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Art. 4 – Se a vida ativa perdura após esta vida.

O quarto discute–se assim. – Parece que a vida ativa não perdura após esta vida.

1. – Pois, à vida ativa pertencem os atos das virtudes morais, como se disse. Ora, as virtudes morais perduram após esta vida segundo Agostinho. Logo, parece que a vida ativa também perdura após esta vida.

2. Demais – Ensinar os outros pertence à vida ativa, como se disse. Ora, na vida futura, em que seremos semelhantes aos anjos, poderá se exercer a doutrina. Assim como também a exercem os anjos pois uns iluminam, purificam e aperfeiçoam os outros, o que implica a transmissão da ciência como esta claro em Dionísio. Logo, parece que a vida ativa perdura depois desta vida.

3. Demais. – O que em si mesmo é mais durável parece que mais é capaz de durar, depois desta vida. Ora, a vida ativa parece mais durável, em si mesma; pois, diz Gregório, que podemos permanecer fixos na vida ativa; ao contrário, conservar a contenção do espírito, na contemplativa, de nenhum modo o podemos. Logo, muito mais que a contemplativa, pode a vida ativa permanecer depois desta vida.

Mas, em contrário, diz Gregório: Passada esta vida, com ela desaparece a vida ativa; ao contrário, começa da nesta vida, a vida contemplativa se consuma na pátria celeste.

SOLUÇÃO. – Como dissemos, a vida ativa tem o seu fim nos atos externos; os quais, referidos à quietude da contemplação, já pertencem à vida contemplativa. Ora, na vida futura dos bem–aventurados cessará toda prática de atos externos, e se alguns deles existirem serão todos referidos ao fim da contemplação. Pois, como diz Agostinho, lá descansaremos e veremos; veremos e amaremos; amaremos e louvaremos. E na mesma obra já tinha dito, que no céu Deus será contemplado sem fim, sem tédio será amado, e louvado, sem fatiga; essa será a função, esse o afeto, essa a atividade de todos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Como dissemos, as virtudes morais permanecerão, não pelos atos em que escolhem os meios, mas pelos que se referem ao fim. Ora, esses atos são os pelos quais constituem a quietude da contemplação. A qual Agostinho, nas palavras referidas, exprime pelo vocábulo repouso, significativa não só da ausência de toda agitação exterior, mas também da perturbação interior das paixões.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A vida contemplativa, como dissemos, consiste sobretudo na contemplação de Deus. E então um anjo não pode ensinar a outro, porque, como diz o Evangelho, estão incessantemente vendo a face do Pai, referindo aos anjos da guarda das crianças, que são de ordem inferior. Assim também, na vida futura, nenhum homem ensinará nada a outro sobre Deus, mas todos o veremos como ele é. E é o que está na Escritura: Não ensinará daí em diante varão ao seu próximo, dizendo – conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão desde o mais pequeno deles até ao maior. – Mas, no atinente à dispensação dos mistérios de Deus, um anjo ensinará o outro, purificando–o, iluminando–o e aperfeiçoando–o. E, então, praticarão certos atos da vida ativa, enquanto durar o mundo, por se aplicarem ao governo das criaturas inferiores. O que é simbolizado pela visão de Jacó, da escada por onde subiam os anjos, expressão da vida contemplativa, e por onde desciam expressão da vida ativa. Mas, como explica Gregório, eles não se apartam da visão divina de modo a ficarem privados das alegrias da contemplação interna. Por isso neles não se distingue a vida ativa da contemplativa, como em nós, que ficamos impedidos da contemplação pelos atos da vida ativa. – Mas, não nos é prometida a semelhança com os anjos quanto ao governo das criaturas interiores, que não nos cabe pela ordem da nossa natureza, como o cabe aos anjos, mas, pela visão de Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A durabilidade da vida ativa, que em o nosso estado presente excede a da vida contemplativa, não provém da natureza dessas vidas em si mesmas consideradas; mas, da vossa deficiência, impedidos que estamos de subir às alturas da contemplação, pela materialidade do nosso corpo. Por isso Gregório acrescenta, no mesmo lugar: Arrastada pela sua própria fraqueza, da imensidade de tão grande altura, a alma recai sobre si mesma.

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