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Artigo 2 - Se são convenientemente assinaladas as seis espécies de pecado contra o Espírito Santo: o desespero, a presunção, a impenitência, a obstinação, a impugnação da verdade conhecida e a inveja da graça fraterna.

O segundo discute-se assim. – Parece que são inconvenientemente assinaladas seis espécies de pecado contra o Espírito Santo: desespero, presunção, impenitência, obstinação, impugnação da verdade conhecida e a inveja da graça fraterna. Essas espécies são as que dá o Mestre das Sentenças.

1. – Pois, negar a divina justiça ou a misericórdia é próprio da infidelidade. Ora, pelo desespero, rejeitamos a divina misericórdia, e pela presunção, a divina justiça. Logo, cada uma das espécies de pecado supra-referidas é, antes, espécie de infidelidade que de pecado contra o Espírito Santo.

2. Demais. – A impenitência diz respeito ao pecado passado, e a obstinação, ao futuro. Ora, o passado ou o futuro não diversificam espécies de virtudes ou de vícios; pois, pela mesma fé cremos que Cristo nasceu que havia de nascer. Logo, a obstinação e a impenitência não devem ser consideradas espécies de pecado contra o Espírito Santo.

3. Demais. – A graça e a verdade foi trazida por Jesus Cristo, diz a Escritura . Logo, a impugnação da verdade conhecida e a inveja da graça fraterna se incluem antes na blasfêmia contra o Filho do homem do que na contrária ao Espírito Santo.

4. Demais. – Bernardo diz: não querer obedecer é resistir ao Espírito Santo. E a Glosa também diz que a penitência simulada é blasfêmia contra o Espírito Santo. E por seu lado, o cisma se opõe diretamente ao Espírito Santo, que opera a união da Igreja. Donde resulta que não estão suficientemente estabelecidas as espécies de pecado contra o Espírito Santo.

Mas, em contrário, diz Agostinho, que os que desesperam do perdão dos pecados, ou os que, sem méritos, presumem da misericórdia de Deus, pecam contra o Espírito Santo. E ainda quem morre na obstinação do coração é réu de pecado contra o Espírito Santo. E noutra obra afirma que a impenitência é pecado contra o Espírito Santo. E noutra: lesar a um nosso irmão com olhos invejosos é pecado contra o Espírito Santo. E ainda quem despreza a verdade é maldoso para com os irmãos a quem a verdade foi revelada, ou ingrato para com Deus, cuja inspiração dirige a Igreja, pecam todos, assim, contra o Espírito Santo.

SOLUÇÃO. – Tomado o pecado contra o Espírito Santo na terceira acepção, as seis espécies referidas estão convenientemente enumeradas; pois, distinguem-se umas das outras pela rejeição ou desprezo dos meios que podem livrar o homem de cair no pecado. E essas dependem do juízo divino, ou dos dons de Deus, ou ainda do próprio pecado.

Assim, o homem se livra de cair no pecado considerando no juízo divino, que aplica a justiça juntamente com a misericórdia. E isto pela esperança, fundada na consideração da misericórdia, que perdoa os pecados e premia as boas obras; ora, a esperança é eliminada pelo desespero. Depois, pelo temor, fundado na consideração da divina justiça, que pune os pecados, e que é totalmente eliminado pela presunção, que nos faz presumir podermos alcançar a glória, sem méritos e mesmo sem penitência.

Por outro lado, os dons de Deus, que perdemos pelo pecado, são dois. Um é o conhecimento da verdade, contrariado pela impugnação da verdade conhecida, pela qual negamos a verdade conhecida para pecarmos mais livremente. Outro é o auxílio da graça interior, contrariado pela inveja da graça fraterna, que nos leva a invejar não somente a pessoa de nosso irmão, mas ainda o aumento da graça de Deus, no mundo.

Quanto ao pecado, por fim, duas são as causas que podem dele livrar o homem. Uma é a desordem e a torpeza do ato, cuja consideração de ordinário leva o homem à penitência do pecado cometido. E isto é contrariado pela impenitência. Porém a impenitência aqui, não é tomada na mesma acepção de antes, como sendo a obstinação no pecado até a morte, pois nesse sentido não constituiria um pecado especial, mas uma circunstância do pecado. Mas é tomada no sentido de implicar o propósito de não se arrepender. Em segundo lugar, está a mesquinhesa e a brevidade do bem que, pelo pecado, buscamos, conforme aquilo da Escritura: Que fruto, pois, tivestes então naquelas causas, de que agora vos envergonhais? E essa consideração de ordinário leva o homem a não firmar a sua vontade no pecado. Mas ela fica eliminada pela obstinação, que o faz firmar o propósito, apegando-se ao pecado. E destas duas coisas fala a Escritura. Da primeira: Nenhum há que faça penitência do seu pecado, dizendo: Que fiz eu? Da segunda: Todos voltam para onde a sua paixão os leva, como um cavalo que corre a toda a brida para o combate.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ O pecado do desespero ou da presunção não consiste em não crermos na justiça ou na misericórdia de Deus, mas em desprezá-las.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A obstinação e a impenitência não diferem só pelo passado e pelo futuro, mas por certas razões formais, fundadas nas considerações diversas dos elementos que podemos levar em canta no pecado, como já foi dito.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Cristo manifestou a graça e a verdade pelos dons do Espírito Santo, que deu aos homens.

RESPOSTA À QUARTA. – Não querer obedecer é próprio da obstinação; a simulação da penitência, da impenitência: o cisma, do invejar a graça fraterna, que une os membros da Igreja.

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