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Art. 5 – Se a soberba é pecado mortal.

O quinto discute–se assim. – Parece que a soberba não é pecado mortal.

1. – Pois, àquilo da Escritura – Senhor meu Deus, se eu fiz isso – diz a Glosa: isto é, o pecado universal, que é a soberba. Se, portanto, a soberba fosse um pecado mortal, todo pecado seria mortal.

2. Demais. – Todo pecado contraria à caridade. Ora, parece que a soberba não contraria à caridade, nem quanto ao amor de Deus, nem quanto ao amor do próximo. Pois, a excelência, que desejamos desordenadamente, pela soberba, nem sempre contraria à glória de Deus ou a utilidade do próximo. Logo, a soberba não é pecado mortal.

3. Demais. – Todo pecado mortal contraria à virtude. Ora, a soberba não contraria a virtude, mas antes, nasce dela; pois, como Gregório diz, por vezes o homem se orgulha de virtudes excelsas e celestes. Logo, a soberba não é pecado mortal.

Mas, em contrário, Gregório diz ser a soberba o sinal evidentíssimo dos réprobos; e ao contrário, a humildade, dos eleitos. Ora, ninguém se torna réprobo por pecados veniais. Logo, a soberba não é pecado venial, mas, mortal.

SOLUÇÃO. – A soberba se opõe à humildade. Ora, o objeto próprio da humildade é tornar­nos sujeitos a Deus, como dissemos. Por onde e ao contrário, pela soberba propriamente fugimos a essa sujeição, exaltando–nos mais do que no–lo permite a regra e a medida divina, contrariamente ao dito do Apóstolo: Nós, pois não nos gloriaremos fora de medida, mas segundo a medida da regra com que Deus nos mediu. E por isso diz a Escritura: O princípio da soberba do homem é o apostatar de Deus; isto é, porque a raiz da soberba está em, de certo modo, não nos submetermos a Deus e à sua regra. Ora, é manifesto, que o mesmo não nos submetermos a Deus constitui um pecado mortal, pois, implica em nos apartarmos de Deus. Por onde e consequentemente, a soberba é um pecado genericamente mortal. Porém, nos outros pecados genericamente mortais, como por exemplo, a fornicação e o adultério, há certos movimentos, que são pecados veniais, por causa da sua imperfeição, isto é, por prevenirem o juízo da razão e se consumarem sem o consentimento dela. Assim também o mesmo se dá com a soberba, em que certos movimentos são pecados veniais, por não ter a razão consentido neles.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Como dissemos, a soberba não é um pecado universal pela sua essência, mas, por uma certa redundância, isto é, enquanto que dela podem nascer todos os pecados. Donde não se segue sejam mortais todos os pecados, senão só quando nascem da soberba completa, da qual dissemos ser pecado mortal.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A soberba sempre contraria ao amor divino, enquanto que o soberbo não se sujeita à regra divina, como deve. E às vezes também contraria o amor do próximo, quando nos preferimos a ele indevidamente, ou subtraímo–nos a nos submetermos ao mesmo. O que também derroga à regra divina, que institui uma ordem entre os homens, em virtude da qual uns devem sujeitar–se aos outros.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A soberba não nasce das virtudes como se fossem, por si, a causa dela; mas, como sendo elas a causa acidental; isto é, enquanto que podemos tirar, das virtudes, ocasião de soberba. Pois, nada impede um contrário ser causa acidental de outro, como diz Aristóteles. Por isso, certos se ensoberbecem pela sua mesma humildade.

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