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Art. 1 – Se a profecia pertence ao conhecimento.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a profecia não pertence ao conhecimento.

1 – Pois, diz a Escritura, que o corpo de Eliseu ainda depois de morto profetizou; e, mais abaixo, diz, de José, que os seus ossos foram visitados, e depois da sua morte profetizavam. Ora, nem o corpo nem os ossos têm qualquer conhecimento, depois da morte. Logo, a profecia não pertence ao conhecimento.

2. Demais. – O Apóstolo diz: O que profetiza fala aos homens para sua edificação. Ora, a fala é efeito do conhecimento, mas não é o conhecimento mesmo. Logo, parece que a profecia não pertence ao conhecimento.

3. Demais. – Todo conhecimento perfeito exclui a loucura e a insensatez. Ora, tanto uma como outra podem coexistir com a profecia: pois, diz a Escritura: Sabe Israel, que os teus profetas são uns loucos, uns homens insensatos. Logo, a profecia não é um conhecimento perfeito.

4. Demais. – Assim como a revelação é própria do intelecto, assim, a inspiração parece própria do afeto, porque implica uma certa moção. Ora, Cassiodoro, afirma ser a profecia uma inspiração ou revelação. Logo, parece que a profecia não é objeto, antes, do intelecto, que do afeto.

Mas, em contrário, a Escritura: Aquele que hoje se chama profeta se chamava então vidente.

Ora, a visão implica o conhecimento. Logo, a profecia pertence ao conhecimento.

SOLUÇÃO. – A profecia, primária e principalmente consiste num conhecimento; porque os profetas conhecem o que de muito sobrepuja o conhecimento humano. Por isso, a palavra profeta é derivada de fanós, isto é, aparição; porque manifestam certas cousas, remotas. Por onde, diz Isidoro: No antigo testamento, chamavam–se videntes, por verem o que não viam os outros e lobrigarem causas ocultas no mistério. Por isso, a gentilidade lhes chamava vates, palavra derivada de expressão latina vis mentis.

Mas, o Apóstolo diz: A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito; e mais abaixo: Procurai abundar neles para a edificação da Igreja. Por onde, a profecia consiste secundariamente na palavra, porque os profetas anunciam, para a edificação dos outros, aquilo que conhecem, ensinados por Deus, conforme o diz a Escritura: O que eu ouvi ao Senhor dos exércitos, ao Deus de Israel, isso mesmo vos tenho anunciado. E sendo assim, os profetas podem chamar–se, diz Isidoro, uns quase premonitores, porque anunciam de antemão, isto é, falam de causas longínquas, e predizem a verdade sobre o futuro.

Ora, as coisas superiores ao conhecimento e reveladas por Deus, não podem ser confirmadas pela razão humana, que sobrexcedem; mas, por obra do poder divino, segundo o Evangelho: Pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a sua pregação com os milagres que a acompanhavam. Por onde e em terceiro lugar, é próprio da profecia obrar milagres, como uma confirmação da afirmação profética. Donde o dizer a Escritura: Não se levantou mais em Israel profeta algum como Moisés, com quem o Senhor tratasse cara a cara, nem semelhante em sinais e portentos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – As autoridades aduzidas se referem à profecia quanto a este terceiro elemento assumido como argumento dela.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O apóstolo, nesse lugar, se refere à enunciação profética.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Os chamados profetas loucos e insensatos não são verdadeiros. mas falsos profetas, dos quais diz a Escritura: Não queirais ouvir as palavras dos profetas, que vos profetizam e vos enganam; falam as visões do seu coração, não da boca do Senhor. E noutro lugar: Isto diz o Senhor: Ai dos projetas insensatos, que seguem o seu próprio espírito e não veem nada.

RESPOSTA À QUARTA. – A profecia exige que a intenção do espírito do profeta se eleve para perceber as coisas divinas. Por isso, diz Ezequiel: Filho do homem, põe–te sobre os teus pés e eu falarei contigo. Ora, esta elevação intencional opera pela moção do Espírito Santo; é porque no mesmo lugar se acrescenta: E entrou em mim o Espírito e me firmou sobre os meus pés. Só depois que a intenção do seu espírito se elevou para o alto, é que percebe as coisas dinas, conforme as palavras que se seguem: E ouvi ao que me falava. Assim, pois, a profecia requer a inspiração, quanto à elevação do espírito, segundo aquilo da Escritura: A inspiração do Todo Poderoso dá a inteligência. E requer a revelação, no concernente à percepção mesma das coisas divinas, pela qual se completa a profecia; e por ela se remove o velame da obscuridade e da ignorância, conforme o lugar: Que tira das trevas o que estava escondido.

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