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Art. 7 – Se a soberba é o primeiro de todos os pecados.

O sétimo discute–se assim. – Parece que a soberba não é o primeiro de todos os pecados.

1. – Pois, o que é primeiro se manifesta em tudo o que se lhe segue. Ora, nem todos os pecados são acompanhados da soberba e nem dela nascem; assim, como diz Agostinho, fazemos muitos atos maus, sem os praticarmos por soberba. Logo, a soberba não é o primeiro de todos os pecados.

2. Demais. – A Escritura diz: O princípio da soberba do homem é o apostatar de Deus. Logo, a apostas ia de Deus é anterior à soberba.

3. Demais. – Parece ser a ordem dos pecados correlata à das virtudes. Ora, a primeira das virtudes não é a humildade, mas, a fé. Logo, a soberba não é o primeiro dos pecados.

4. Demais. – O Apóstolo diz: Os homens maus e impostores irão em pior; donde se vê que o princípio da malícia do homem não está no máximo dos pecados. Ora, a soberba é o máximo dos pecados, como se disse. Logo, não é o primeiro dos pecados.

5. Demais – O aparente e ficto é posterior à realidade verdadeira. Ora, como diz o Filósofo, o soberbo finge coragem e audácia. Logo, o vicio da audácia é anterior ao da soberba.

Mas, em contrário, a Escritura: O princípio de todo pecado é a soberba.

SOLUÇÃO. – O essencial é em todos os gêneros, o que vem em primeiro lugar. Ora, como dissemos a aversão de Deus, que formalmente torna o pecado essencialmente completo, implica, por essência, a soberba; ao passo que só por consequência, os outros pecados. – Donde vem que a soberba é por natureza o primeiro dos pecados e é também o princípio de todos, como dissemos quando tratamos das causas do pecado, quanto à aversão, elemento mais principal do pecado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­ Diz–se que a soberba é o princípio de todo pecado, não porque cada pecado, singularmente, proceda da soberba, mas por ser natural a cada gênero de pecado nascer dela.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Diz–se que o apostar de Deus é o início da soberba humana, não por ser um determinado pecado, distinto da soberba, mas, por ser a primeira parte dela. Pois, como dissemos, a soberba diz respeito principalmente à sujeição divina, a qual ela despreza; e, por consequência, o soberbo despreza a sujeição à criatura, por causa de Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Os vícios e as virtudes não hão de necessariamente pertencer à mesma ordem. Pois, o vicio corrompe a virtude. Ora, o que vem em primeiro lugar, na ordem da geração, vem em último na da corrupção, Portanto, assim como a fé é a primeira das virtudes, assim, a infidelidade é o último dos pecados, à qual às vezes nos conduzem os outros pecados. Por isso, àquilo da Escritura – Arruinai, arruinai nela até aos fundamentos – diz a Glosa, que a infidelidade se infiltra pelo acúmulo dos pecados. E o Apóstolo diz: Alguns, repelindo a boa consciência, naufragaram na fé.

RESPOSTA À QUARTA. – Diz–se que a soberba é o gravíssimo dos pecados, considerando–se a essência mesma do pecado, por onde se lhe mede a gravidade. E por isso a soberba causa a gravidade dos outros pecados. Por onde, pode se dar que, em comparação com a soberba, outros pecados sejam mais leves que ela cometidos por ignorância ou fraqueza. Mas, dentre os pecados mais graves, o primeiro é a soberba, como a causa agravante dos outros. E como o que é primeiro, na causalidade dos pecados, é o que em último lugar desaparece, por isso, àquilo da Escritura – Serei purificado no delito máximo ­ diz a Glosa: Isto é, do delito da soberba, o último dos que voltam para Deus e o primeiro, dos que dele se apartam.

RESPOSTA À QUINTA. – O Filósofo mostra a soberba simulando a força, não que ela só nisso consista; mas porque, quando nos mostramos corajosos, julgamos mais facilmente poder conseguir a excelência entre os homens.

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