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Artigo 1 - Se o pecado contra o Espírito Santo é o mesmo que o pecado de pura malícia.

O primeiro discute-se assim. Parece que o pecado contra o Espírito Santo não é o mesmo que o pecado de pura malícia.

1. – Pois, o pecado contra o Espírito Santo é o de blasfêmia, como se lê na Escritura. Ora, nem todo pecado de pura malícia é pecado de blasfêmia, pois, além deste, podemos cometer muitos outros pecados sem essa malícia. Logo, o pecado contra o Espírito Santo não é de pura malícia.

2. Demais. – O pecado por malícia certa divide-se, por oposição, dos pecados por ignorância e por fraqueza. Ora, o pecado contra o Espírito Santo divide-se, por oposição, do pecado contra o Filho do homem, como está claro na Escritura. Logo, o pecado contra o Espírito Santo não é o mesmo que o por pura malícia; porque coisas, cujos contrários são diversos, são também diversas entre si.

3. Demais. – O pecado contra o Espírito Santo é um gênero de pecado, que tem as suas espécies determinadas. Ora, o pecado de pura malícia não é um gênero especial de pecado, mas uma certa condição ou circunstância geral, que pode ser relativa a todos os gêneros de pecado. Logo, o pecado contra o Espírito Santo não é o mesmo que o de pura malícia.

Mas, em contrário, diz o Mestre das Sentenças, que o pecado contra o Espírito Santo é aquele cuja malicia por si mesma nos aprazo Ora, isto é pecar por pura malícia. Logo, o pecado de pura malícia é o mesmo que o pecado contra o Espírito Santo.

SOLUÇÃO. - Ha três opiniões sobre o pecado ou blasfêmia contra o Espírito Santo.

Assim, os antigos Doutores - Atanásio, Hilário, Ambrósio, Jerônimo e Crisóstomo ­dizem que há pecado contra o Espírito Santo, quando contra Ele se profere, literalmente, uma blasfêmia. Quer se considere o Espírito Santo como um nome essencial próprio de toda a Trindade, cada Pessoa da qual é espírito e é santo; quer como nome pessoal de uma das Pessoas da Trindade. E assim, a Escritura distingue a blasfêmia contra o Espírito Santo, da que vai contra o Filho do homem. Pois Cristo, enquanto, homem, praticava certos atos, como, comer, beber, e outros semelhantes. Mas também praticava outros como Deus; assim, quando expulsava os demônios, ressuscitava os mortos e outros tais. E estes os praticava por virtude da divindade própria e por obra do Espírito Santo, do qual tinha a sua humanidade a plenitude. Ora, os judeus, primeiro, blasfemaram contra o Filho do homem, chamando-lhe glutão, bebedor de pinho e amigo dos publicanos, como se lê na Escritura. Mas depois blasfemaram contra o Espírito Santo, atribuindo ao príncipe dos demônios as obras que ele fazia por virtude da divindade própria e por operação do Espírito Santo. E por isso diz-se que blasfemaram contra o Espírito Santo.

Agostinho, por seu lado, diz que a blasfêmia ou pecado contra o Espírito Santo é a impenitência final, consistente em perseverar no pecado mortal até a morte. O que se dá não só por palavra da boca, mas também, da mente, e das obras, não uma só, senão muitas. Tais palavras, pois, assim entendidas, consideram-se como contrárias ao Espírito Santo, por serem contra a remissão dos pecados, operada por esse Espírito, que é a caridade do Pai e do Filho. E nem o Senhor disse aos judeus que eles pecaram contra o Espírito Santo pois ainda não tinham caído na impenitência final; mas lhes advertiu que não fossem, continuando a falar como o faziam, a cometer o pecado contra tal Espírito. E esse é o sentido em que se deve entender o lugar da Escritura, onde, depois de o Evangelista ter dito - Mas o que blasfemar contra o Espírito Santo, etc. - acrescenta: Porquanto diziam: Está possesso do Espírito imundo. Outros porém são de opinião diferente e dizem que o pecado ou blasfêmia contra o Espírito Santo consiste em pecar contra o bem próprio d'Ele; pois a Ele é própria a bondade, como ao Pai, o poder, e ao Filho, a sabedoria. Por onde, o pecado contra o Pai consideram-no como pecado por fraqueza; o contrário ao Filho, por ignorância; e o que é contra o Espírito Santo, por pura malícia, isto é, pela eleição do mal, como já expusemos. E isto pode se dar de dois modos. Primeiro, por inclinação de um hábito vicioso, chamado malícia; e portanto pecar por malícia não é o mesmo que pecar contra o Espírito Santo. De outro modo, esse pecado pode ser cometido quando, por desprezo, rejeitamos e pomos de lado o que podia impedir a eleição do pecado; assim, quando rejeitamos a esperança, pelo desespero; o temor, pela presunção e procedemos de modos semelhantes, como a seguir se dirá. Ora, todos esses recursos que impedem a eleição do pecado, são efeitos do Espírito Santo em nós. Por onde, pecar assim, por malícia, é pecar contra o Espírito Santo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­– Assim como a confissão da fé consiste não só em afirmações orais, mas também nas das obras; assim, a blasfêmia contra o Espírito Santo pode ser considerada enquanto expressa pela boca, pela mente e pelas obras.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Na terceira acepção, a blasfêmia contra o Espírito Santo se distingue da que é contra o Filho do homem, por ser o Filho do homem também filho de Deus, isto é, a virtude e a sabedoria de Deus. Por onde, o pecado contra o Filho do homem será pecado de ignorância ou de fraqueza.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O pecado de pura malícia, quando proveniente de uma inclinação habitual, não é pecado especial, mas uma condição geral do pecado. Quando porém o cometemos por um desprezo especial do efeito do Espírito Santo em nós, constitui essencialmente um pecado especial. E a esta luz, também o pecado contra o Espírito Santo é um gênero especial de pecado. E do mesmo modo, quanto à primeira acepção. Mas quanto à segunda, não é um gênero especial de pecado; pois, a impenitência final pode ser circunstância de qualquer gênero de pecado.

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