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Artigo 7 - Se ao dom do intelecto corresponde a sexta bem-aventurança, a saber: Bem-aventurados os limpos de coração porque eles viram a Deus.

O sétimo discute-se assim. – Parece que ao dom do intelecto não corresponde a sexta bem-aventurança, a saber: Bem-aventurados os limpos de coração porque eles verão a Deus.

1 – Pois, a limpeza do coração parece dizer respeito sobretudo ao afeto, Ora, o dom do intelecto não pertence ao afeto, mas antes à potência intelectiva, Logo, a referida bem-aventurança não corresponde ao dom do intelecto.

2. Demais. – A Escritura diz: Purificando com a fé os seus corações, Ora, pela purificação do coração adquire-se a limpeza do mesmo. Logo, a referida bem-aventurança pertence mais à virtude da fé que ao dom do intelecto.

3. Demais. – Os dons do Espírito Santo aperfeiçoam o homem na vida presente. Ora, na vida presente não temos a visão de Deus, que nos torna bem-aventurados, como já se estabeleceu. Logo, a sexta bem-aventurança, implicando a visão de Deus, não pertence ao dom do intelecto.

Mas, em contrário, diz Agostinho. A sexta operação do Espírito Santo, que é o intelecto, convém aos limpos de coração, que, com os olhos purificados, poderão ver o que os olhos não veem.

SOLUÇÃO. – A sexta bem-aventurança, como as outras, contém duas coisas: uma, a modo de mérito, que é a pureza do coração; outra, a modo de prêmio, que é a visão de Deus como já dissemos. E ambas pertencem, de alguma maneira, ao dom do intelecto. Pois, há dupla espécie de pureza. – Uma, preambular e dispositiva à visão de Deus, a saber, a depuração do afeto, das afeições desordenadas. E essa pureza do coração opera-se pelas virtudes e pelos dons pertencentes à potência apetitiva. – Outra espécie de pureza do coração é a quase completiva, relativamente à visão divina. E essa é a pureza da mente, depurada dos fantasmas e dos erros, de modo que as verdades propostas por Deus não sejam recebidas a modo dos fantasmas corporais, nem segundo as falsidades heréticas. E esta pureza provém do dom do intelecto.

Semelhantemente, também há duas espécies de visão de Deus: uma perfeita, pela qual vemos a essência divina; outra, imperfeita, pela qual, embora não vejamos quem seja Deus, vemos contudo o que não é. E nesta vida, tanto mais perfeitamente o conheceremos, quanto mais compreendermos que excede a tudo quanto podemos apreender pelo intelecto. Ora, ambas essas visões pertencem ao dom do intelecto: a primeira, ao dom consumado do intelecto, tal como existirá na pátria; a segunda, ao dom do intelecto incoado, tal como o temos na via.

Donde se DEDUZEM CLARAS AS RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES. – Pois, as duas primeiras se fundam na primeira espécie de pureza; e a terceira, na perfeita visão de Deus. Ora, os dons, que nos aperfeiçoam, nesta vida, incoativamente, terão a sua plenitude no futuro, como já antes dissemos.

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