Skip to content

Art. 1 – Se a matéria da estudiosidade é propriamente o conhecimento.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a matéria da estudiosidade não é propriamente o conhecimento.

1 – Pois, diz–se de alguém que é estudioso por aplicar–se a alguma coisa. Mas a qualquer matéria deve o homem aplicar–se para fazer retamente o que deve ser feito. Logo, parece que o conhecimento não é matéria especial da estudiosidade.

2. Demais. – A estudiosidade se opõe à curiosidade. Ora, a palavra curiosidade, derivada de cura, pode também referir–se ao ornato do vestuário e a coisas semelhantes, relativas ao corpo. Donde o dizer o Apóstolo: Não façais caso da carne em seus apetites. Logo, a estudiosidade não tem como objeto próprio só o conhecimento.

3. Demais.  – A Escritura diz: Desde o mais pequeno até o maior todos estão entregues é avareza. Ora, o objeto próprio da avareza não é o conhecimento, mas antes a posse das riquezas, como dissemos. Logo, a estudiosidade, palavra derivada de estudo, não tem como matéria própria o conhecimento.

Mas, em contrário, a Escritura: Trabalha filho meu, por adquirir a sabedoria, e alegra o meu coração, afim de poderes responder ao que te impropera. Ora, a mesma estudiosidade louvada como virtude é aquela à qual a lei convida. Logo, a estudiosidade tem como sua matéria própria o conhecimento.

SOLUÇÃO. – O estudo supõe propriamente uma aplicação veemente do espírito a um objeto. Ora, a nenhum objeto o espírito se aplica, que não o conheça. Por onde, primeiro é espírito se aplica ao conhecimento; segundo, àquilo a que é levado, pelo conhecimento. Por isso, o estudo busca primeiramente o conhecimento e, secundariamente, a tudo o mais que para o realizarmos, precisamos da direção do conhecimento. Ora; às virtudes propriamente se lhe atribui a matéria sobre a qual primária e principalmente recaem. Assim, a fortaleza tem como sua matéria os perigos mortais; e a temperança, os prazeres do tato. Logo, a estudiosidade tem como objeto próprio o conhecimento.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ Não podemos agir retamente, em relação a outras matérias, se não for o nosso ato preordenado pelo conhecimento da razão. Por isso a estudiosidade visa, primeiro, o conhecimento seja qual for a matéria a que apliquemos o nosso estudo.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O desejo leva a alma do homem a buscar o desejado, conforme aquilo do Evangelho: Onde está o teu tesouro aí está também o teu coração. E como sobretudo buscamos aquilo a que a carne nos impele, há de por consequência o nosso conhecimento versar sobre os desejos da carne, de modo a inquirirmos o melhor modo de lhe podermos servir a ela. E, assim, a curiosidade tem como objeto o que respeita a carne, em razão daquilo que pertence ao conhecimento.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A avareza se esforça por conseguir lucros, para o que é sobretudo necessária uma certa experiência das coisas terrenas. E, assim, o estudo é atribuído aos bens a que se reporta a avareza.

AdaptiveThemes