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Art. 4 – Se foram convenientemente distinguidas as espécies da gula relativas às estas cinco circunstâncias: a pressa, a suculência, o excesso, a avidez e a delicadeza.

O quarto discute–se assim. – Parece que não foram convenientemente distinguidos por Gregório as espécies de gula, quando disse: De cinco modos nos tenta o vício da gula; pois, umas vezes, adiantamos, por necessidade, o tempo de comer; outras, buscamos comidas mais suculentas; outras, desejamos seja mais acuradamente preparado o que vamos comer; outras ainda, excedemos, pela quantidade que tornamos, a medida da refeição; e outras enfim, pecamos pela avidez mesma do nosso imenso desejo. O que tudo está expresso no seguinte verso latino:

Praepropere (apressadamente), laute (suculentamente), nimis (excessivamente), ardenter (avidamente), studiose (avidamente) .

1. – Pois, as referidas espécies se diversificam pelas diversas circunstâncias. Ora, as circunstâncias, sendo acidentes dos atos, não lhes diversificam a espécie. Logo, as circunstâncias referidas não diversificam as espécies de gula.

2. Demais. – Como o tempo, também o lugar é uma circunstância. Logo, se o tempo diversifica as espécies de gula, parece que pela mesma razão, o lugar e as outras circunstâncias hão de diversificá–las.

3. Demais. – Como a temperança, também as outras virtudes morais levam em conta as circunstâncias devidas. Ora, nos vícios opostos à outras virtudes morais, as espécies não se distinguem pelas diversas circunstâncias. Logo, nem na gula.

Mas, em contrário, as palavras citadas, de Gregório.

SOLUÇÃO. – Como dissemos, a gula implica a desordem da concupiscência no comer. Ora, na comida, duas coisas devemos considerar: a comida mesma, que tomamos, e o ato de a comermos. Por onde, haverá lugar, de dois modos, para a desordem da concupiscência. –­ Primeiro, quanto à comida que tomamos. E assim, considerada a sua substância ou a espécie, certos buscam alimentos suculentos, isto é, preciosos, e, quanto à qualidade, preparados acuradamente, isto é, com delicadeza; e quanto à quantidade, excedem por comerem demais. – De outro modo, a desordem da concupiscência se manifesta pelo ato de comermos: ou por adiantarmos o tempo próprio de comer, o que é proceder apressadamente; ou por não observarmos o modo conveniente ao comermos, o que é proceder avidamente. – Mas Isidoro faz da primeira uma só circunstância com a segunda, dizendo que o guloso se excede no comer, considerada a substância (quid) e a quantidade do alimento, bem como o modo (quo–modo) e o tempo em que come.

DONDE A RESPOSTA A PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A corrupção das diversas circunstâncias faz as diversas espécies de gula, por causa dos diversos motivos, que diversificam as espécies dos atos morais. Assim, a. espécie mesma da comida excita a concupiscência do que busca alimentos suculentos; a impaciência pela demora desordena a concupiscência de quem adiante o tempo de comer; e o mesmo se dá com as outras circunstâncias.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O lugar e as outras circunstâncias em nada diferenciam o motivo relativo ao uso da comida, de modo a dar lugar a uma nova espécie de gula.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Em todos os demais vícios, em que as circunstâncias diversas implicam motivos diversos, essas diversas circunstâncias dão necessariamente lugar a espécies diversas de vícios. Mas, isto não se dá com todos, como dissemos.

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