituição da nossa natureza própria. Mas quanto à participação da felicidade, a alma do próximo está mais co-associada à nossa, do que mesmo o nosso próprio corpo.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Todo homem tem a obrigação de cuidar do próprio corpo; não, porém, da salvação do próximo, salvo talvez em caso de necessidade. - Portanto, a caridade não exige exponhamos o nosso próprio corpo pela salvação do próximo, senão em caso em que sejamos obrigados a tratar-lhe da salvação. E só por perfeição da caridade é que alguém se ofereceria para tal espontaneamente.

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