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Art. 3 – Se a profecia supõe uma disposição natural.

O terceiro discute–se assim. – Parece que a profecia supõe uma disposição natural.

1. – Pois, a profecia o profeta a recebe conforme a disposição dele. Assim, aquilo da Escritura. – O Senhor surgirá de Sião – diz a glosa de Jerônimo: É natural, que todos os que querem comparar uma causa com outra tirem as suas comparações das causas de que tem experiência e no meio dos quais foram criados; por exemplo, é natural aos navegantes compararem os seus inimigos com os ventos e o dano sofrido, com o naufrágio. Do mesmo modo Amós, que foi pastor de Tebanhos, compara o temor de Deus ao rugido do leão. Ora, o que é recebido por um ser, ao modo do recipiente, supõe uma disposição natural. Logo, a profecia supõe uma disposição natural.

2. Demais. – A especulação da profecia é mais alta que a da ciência adquirida. Ora, uma indisposição natural impede a especulação da ciência adquirida; pois, muitos, por indisposição natural, não podem chegar a possuir as ciências especulativas, Logo, com maior razão, é ela necessária à contemplação profética.

3. Demais. – Uma indisposição natural causa–nos maior embaraço que um impedimento acidental. Ora, um obstáculo acidental sobreveniente pode impedir a especulação profética. Assim, diz Jerónimo: A prática do ato conjugal priva da presença do Espírito Santo, mesmo se for profeta quem pratique tal ato. Logo, com maior razão, uma indisposição natural impede a profecia. Donde resulta que a profecia exige uma boa disposição natural.

Mas, em contrário, Gregório diz: O Espírito Santo é quem inspira o jovem Citaredo e dele faz um psalmista; e transforma em projeta o pastor de rebanhos, que se nutre de discômoros. Logo, a profecia não exige nenhuma boa disposição precedente, mas depende só da vontade do Espírito Santo, do qual diz o Apóstolo: Um mesmo Deus é o que obra tudo em todos e a cada um dá como quer.

SOLUÇÃO. – Como dissemos, a profecia verdadeira e absolutamente falando, provém da inspiração divina; e só acidentalmente se chama tal a procedente de uma causa natural. Mas, devemos considerar, que Deus, causa agente universal, não tem necessidade de qualquer matéria preexistente nem de nenhuma disposição material para produzir um efeito corpóreo, senão que pode causar a matéria e infundir nela uma disposição e uma forma. Assim também, para produzir um efeito espiritual não necessita de nenhuma disposição preexistente, mas pode, simultaneamente com o efeito espiritual, imprimir a disposição conveniente, como o exige a ordem da natureza. E ulteriormente poderia também criar o próprio sujeito, de modo a dispor, para a profecia a alma que criou e dar–lhe a graça de profetizar.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – São indiferentes, numa profecia, as comparações expressivas da realidade profética, sejam elas quais forem. Por isso, a ação divina, na profecia, não causa nenhuma mudança no profeta; mas, a virtude divina dele remove o que repugnar à profecia.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A especulação científica é produzida por uma causa natural. Ora, a natureza não pode obrar senão por uma disposição preexistente na matéria. O que não se pode dizer de Deus, causa da profecia.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Uma indisposição natural não removida poderia impedir a revelação da profecia; tal o caso de quem fosse inteiramente destitui do dos sentidos naturais. Assim como também impedirá o ato de profetizar uma paixão veemente, como a ira ou a concupiscência, como esta se manifesta no coito, ou qualquer outra paixão. Mas essa indisposição natural a remove a virtude divina, causa da profecia.

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