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Art. 8 – Se os bens da fortuna concorrem para a magnanimidade.

O oitavo discute–se assim. – Parece que os bens da fortuna não concorrem para a magnanimidade.

1. – Pois, como diz Séneca, a virtude a si mesma se basta. Ora, a magnanimidade torna todas as virtudes grandes, como se disse. Logo, os bens da fortuna não concorrem para a magnanimidade.

2. – Demais. – Nenhum homem virtuoso despreza o que lhe pode servir. Ora, o magnânimo despreza o que respeita à fortuna exterior; pois, diz Túlio, que a pessoa de alma grande é digna de louvor pelo desprezo dos bens materiais. Logo, a magnanimidade não é servida pelos bens da fortuna.

3. Demais. – O mesmo Túlio acrescenta que é próprio do magnânimo suportar as coisas penosas de modo a não se afastar em nada, do estado de natureza; em nada, da dignidade do sábio. E Aristóteles diz que o infortúnio não entristece o magnânimo. Ora, as coisas penosas e os infortúnios se opõem aos bens da fortuna; pois, todos nos contristamos quando somos privados do que nos presta serviços. Logo, os bens exteriores da fortuna não concorrem para a magnanimidade.

Mas, em contrário, diz o Filósofo, que os bens da fortuna contribuem para a magnanimidade.

SOLUÇÃO. – Como do sobre dito resulta, dois termos visa a magnanimidade: as honras, como a matéria; e a um ato grandioso a praticar, como fim. Ora, para ambos contribuem os bens da fortuna. Pois, como as honras são conferidas aos virtuosos, não só pelos sábios, mas também pela multidão, que considera máximos os referidos bens exteriores da fortuna, daí resulta, por consequência, o prestarem maiores honras aos que têm os bens exteriores da fortuna. Do mesmo modo, esses bens cooperam, como instrumentos, para os atos virtuosos: porque as riquezas, o poder e os amigos proporcionam–nos a faculdade de agir. Por onde, é manifesto que os bens da fortuna concorrem para a magnanimidade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Diz–se que a virtude se basta a si mesma, porque pode existir mesmo sem os bens exteriores. Mas, destes precisa para obrar mais facilmente.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O magnânimo despreza os bens exteriores pelos não reputar grandes bens, pelos quais deve fazer o que lhe não fica bem. Mas não os despreza a ponto de não os julgar úteis à prática de obras virtuosas.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Quem não considera grande uma causa não muito se alegra quando a obtém, nem muito se contrista se vem a perde–la. Ora, como o magnânimo não considera os bens exteriores da fortuna como grandes bens, por isso não muito se exalta, pelos possuir; nem muito se abate pelos perder.

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