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Art. 2 – Se a presunção se opõe à magnanimidade, por excesso.

O segundo discute–se assim. – Parece que a presunção não se opõe à magnanimidade, por excesso.

1. – Pois, a presunção é considerada pecado especial contra o Espírito Santo, como se estabeleceu. Ora, o pecado contra o Espírito Santo não se opõe à magnanimidade, mas antes, à caridade. Logo, também a presunção não se opõe à magnanimidade.

2. Demais. – É próprio da magnanimidade fazer com que nos dignifiquemos com a prática de grandes atos. Ora, presunçoso também se chama quem se dignifica com coisas pequenas, contanto que estas lhe excedam a capacidade própria. Logo, a presunção não se opõe diretamente à magnanimidade.

3. Demais. – O magnânimo tem em pouca conta os bens exteriores. Ora, segundo o Filósofo, os presunçosos, por causa dos bens exteriores, desprezam e injuriam os outros, por terem esses bens em grande conta. Logo, a presunção não se opõe à magnanimidade, por excesso, mas, apenas por defeito.

Mas, em contrário, diz o Filósofo que ao magnânimo se opõe, por excesso, o Chaunos, isto é, o louco ou fátuo, a que nós chamamos presunçoso,

SOLUÇÃO. – Como dissemos, a magnanimidade consiste numa mediedade; não quantitativa, em relação ao objeto buscado, porque ela tende para o que é máximo; mas, numa mediedade proporcional à faculdade própria, pois, não busca coisas maiores que as que deve buscar. O presunçoso, porém, não excede o magnânimo, quanto ao objeto que pretende; ao contrário, às vezes, fica muito abaixo dele. Mas, o excede proporcionalmente às suas faculdades; pois, o magnânimo não excede às suas. E, deste modo, a presunção se opõe à magnanimidade, por excesso.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Não é qualquer presunção que é considerada pecado contra o Espírito Banto: mas, a que nos leva a desprezar a justiça de Deus, por confiarmos indebitamente na sua misericórdia. E tal presunção, em razão da sua matéria, por nos levar a desprezar um bem divino, se opõe à caridade, ou antes, ao dom do temor, que nos manda reverenciar a Deus. Mas, enquanto esse desprezo é desproporcionado às nossas faculdades, pode opor–se à magnanimidade.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Como a magnanimidade, assim também a presunção visa a grandes fins. Pois, não é habitual considerar–se presunçoso quem vai pouco além das suas capacidades. Mas, se considerarmos tal homem como presunçoso, ele não se opõe à magnanimidade; mas, à virtude que versa sobre as pequenas honras, como se disse.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Ninguém pretende a mais do que é capaz senão porque julga ter maior capacidade do que realmente tem. E nesse ponto podemos nos enganar de dois modos. Primeiro, quantitativamente; por exemplo, imaginando–nos com maior virtude, ciência ou outra qualidade qualquer que tenhamos. Segundo, em relação a um certo gênero de coisas; assim, quando nos julgamos grande e mais digno, pelo que não o somos, como por exemplo, pelas riquezas ou por quaisquer bens da fortuna. Pois, no dizer do Filósofo, os que possuem esses bens, sem virtude, nem se dignificam justamente a si mesma com causas grandes, nem podem chamar–se, com razão, magnânimos. Do mesmo modo, aquilo que buscamos e que nos excede as forças, é às vezes, verdadeira e absolutamente falando, uma coisa grande. Tal o caso de Pedro, querendo sofrer por Cristo, o que lhe sobrepujava as forças. Mas outras vezes, não é nada de grande, absolutamente falando, mas só na opinião dos estultos; como no caso de quem se veste de roupagens preciosas, despreza injuria os outros. O que constitui excesso de magnanimidade, não na verdade das coisas, mas, segundo a opinião. Donde, o dizer Séneca, que a magnanimidade, quando se exalça mais do que lhe convém, torna o homem minaz, cheio de si, perturbado, inquieto, e pronto a se atribuir todas as excelências nos seus ditos e atos, sem nenhuma atenção à honestidade. Por onde é claro que o presunçoso, na verdade das coisas, não chega a ser magnânimo; e só na aparência  tem excesso de magnanimidade.

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