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Art. 2 – Se a embriaguez é pecado mortal.

O segundo discute–se assim. – Parece que a embriaguez não é pecado mortal.

1. – Pois, Agostinho diz que a embriaguez é um pecado mortal, se for frequente. Ora, a frequência constitui uma circunstância, que não muda a espécie do pecado; e assim, não pode agravar ao infinito, de modo a transformar um pecado venial em mortal, como do sobre dito resulta. Logo, se por outras vias a embriaguez não é pecado mortal, nem por esta o será.

2. Demais. – Agostinho diz: Quem tomar a comida ou a bebida mais do que for necessário, saiba que não fica isento de pequenos pecados. Ora, os pequenos pecados chamam–se veniais. Logo, a embriaguez, causada pela bebida imoderada, é um pecado venial.

3. Demais. – Não devemos cometer nenhum pecado mortal, como remédio. Ora, certos bebem demais, por conselho médico, para depois se purgarem pelo vómito; e dessa bebida excessiva resulta a embriaguez. Logo, a embriaguez não é pecado mortal.

Mas, em contrário, lê–se nos Cânones dos Apóstolos: O bispo, o presbítero ou o diácono, que se entregarem ao jogo ou à embriaguez, corrijam–se ou sejam depostos. O subdiácono, o leitor ou o cantor, que o mesmo fizerem, ou se corrijam ou sejam privados da comunhão. E o mesmo faça o leigo. Ora, tais penas só se infligem ao pecado mortal. Logo, a embriaguez é um pecado mortal.

SOLUÇÃO. – A culpa da embriaguez consiste, como dissemos, no uso imoderado e na concupiscência do vinho. Ora, isto de três modos pode dar–se. – Primeiro, de modo que se ignore ser a bebida imoderada e capaz de embriagar; e assim a embriaguez pode existir sem pecado, como dissemos. – De outro modo, quando se percebe ser a bebida imoderada, mas sem se pensar que seja capaz de embriagar. E então ela pode implicar pecado venial. – Em terceiro lugar, pode acontecer que alguém tenha bem consciência de que a bebida é imoderada e inebriante, e contudo prefira expor–se à embriaguez do que abster–se de beber. E a esse propriamente se chama ébrio; pois, os atos morais se especificam, não pelo que acontece acidentalmente e fora da nossa intenção, mas do que em si mesmo intencionamos. E assim a embriaguez é pecado mortal; porque, então, é voluntária e cientemente, que o homem se priva do uso da razão, que nos faz obrar virtuosamente e evitar o pecado; e portanto, comete pecado mortal, expondo–se ao perigo de pecar. Pois, diz Ambrósio: Sabemos que devemos evitar a embriaguez, que nos faz cometer crimes. Pois, o que cometemos na ignorância da embriaguez, nós o evitaríamos, com a sobriedade. Por onde, em si mesma considerada, a embriaguez é pecado mortal.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A frequência torna a embriaguez pecado mortal; não pela só repetição do ato, mas por impossível alguém embriagar–se frequentam ente sem que saiba e queira incorrer na embriaguez, pois, experimentou muitas vezes a força do vinho e a sua capacidade de embriagar.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Comer ou beber mais do que é necessário constitui o vício da gula, que nem sempre é pecado mortal. Mas, beber cientemente, mais do que o necessário, até a embriaguez, é pecado mortal. Donde o dizer Agostinho: Tenho horror da embriaguez; não permitais que ela se aproxime de mim, pois, nunca se infiltrou no teu servo.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Como dissemos, a comida e a bebida devem ser reguladas pelas exigências da saúde do corpo. Por onde, assim como pode acontecer, que a comida ou a bebida moderada, para o são, seja excessiva para o doente, assim também e ao contrário, pode se dar que o excessivo ao são, seja moderado para o doente. E, destarte, a quem comer ou beber muito, por conselho médico, para provocar vômitos, não se lhe deve julgar excessiva a comida nem a bebida. Contudo, não é necessário, para provocar vómitos, que a bebida seja inebriante, pois, o beber água tépida os provoca. Portanto, a causa referida não escusaria da embriaguez.

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