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Art. 4 – Se a abstenção total dos divertimentos constitui pecado.

O Quarto discute–se assim. – Parece que a abstenção total dos divertimentos não constitui pecado.

1. – Pois, nenhum pecado pode ser imposto como penitência. Ora, Agostinho diz, falando do penitente: Coíba–se dos divertimentos, dos espetáculos do século, quem quiser conseguir a graça perfeita da remissão. Logo, a abstenção total dos divertimentos não constituí nenhum pecado.

2. Demais. – Nenhum santo jamais recomendou o pecado. Ora, certos recomendaram a abstenção dos divertimentos. Assim, diz a Escritura: Não me assentei no congresso dos escarnecedores. E noutro lugar: Nunca me comuniquei com os que folgavam, nem tive comércio com os que se conduziam com leviandade. Logo, na abstenção total dos divertimentos não pode haver pecado.

3. Andronico define a austeridade, que enumera entre as virtudes, o hábito pelo qual não damos aos outros o prazer da nossa conversacão, nem neles o recebemos. Ora, isto constitui a abstenção dos divertimentos. Logo, essa abstenção constitui, antes, uma virtude que um vício.

Mas, em contrário, o Filósofo considera viciosa a abstenção dos divertimentos.

SOLUÇÃO. – Tudo o que, na ordem humana, e contra a razão é vicioso. Ora, é contra a razão tornarmo–nos causa de penas para os outros, não lhes causando nenhum prazer e impedindo o prazer deles. Donde o dizer Séneca: Conduze–te sabiamente, de modo que ninguém te considere como áspero nem te condene como vil. Ora, os que se privam de todos os divertimentos sobre não dizerem palavra, que provoque o riso, são molestos aos que o fazem, por não consentirem nos divertimentos moderados dos outros. E por isso esses tais são viciosos – chamados duros e agrestes, pelo Filósofo.

Mas, sendo os divertimentos úteis pelo repouso e pelo prazer, que causam; e como o prazer e o repouso não os buscamos em nossa vida, por eles mesmos, mas, em vista da ação, como ensina Aristóteles, por isso, a abstenção dos divertimentos é menos viciosa, que o superexcesso deles. Donde o dizer o Filósofo, que, para o nosso prazer, bastam poucos amigos; pois, para vivermos bastam–nos, quase como condimento, poucos amigos, assim como pouco sal basta para a comida.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Como se impõe aos penitentes, que chorem os seus pecados, assim, se lhes proíbem os divertimentos. Nem isto implica em abstenção total deles, pois, a razão mesma exige, que lhes sejam eles diminuídos.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Jeremias, no lugar aduzido, se exprime conforme a congruência dos tempos, cuja situação exigia sobretudo o pranto. Por isso acrescenta: Eu estava sentado só, porquanto me encheste de amargura. – Quanto às palavras de Tobias, elas se referem aos divertimentos excessivos, como é claro pela sequência: Nem tive comércio com os que se conduziam com leviandade.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A austeridade, como virtude, não exclui todos os prazeres, senão só os supérfluos e os desordenados. Por onde, pertence à afabilidade, chamada pelo Filósofo amizade; ou à eutrapélia ou amabilidade. E contudo ele a nomeia e a define peja sua conveniência com a temperança, a que pertence regular o prazer.

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