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Artigo 6 - Se o dom do intelecto se distingue dos outros dons.

O sexto discute-se assim. – Parece que o dom do intelecto não se distingue dos outros dons.

1 – Coisas com contrários iguais são iguais. Ora, a sabedoria se opõe à estultícia; ao embotamento, o intelecto; à precipitação, o conselho; à ignorância, a ciência, como está claro em Gregório Ora, a estultícia, o embotamento, a ignorância e a precipitação não diferem entre si. Logo, nem o intelecto se distingue dos demais dons.

2. Demais. – O intelecto, enquanto virtude intelectual difere das outras virtudes intelectuais, por lhe ser próprio versar sobre os princípios evidentes. Ora, o dom do intelecto não versa sobre nenhum princípio evidente. Pois, para conhecer o que naturalmente e em si mesmo é cognoscível basta o hábito natural dos primeiros princípios. E, para o sobrenatural, basta a fé, porque os artigos de fé versam sobre os como que primeiros princípios do conhecimento sobrenatural conforme se disse. Logo, o dom do intelecto não se distingue dos outros dons intelectuais.

3. Demais. – Todo conhecimento intelectual é especulativo ou prático. Ora, o dom do intelecto diz respeito a um e outro, como se disse. Logo, não se distingue dos outros dons intelectuais, mas os abrange a todos.

Mas, em contrário, todos os membros de uma enumeração devem, de certo modo, distinguir-se uns dos outros, pois a distinção é o princípio do numero. Ora, o dom do intelecto é enumerado entre os outros dons, segundo se vê na Escritura. Logo, o dom do intelecto é distinto dos outros.

Solução. – É manifesta a distinção entre o dom do intelecto e os outros três dons - a piedade, a fortaleza e o temor. Porque aquele pertence à potência cognitiva, ao passo que estes três, à potência apetitiva. Mas a diferença entre o dom do intelecto e os três seguintes - o da sabedoria, da ciência e do conselho, - que também pertencem à potência cognoscitiva, não é do mesmo modo manifesta. Assim, certos distinguem o dom do intelecto do da ciência e do conselho, por pertencerem os dois últimos ao conhecimento prático, e o primeiro, ao especulativo. E por outro lado, distinguem-no do dom da sabedoria, que também versa sobre o conhecimento especulativo, por versar sobre o juízo, ao passo que o intelecto respeita à capacidade de inteligir os objetos que lhe são propostos, ou, de lhes penetrar o íntimo. a esta luz fizemos antes a enumeração dos dons. – Mas quem considerar diligentemente verá que o dom do intelecto versa, não só sobre a especulação, mas ainda sobre as ações, como dissemos. E semelhantemente, também o dom da ciência versa sobre aquela e sobre estas, como a seguir se dirá. Por onde, é preciso fundar de outro modo a distinção entre os dons. Pois todos os quatro dons referidos se ordenam ao conhecimento sobrenatural, infundido em nós pela fé. Ora, como diz a Escritura, a fé é pelo ouvido Por onde, certas verdades devem ser propostas a serem cridas pelo homem, não enquanto objetos de intuição, mas, enquanto ouvidas e às quais ele adere pela fé. Ora, a fé, primária e principalmente, versa sobre a verdade primeira; secundariamente, sobre certas verdades relativas às criaturas; e enfim, também se estende à direção das ações humanas, enquanto praticadas pela caridade, como do sobredito e colhe. Por onde, em relação aos artigos propostos a serem cridos pela fé, duas condições são exigidas de nós. Primeiro, que sejam penetradas ou apreendidas pela inteligência; e isto constitui o dom do intelecto. Segundo, que as julguemos retamente, considerando que lhes devemos aderir, afastando-nos do que lhes é oposto. Ora, esse juízo, no concernente às coisas divinas, pertence ao dom da sabedoria; no relativo às coisas criadas, ao dom da ciência; e enfim, quanto à aplicação às ações particulares, ao dom do conselho.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ A referida diferença entre os quatro dons convém manifestamente à distinção entre as oposições aos mesmos, segundo Gregório. - Pois, o embotamento se opõe à acuidade. Por isso, se chama por semelhança, agudo ao intelecto, quando pode penetrar o íntimo dos objetos que lhes são propostos; ao contrário, o embotamento faz com que a mente não lhes possa penetrar esse íntimo. - Em seguida, estulto se chama ao intelecto, que julga erradamente sobre o fim comum da vida. Por isso, opõe-se propriamente à sabedoria, que torna reto o juízo sobre a causa universal. - A ignorância, por seu lado, implica deficiência da mente, mesmo em relação a quaisquer particularidades. Por isso se opõe à ciência, que possibilite ao homem o juízo reto sobre as causas particulares, isto é, sobre as criaturas. - A precipitação, enfim, manifestamente se opõe ao conselho, que nos leva a não agirmos antes da deliberação racional.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O dom do intelecto é relativo aos primeiros princípios do conhecimento gratuito. De modo diferente, porém, que a fé. Pois, esta faz assentir neles; ao passo que ao dom do intelecto pertence penetrar pela mente o que é dito.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O dom do intelecto versa tanto sobre o conhecimento especulativo como sobre o prático. Não, quanto ao juízo, mas quanto à apreensão, para que seja compreendido o que é dito.

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