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Art. 4 – Se a continência tem preeminência sobre a temperança.

O quarto discute–se assim. – Parece que a temperança tem preeminência sobre a temperança.

1. – Pois, diz a Escritura: Pois, todo preço é nada em comparação duma alma continente. Logo, nenhuma virtude pode equiparar–se à continência.

2. Demais. – Quanto maior é o prémio que uma virtude merece, tanto melhor ela é. Ora, parece que o maior prémio é o merecido pela continência, conforme o Apóstolo: Não será coroado senão aquele que combate conforme a lei. Mas, o continente, que sofre o ataque de paixões veementes e de baixas concupiscências, combate mais que o temperante, que não as sofre veementes. Logo, a continência tem preeminência sobre a. virtude da temperança.

3. Demais. – A vontade é uma potência mais digna que a potência concupiscível. Ora, ao passo que o sujeito da continência é a vontade, o da temperança é a potência concupiscível, como o sobredito resulta. Logo, a continência é uma virtude com preeminência sobre a temperança.

Mas, em contrário, Túlio e Andronico, consideram a continência uma virtude anexa à temperança, como à virtude principal.

SOLUÇÃO. – Como dissemos a denominação de continência é susceptível de dupla acepção. – Numa, implica a abstenção de todos os prazeres venéreos. E então é superior à temperança propriamente dita, como resulta do que dissemos sobre a preeminência da virgindade sobre a castidade propriamente dita. – Noutra  acepção, implica a resistência da razão às baixas concupiscências, que são veementes no homem. E então, a temperança é muito mais preeminente que a continência, porque o bem da virtude é meritório por ser conforme à razão. Pois, o bem racional tem maior vigor no temperante, no qual mesmo o apetite sensitivo está sujeito à razão e é como dominado por ela, do que no continente, no qual o apetite sensitivo veementemente resiste à razão, por meio das baixas concupiscências. Por onde, à continência está para a temperança como o imperfeito, para o perfeito.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O lugar citado é susceptível de dupla interpretação. – Numa, em que a continência significa a abstinência de todos os prazeres venéreos. E, neste sentido, é que a Escritura considera que todo preço é nada em comparação duma alma continente, no gênero da castidade. Pois, nem mesmo a fecundidade da carne, fim do matrimônio, se equipara à continência virginal ou à da viuvez, como dissemos. – Noutro sentido, o lugar pode ser entendido no sentido em que a continência é tomada geralmente, pela abstenção de todas as causas ilícitas. E então, a Escritura diz, que todo preço é nada em comparação duma alma continente, por não ser susceptível de avaliação em ouro nem em prata, que se comutam pelo peso.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A força ou a fraqueza da concupiscência pode proceder de dupla causa. –  As vezes procede de uma causa corporal; assim, certos, pela sua compleição natural, são mais inclinados à concupiscência, que outros. E ainda há pessoas a quem se apresentam mais prontamente as ocasiões dos prazeres, que inflamam a concupiscência. Ora, ao passo que a fraqueza da concupiscência diminui o mérito, a forca dela o aumenta. – Outras vezes, porém, a fraqueza ou a força da concupiscência provém de uma causa espiritual louvável, por exemplo, da veemência da caridade ou da força da razão, como se dá com o homem temperante. E, deste modo, a fraqueza da concupiscência aumenta o mérito, em razão da sua causa, ao passo que a grandeza dela o diminui.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A vontade está mais próxima da razão do que a potência concupiscível. Por onde, o bem da razão, que torna a virtude louvável, mostra–se maior por atingir não só a vontade, mas também a potência concupiscível – o que se dá com o temperante – do que quando só atinge a vontade, como é o caso do continente.

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