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Art. 1 – Se a molície se opõe à perseverança.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a efeminação não se opõe à perseverança.

1. – Pois àquilo do Apóstolo – nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomistas, – comenta a Glosa: Efeminados, isto é, páticos, isto é, dados à inversão sexual. Ora, isto se opõe à castidade. Logo, a efeminação não é um vício oposto à perseverança.

2. Demais. – O Filósofo diz, que uma vida de delícias é de certo modo efeminada, Ora, viver uma vida de delícias é ser interperante. Logo, a efeminação não se opõe à perseverança, mas, antes, à temperança.

3. Demais. – O Filósofo, no mesmo lugar, diz, que quem se diverte é efeminado. Ora, divertir–se imoderadamente se opõe à eutrapélia, virtude reguladora dos prazeres provenientes dos divertimentos. Logo, a efeminação não se opõe à perseverança.

Mas, em contrário, diz o Filósofo: Ao inconstante se opõe o perseverante.

SOLUÇÃO. – Como dissemos a perseverança é digna de louvores por nos fazer não abandonar um bem que exige soframos dificuldades e trabalhos diuturnos. Ao que diretamente se opõe quem facilmente abandona um bem por causa das dificuldades sobrevenientes, que não pode arrostar. O que constitui por essência a efeminação; pois, efeminado se chama quem facilmente cede ao obstáculo. Ao contrário, não é julgado tal quem cede ao que fortemente o contraria; pois, até os muros cedem à máquina que os percute. Por isso, não se considera efeminado quem cede a obstáculos que se lhe contrapõem com desusada violência. Donde o dizer o Filósofo: O deixar–se alguém vencer de prazeres intensos e extraordinários ou de grande sofrimento, longe de provocar o nosso espanto, despertará a nossa indulgência, contanto que tenha feito esforços para resistir. Ora, é manifesto que a ameaça dos perigos se nos contrapõe mais gravemente do que o desejo dos prazeres. Por isso, diz Túlio: Não é admissível que quem não foi vencido pelo medo o seja pelo prazer; nem que seja vencido pelo prazer quem não se deixou vencer ao sofrimento. Pois, o prazer, por natureza, nos atrai mais fortemente do que nos afasta da ação o sofrimento resultante da privação do prazer, porque, estar privado do prazer é uma deficiência. Por isso, segundo o Filósofo, efeminado propriamente se chama quem abandona o bem por causa dos sofrimentos causados pela privação dos prazeres, como quem cede a um pequeno impulso.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A referida efeminação tem dupla causa. – Uma, o costume; pois, quem está habituado a gozar o prazer pode dificilmente suportar a privação dele. – A outra é a disposição natural, que, por fragilidade de compleição, nos faz ter o ânimo menos constante. E isso funda a diferença entre o sexo feminino e o masculino, como diz o Filósofo. Por Por onde, os que se dão à inversão sexual chamam–se efeminados por se terem como que feito mulheres.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Ao prazer do corpo se opõem os trabalhos; por isso, as coisas trabalhosas somente impedem o prazer. Donde o chamarem–se amigos de delícias os que não podem suportar nenhuns trabalhos, nem nada que lhes diminua os prazeres. Donde o dizer a Escritura: A mulher tenra e mimosa, que não podia andar sobre a terra nem firmar nela um pé por causa da sua demasiada brandura. Portanto, amar as delícias é de certo modo ser efeminado. Mas, a efeminação é propriamente relativa à falta de prazeres; ao passo que as delícias o são aos obstáculos do prazer, como os sofrimentos e coisas semelhantes.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Dois elementos devemos considerar nas diversões. – Um, o prazer; e então a diversão desordenada se opõe à eutrapélia. – Outra, a remissão ou descanso, que se opõe ao trabalho. E portanto, assim como é próprio da efeminação não poder suportar os trabalhos, assim também o é desejar demasiado a remissão dos divertimentos, ou qualquer outra forma de repouso.

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