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Art. 1 – Se a religião implica o estado de perfeição.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a religião não implica o estado de perfeição.

1. – Pois, o que é de necessidade para a salvação não pertence ao estado de perfeição. Ora, a religião é de necessidade para a salvação, porque como diz Agostinho, por ela nós nos unimos ao verdadeiro Deus. Ou a religião assim se chama por termos reelegido Deus, que por nossa negligência perdemos, segundo ainda Agostinho. Logo, parece não designa a religião nenhum estado perfeito.

2. Demais. – A religião, segundo Túlio, é que nos leva a prestar o culto e as cerimônias devidas à natureza divina. Ora, prestar culto a Deus e as cerimônias devidas parece ser próprio, antes, ao ministério das ordens sacras do que à diversidade dos estados, como do sobredito resulta. Logo, parece que não designa a religião um estado de perfeição.

3. Demais. – O estado de perfeição distingue–se por oposição ao dos principiantes e dos proficientes. Ora, também na religião há certos que são principiantes e outros, proficientes. Logo, a religião não designa nenhum estado de perfeição.

4. Demais. – A vida religiosa é uma vida de penitência. Pois, diz um cânone: O santo sínodo ordena que todo aquele que, da dignidade pontifical, descer para a vida monacal e de penitência, já não volte para o pontificado. Ora, a vida de penitência se opõe ao estado de perfeição; por isso Dionísio coloca os penitentes num lugar ínfimo, isto é, entre os que se purificam. Logo, parece não ser a religião um estado de perfeição.

Mas, em contrário, diz o Abade Moisés, falando dos religiosos: Os jejuns, as vigílias, os trabalhos corpóreos, a nudez, a leitura e as demais virtudes sabemos que as devemos praticar como outros tantos degraus pelos quais possamos ascender à perfeição da caridade. Ora, os atos humanos se especificam e se denominam pelo fim a que tendem. Logo, os religiosos estão num estado de perfeição. E Dionísio também diz que os chamados servos de Deus estão unidos à amável perfeição pelo puro serviço divino o que se sujeitam.

SOLUÇÃO. – Como do sobredito resulta, o que convém em comum a muitos atribui–se antonomasticamente àquilo a que convém por excelência. Assim, o nome de fortaleza vindica–o para si aquela virtude que nos faz conservar a firmeza de alma em face dos maiores perigos; e propriamente se chama temperança àquela virtude que regula o gozo dos prazeres por natureza mais intensos. Ora, a religião, como estabelecemos, é uma virtude, pelo qual nos dedicamos ao serviço e ao culto de Deus. Donde o se chamarem por antonomásia religiosos os que totalmente se consagram ao serviço divino, quase oferecendo–se em holocausto a Deus. Por isso diz Gregório: Há pessoas que nada reservam para si; mas imolam a Deus onipotente os sentidos, a língua, a vida e a substância, que receberam, ao Senhor onipotente. Ora, a perfeição do homem consiste em unir–se totalmente a Deus, como do sobredito se colhe. E, assim sendo, a religião designa um estado de perfeição.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Prestar um culto a Deus é de necessidade para a salvação; mas constitui perfeição o consagrar–se alguém totalmente a si e aos seus bens ao culto divino.

RESPOSTA À SEGUNDA. Como dissemos, quando tratamos da virtude de religião, a esta pertence não só fazer oblações de sacrifícios e coisas semelhantes, que são próprias dela, mas também a prática de todos os atos virtuosos, enquanto referidos do serviço e à honra de Deus. E assim, quem consagra toda a sua vida ao serviço divino, a dedica totalmente à religião. Por onde, pela vida religiosa, que levam, chamam–se religiosos os que vivem no estado de perfeição.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Como dissemos, a religião designa um estado de perfeição tendente a um certo fim. Por onde, não é necessário que aquele que vive em religião já seja perfeito, mas, que tenda para a perfeição. Por isso, àquilo do Evangelho – Se queres ser perfeito ­ diz Orígenes: Quem preferiu a pobreza às suas riquezas, para tornar–se perfeito, nem por isso perfeito se tornou de todo no momento mesmo em que distribuiu os seus bens aos pobres; mas, desde esse dia, a meditação nas causas de Deus começou a levá–lo à prática de todas as virtudes. E deste modo, nem todos os que vivem em religião são perfeitos; mas, uns são principiantes e outros, proficientes.

RESPOSTA À QUARTA. – O estado religioso foi principalmente instituído para se alcançar a perfeição, por meio de certos exercícios, que eliminam os impedimentos à caridade perfeita. Ora, eliminados os impedimentos à perfeita caridade, cortam–se muito mais pela raiz as ocasiões do pecado, que totalmente nos privam delas. Por onde e consequentemente como o fim da penitência é eliminar as causas do pecado, o estado religioso é um estado mui apropriado à penitência. Por isso, a um certo, que matara a mulher, o direito lhe aconselha entrar, antes, para um mosteiro, considerado como um meio melhor e mais leve de fazer penitência do que fazê–la publicamente, permanecendo no século.

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