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Art. 1 – Se a soberba é pecado.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a soberba não é pecado.

1. – Pois, nenhum pecado pode constituir objeto de uma promessa de Deus, porque Deus promete o que fará, mas, não é autor de nenhum pecado. Ora, a soberba está enumerada entre as promessas divinas, na Escritura, quando diz: Eu te elevarei a ser a glória imortal (superbiam) dos séculos, a um gozo em geração e geração. Logo, a soberba não é pecado.

2. Demais. – Desejar imitar a Deus não é pecado; pois, isso todas as criaturas o desejam naturalmente, e isso constitui o que têm de melhor; mas, sobretudo é próprio da criatura racional, feita à imagem e semelhança de Deus. Ora, como alguém disse, a soberba é o amor da nossa própria excelência, por cuja excelência nos assemelhamos a Deus, que é excelentíssimo. Por isso diz Agostinho: A soberba imita a excelcitude, pois, tu, Senhor, és o único Deus excelso sobre todas as coisas.

3. Demais. – Um pecado contraria não só à virtude mas também ao pecado oposto, como está claro no Filósofo. Ora, não há nenhum vício oposto à soberba. Logo, a soberba não é pecado.

Mas, em contrário, a Escritura: Nunca permitas que a soberba domine nos teus pensamentos ou nas tuas palavras.

SOLUÇÃO. – A soberba é assim chamada por nos fazer voluntariamente buscar o que está acima de nós. Por isso, diz Isidoro: O soberbo é assim chamado por querer passar por mais do que é; pois, quem quer subir acima do que é soberbo. Ora, a razão reta, por essência, impõe à nossa vontade buscar o que lhe é proporcional. Por onde e manifestamente, a soberba implica oposição à razão reta. Ora, isto constitui a essência mesma do pecado; pois, segundo Dionísio, o mal da alma consiste em desobedecer aos ditames da razão. Portanto, é claro que a soberba é pecado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­ A soberba pode ser considerada em duplo sentido. – Num, implica desobediência à regra racional e, então, é considerada como pecado. ­ Noutra, pode significar simplesmente um super­excesso; e então todo super–excesso pode chamar–se soberba. Neste sentido o Senhor promete a soberba como um superexcesso de honras. Por isso, a Glosa de Jerónimo a esse lugar diz haver uma boa soberba e outra, má. ­  Embora também possamos admitir que a soberba, nesse lugar, é tomada em sentido material, significado a superabundância de coisas com as quais os homens podem se ensoberbecer.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A razão é a ordenadora daquilo que o homem naturalmente deseja; portanto, será vicioso o apetite de quem se afasta mais ou menos, da regra racional; como o demonstra o apetite da comida, que é naturalmente desejada. Ora, a soberba deseja uma excelência excessiva à prescrição da razão reta. Donde o dizer Agostinho, que a soberba é o apetite de uma elevação pervertida. E daí também resulta, como ensina Agostinho, que a soberba imita a Deus, pervertidamente, pois, o soberbo odeia o se lhe submeter, na igualdade com os companheiros, querendo impor–lhes a sua dominação, em lugar de Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A soberba opõe–se diretamente à virtude da humildade, que de certo modo convém no mesmo objeto com a magnanimidade, como dissemos. Por onde, o vício oposto à soberba, por deficiência, é próximo do da pusilanimidade, oposta à magnanimidade, por defeito. Pois, assim como é próprio da magnanimidade levar a alma à prática de atos grandiosos, contrariando a desesperança, assim, pertence à humildade coibir a alma do apetite do que é grande, contrariando a presunção. Ora, a pusilanimidade, se implicar a falta de atos pelos quais buscamos o que é grande, opõe–se propriamente à magnanimidade, por deficiência; mas, se importar na aplicação da nossa alma em buscar o que é mais vil do que aquilo que nos convém, opõe–se então à humildade, por defeito; pois, em ambos os casos, procede da pequenez de alma. Assim como, ao contrário, a soberba pode, por superexcesso, opor–se à magnanimidade e à humildade, por diversos aspectos. A humildade, quando despreza a sujeição; à magnanimidade, quando desordenadamente busca grandes coisas. Mas, como a soberba implica uma certa superioridade, ela se opõe mais diretamente à humildade; assim como a pusilanimidade, que implica a pequenez de alma, na busca do que é grande mais diretamente se opõe à magnanimidade.

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