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Art. 2 – Se na Igreja deve haver diversidade de ofícios ou de estados.

O segundo discute–se assim. – Parece que na Igreja não deve haver diversidade de ofícios ou de estados.

1. – Pois, a diversidade repugna à unidade. Ora, os fiéis de Cristo são chamados à unidade, segundo o Evangelho: Para que eles sejam um em nós como nós somos um. Logo, na Igreja não deve haver diversidade de ofícios ou de estados.

2. Demais. – A natureza não faz por muitos meios o que pode fazer por um só. Ora, a ação da graça é muito mais ordenada que a da natureza. Logo, seria mais conveniente, que o pertencente aos atos da graça fosse administrado pelos mesmos homens, sem que houvesse na Igreja diversidade de ofícios ou de estados.

3. Demais. – O bem da Igreja consiste sobretudo na paz, conforme a Escritura: O que estabeleceu a paz nos teus limites. E o Apóstolo: Tende a paz e o Deus da paz estará convosco. Ora, a diversidade é um obstáculo para a paz, que parece causada pela semelhança, segundo a Escritura: Todo animal ama ao seu semelhante. E o Filósofo diz que uma pequena diferença provoca o dissídio na cidade. Logo, parece que não deve haver na Igreja diversidade de estados e de ofícios.

Mas, em contrário, a Escritura diz, em louvor da Igreja, que está toda vestida de vários adornos. O que explica a Glosa: A Rainha, isto é, a Igreja, está ornada pela doutrina dos Apóstolos, pela confissão dos mártires, pela pureza das virgens e pelas lágrimas dos penitentes.

SOLUÇÃO. – A diversidade dos estados e dos ofícios na Igreja se explica por três razões. ­ Primeiro, para a perfeição da própria Igreja. Pois, assim como, na ordem dos seres naturais, a perfeição absoluta e uniforme de Deus não pode existir senão diversa e multiplicadamente na universalidade das criaturas, assim também a plenitude da graça, unificada em Cristo, que é a cabeça, redunda diversamente para os seus membros afim de ser perfeito o corpo da Igreja. E é o que o Apóstolo diz: sie mesmo fez a uns certamente apóstolos e a outros profetas e a outros evangelistas e a outros pastores e doutores para a consumação dos santos. – Segundo, por força das atividades necessárias à Igreja. Pois, atos diversos hão de ser praticados por homens diversos, para que tudo se faça expeditamente e sem confusão. Talo diz o Apóstolo: Da maneira que em um corpo temos muitos membros, mas todos os membros não têm uma mesma função, assim, ainda que muitos somos um só corpo em crista. – Terceiro, por assim o exigir a dignidade e a pulcritude da Igreja, fundada numa certa ordem. Donde o dizer a Escritura, que vendo a rainha de Sabá toda a sabedoria de Salomão – os aposentos dos seus oficiais e as diversas classes dos que os serviam, estava toda transportada. E por isso o Apóstolo também diz: Numa grande casa não há somente vasos de ouro e de prata, mas também vasos de pau e de barro.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A diversidade dos estados e dos ofícios não impede a unidade da Igreja, que se consuma pela unidade da fé, da caridade e do auxilio mútuo. Dí–lo o Apóstolo: Do qual todo o corpo coligado, isto é, pela fé, e unido, isto é, pela caridade, por todas as juntas por se lhe subministrar, isto é, servindo uns aos outros.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Assim como a natureza não faz por muitos meios o que pode fazer por um só, assim também não concentra num só o que deve ser executado por muitos, segundo aquilo do Apóstolo: Se o corpo todo fosse olho, onde estaria o ouvido? Por isso é necessário na Igreja, que é o corpo de cristo, diversificarem–se os membros pelos diversos ofícios, estados e graus.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Assim como os diversos membros do corpo físico são reduzidos à unidade pela virtude do espírito vivificante, cuja separação acarreta a dos membros do corpo, assim também, no corpo da Igreja, conserva–se a paz dos diversos membros por virtude do Espírito Santo, que o vivifica. Por isso diz o Apóstolo: Trabalhando cuidadosamente por conservar a unidade d'espírito pelo vínculo da paz. Ora, divorcia–se dessa unidade do Espírito quem busca o bem que a si lhe é próprio; assim como desaparecerá a paz da cidade terrena se cada cidadão só tratar dos seus interesses particulares. Ao contrário, a distinção dos ofícios e dos estados conservará tanto mais a paz da alma como da cidade terrena, quanto tornou assim mais numerosos os participantes da atividade pública. Por isso diz o Apóstolo: Deus atemperou o corpo para que não haja cisma no corpo mas antes conspirem mutuamente todos os membros a se ajudarem uns aos outros.

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