Skip to content

Art. 3 – Se a vida ativa impede a contemplativa.

O terceiro discute–se assim. – Parece que a vida ativa impede a contemplativa.

1. – Pois, a vida contemplativa exige uma certa quietude da alma, conforme a Escritura: Cessai e vede que eu sou o Deus. Ora, a vida ativa é cheia de agitações, segundo o Evangelho: Marta, Marta, tu andas muito inquieta e te embaraças com o cuidar em muitas coisas. Logo, a vida ativa impede a contemplativa.

2. Demais. – A vida contemplativa exige uma visão clara. Ora, essa visão clara fica impedida pela vida ativa: assim, diz Gregório, que Lia é de olhos remelosos e fecunda, porque, preocupada com o agir, vê menos. Logo, a vida ativa impede a contemplativa.

3. Demais. – Um contrário impede outro. Ora, parece que a vida ativa e a contemplativa são contrárias entre si; pois, a vida ativa se ocupa com muitas coisas, ao passo que a contemplativa se emprega toda numa só, e por isso se separa uma da outra. Logo, parece que a vida ativa impede a contemplativa.

Mas, em contrário, diz Gregório: Os que desejam ocupar a cidadela da contemplação exerçam–se primeiro no campo da ação.

SOLUÇÃO. – A dupla luz pode ser considerada a vida ativa. – Primeiro quanto à aplicação mesma aos atos externos e ao exercício deles. E então é manifesto que a vida ativa impede a contemplativa, por ser impossível nos darmos à atividade exterior e simultaneamente vacarmos à divina contemplação. – De outro modo podemos considerar a vida ativa pela composição e pela ordem que ela introduz nas paixões inferiores da alma. E então, como as paixões desordenadas impedem a vida contemplativa, a vida ativa favorece a contemplação. Por isso diz Gregório: Os que desejam ocupar a cidadela da contemplação exerçam–se primeiro no campo da ação. Para que examinem com o maior cuidado se já não fazem nenhum mal ao próximo; se suportam com equanimidade os males que eles lhes fazem; se, renunciando aos bens exteriores, não se entregam de toda a alma, a uma alegria desordenada; se, ao perdê–los, não se deixam acabrunhar pela desgraça; que examinem mais se, ao se concentrarem em si mesmos para meditar nas coisas espirituais, excluem totalmente de si as sombras das coisas corporais; ou se pelo menos sabem afastar com mão discreta essas sombras importunas. Pois assim, o exercício da vida ativa contribui para a contemplativa, aquietando as paixões internas, donde provêm os fantasmas, que impedem a contemplação.

DONDE SE DEDUZEM CLARAS AS RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES. – Pois, essas objecções procedem quanto à aplicação mesma da alma aos atos externos; não porém quanto ao efeito dela, que é a moderação das paixões.

AdaptiveThemes