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Art. 6. – Se foram convenientemente determinados os cinco derivados da gula, a saber, a alegria inepta, a escurrilidade, a imundice, o multilóquio, o embotamento mental, concernente à inteligência.

O sexto discute–se assim. – Parece que foram inconvenientemente determinados os cinco derivados da gula, a saber: a alegria inepta, a escurrilidade, a imundice, o multilóquio, a cegueira mental, concernente à inteligência.

1. – Pois, a alegria inepta resulta de todos os pecados, conforme a Escritura: Que se alegram depois de terem feito o mal e triunfam de prazer nas piores causas. Do mesmo modo, de todos os pecados resulta a cegueira mental, segundo a Escritura: Os que obram mal erram. Logo, foram considerados inconvenientemente como derivados da gula.

2. Demais. – A imundície, que sobretudo resulta da gula, parece dizer respeito ao vomito, segundo a Escritura: Todas as mesas se encheram de vômito e de asquerosidades. Ora, parece que isto é, antes, pena do pecado, que pecado; ou mesmo, uma utilidade resultante da deliberação, conforme aquilo da Escritura: Se fores obrigado a comer muito, levanta–te do meio, vai despejar o teu estômago e esta descarga te aliviará. Logo, não devem ser considerados derivados da gula.

3. Demais. – Isidoro considera a escurrilidade como filha da luxúria. Logo, não deve ser enumerada entre os derivados da gula.

Mas, em contrário, Gregório os assinala como derivados da gula.

SOLUÇÃO. – Como dissemos a gula própriamente consiste no prazer imoderado da comida e da bebida. Portanto, têm–se como filhos da gula os vícios consequentes ao prazer imoderado da comida e da bebida. Os quais podem ser considerados relativamente à alma ou relativamente ao corpo.

Relativamente à alma, de quatro modos. –­ Primeiro, no que respeita à razão, cuja acuidade se em bota com o uso imoderado da comida e da bebida. E, então, considera–se como filha da gula a cegueira do sentido da inteligência, causada pelas fumosidades produzidas pela comida, que perturbam a cabeça. Assim como, ao contrário. a abstinência facilita a aquisição da sabedoria, conforme à Escritura: Pensei dentro no meu coração apartar do vinho a minha

carne, afim de passar o meu ânimo à sabedoria. – Segundo, no concernente ao apetite, que de muitos modos se desordena com a comida e a bebida imoderadas, que por assim dizer travam o leme da razão. E por isso, a enumeração fala na alegria inepta, porque todas as outras paixões desordenadas ordenam–se à alegria e à tristeza, como ensina Aristóteles. E a isto se refere a Escritura quando diz, que o vinho dá à inteligência a segurança e a alegria. – Terceiro, relativamente à palavra desordenada. E então, é a vez do multilóquio; pois, como diz Gregório, se a loquacidade imoderada não invadisse os que se entregam à gula, o rico do Evangelho, que comia todos os dias esplendidamente não teria que sofrer duramente na língua. – Quarto, quanto ao ato desordenado; o que dá lugar para a escurrilidade, isto é, a uma certa jovialidade proveniente da falta de razão, que, assim como não pode coibir as palavras, assim também não pode coibir os gestos exteriores. Por isso, àquilo do Apóstolo – Nem palavras loucas nem chocarrices – diz a Glosa: As escurrilidades proferidas pelos estultos, isto é, a jovialidade, que costuma a mover o riso. – Embora possam ambos esses vícios referir–se às palavras com as quais podemos pecar ou por excesso, o que constitui o multicolóquio, ou por desonestidade, o que constitui a escurrilidade.

Relativamente ao corpo, há lugar para a imundície, que pode ser considerada relativamente à emissão de quaisquer superfluidades: ou, em especial, quanto à emissão do semen. Por isso àquilo do Apóstolo – A fornicação e toda impureza, etc. – diz a Glosa: isto é, a incontinência, pertinente de qualquer modo à sensualidade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A alegria com o ato do pecado ou com o fim é resultante de todos os pecados; sobretudo com o que procede do hábito. Mas, a alegria vaga e descomposta, aqui chamada inepta, nasce sobretudo, de se tomar imoderadamente a comida ou a bebida. E semelhantemente devemos dizer que o embotamento do sentido, para de­ liberar, resulta comumente de todos os pecados: mas a cegueira da mente, para a especulação, nasce sobretudo da gula, pela razão já apresentada.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Embora o vômito seja útil depois de uma refeição excessiva, contudo, é vicioso quem se sujeita a essa necessidade por ter comido ou bebido imoderadamente. Contudo o vômito pode ser provocado, sem culpa, por conselho médico, para curar alguma doença.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A escurrilidade procede certamente do ato da gula; não porém do ato de luxúria, mas, da vontade dele. Por isso, pode resultar de um e de outro vício.

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