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Art. 5 – Se os bem–aventurados têm algum grau de profecia.

O quinto discute–se assim, – Parece que também os bem–aventurados têm algum grau de profecia.

1. – Pois, Moisés, como se disse, viu a essência divina, e contudo é chamado profeta. Logo, pela mesma razão também os bem–aventurados merecem sê–lo.

2. Demais. – A profecia é uma revelação divina. Ora, revelações divinas também se fazem por meio dos santos anjos. Logo, também os santos anjos podem chamar–se profetas.

3. Demais. – Cristo contemplou a essência divina desde o instante da sua concepção, e contudo ele se chama a si mesmo profeta, quando diz: Não há projeta sem honra senão na sua pátria. Logo, também os bem–aventurados, que contemplam a divina essência, podem se chamar profetas.

4. Demais. – A Escritura diz de Samuel: Saindo da terra, levantou a sua voz, profetizando o golpe que estava para se descarregar sobre a impiedade da nação. Logo, pela mesma razão, os outros santos, depois da morte, podem chamar­se profetas.

Mas, em contrário, a Escritura compara a palavra profética a uma tocha que alumia em um lugar tenebroso. Ora, no reino dos bem–aventurados não há nenhuma treva. Logo, não podem chamar–se profetas.

SOLUÇÃO. – A profecia supõe certa visão de uma verdade sobrenatural, enquanto afastada do conhecimento do profeta. O que de dois modos se dá. – Primeiro, quanto ao conhecimento em si, pois, a verdade sobrenatural não é conhecida em si mesma mas por certos de seus efeitos; e tanto mais afastada estará, da nossa compreensão se a conhecermos por meio de figuras das coisas corpóreas, mais do que pelos seus efeitos inteligíveis. E tal é por excelência a visão profética operada por meio de imagens das coisas corpóreas. – De outro modo, a visão está afastada da inteligência, quanto ao vidente mesmo que a vê, pois, ainda não foi levado totalmente à última perfeição, conforme àquilo do Apóstolo: Enquanto estamos no corpo vivemos ausentes do Senhor. – Ora, de nenhum destes dois modos os bem–aventurados estão afastados. Logo, não podem chamar–se profetas.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A referida visão de Moisés foi passageira, a modo de paixão, e não permanente, como a da bem–aventurança. E assim, era um vidente que via de longe. E por isso, uma tal visão não é totalmente alheia ao que constitui em essência a profecia.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A revelação divina é feita aos anjos, não como a quem está longe, mas como já totalmente unidos a Deus. Por isso, essa revelação em nada participa da essência da profecia.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Cristo ao mesmo tempo vivia neste mundo e contemplava a essência divina. Ora, enquanto a contemplava, não podia ser profeta; mas só, enquanto vivia esta vida.

RESPOSTA À QUARTA. – Também Samuel ainda não tinha chegado ao estado da bem–aventurança. Por onde, constitui profecia o ter a alma de Samuel, por vontade de Deus, predito a Saul o evento da guerra, pela revelação divina que lhe foi feita. Mas, o mesmo não se dá com os santos, que estão agora na pátria. – Nem obsta que se atribua esse fato à arte dos demônios. Pois, embora os demônios não possam evocar a alma de nenhum santo, nem obrigá–la a fazer nada, pode contudo isso dar–se por virtude divina. De modo que, quando o diabo é consultado, Deus mesmo seja quem, por um enviado seu, anuncie a verdade; como quando, por meio de Elias, anunciou a verdade aos mensageiros do rei, enviados a consultar o deus Accaron, como se lê na Escritura. – Embora também possa dizer–se, que não foi a alma de Samuel, mas o demônio, falando em nome dela. E é porque o Sábio lhe dá o nome de Samuel e chama às suas palavras, proféticas, por ser tal a opinião de Saul e dos que o rodeavam.

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