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Art. 1. – Se a magnanimidade tem por objeto as honras.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a magnanimidade não tem por objeto as honras.

1. – Pois, a magnanimidade, nome derivado de magnitude de ânimo, pertence como a sua própria denominação o indica, ao irascível: porque ânimo, nessa expressão significa a potência irascível, como é claro pelo lugar onde o Filósofo diz, que o desejo e o ânimo, isto é, o concupiscível e o irascível, pertencem ao apetite sensitivo. Ora, as honras são um bem concupiscível, por serem o prémio da virtude. Logo, parece que a magnanimidade não tem por objeto às honras.

2. Demais. – A magnanimidade, sendo uma virtude moral, há –de ter por função regular as nossas paixões e os nossos atos. Ora, não regula os nossos atos porque então faria parte da justiça. Donde se conclui que regula as nossas paixões. Ora, as honras não são uma paixão. Logo, a magnanimidade não tem por objeto as honras.

3. Demais. – Por natureza, a magnanimidade parece que nos leva a buscarmos um bem, mais do que a evitarmos um mal, pois, chama–se magnânimo quem busca grandes coisas. Ora, os virtuosos não são louvados por buscarem as honras, mas antes, pelas evitarem. Logo, a magnanimidade não tem por objeto às honras.

Mas, em contrário, o Filósofo diz que a magnanimidade é relativa às honras e à desonra.

SOLUÇÃO. – A magnanimidade, como o próprio nome o indica, supõe a aplicação da alma a buscar grandes causas. Ora, a virtude importa uma dupla relação: com a matéria sobre que versa e, com o seu ato próprio, que consiste no emprego devido dessa matéria. E como os atos virtuosos principalmente se determinam pelo seu ato, chama–se principalmente magnânimo, quem, com magnitude de ânimo, pratica atos grandiosos. Ora, um ato pode ser grandioso de dois modos: proporcional e absolutamente. Grandioso, proporcionalmente falando, pode ser mesmo o ato que consiste no emprego de uma coisa pequena ou medíocre; por exemplo, se a empregarmos de maneira ótima. Mas, simples e absolutamente falando, ato grandioso é o que consiste no uso ótimo do que é máximo. Ora, as coisas que servem ao uso do homem são as coisas exteriores, das quais a máxima, em sentido absoluto, são as honras. Quer porque, sendo um testemunho comprobativo da virtude de alguém, estão mui próximos da virtude, como demonstrámos; quer também por serem prestadas a Deus e aos melhores; quer ainda porque, para consegui–las e para evitar a desonra, os homens lhes pospõem tudo o mais. Por isso, chama–se magnânimo quem pratica atos grandiosos, absoluta e simplesmente considerados, assim como chamamos forte quem pratica atos difíceis em sentido absoluto. Por onde e consequentemente, a magnanimidade tem por objeto as honras.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O bem e o mal absolutamente considerados, pertencem ao concupiscível. Mas, enquanto implicam a ideia de dificuldade, pertencem ao irascível. E deste modo o objeto da magnanimidade são as honras, isto é, enquanto estas se apresentam como grandes ou difíceis.

RESPOSTA À SEGUNDA. – As honras, embora não sejam paixão nem operação, contudo são o objeto da paixão da esperança, relativa ao bem difícil. Por onde, a magnanimidade tem por objeto imediato a paixão da esperança; e mediato, as honras, o objeto da esperança. Assim como já dissemos que o objeto da coragem são os perigos mortais, enquanto concernem ao temor e à audácia.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Os que desprezam as honras merecem ser louvados se o fazem por não empregarem nenhum meio inconveniente pelas obter, nem as apreciam mais do que o devem. Mas, seria repreensível quem desprezasse as honras por não cuidar de praticar nenhum ato que as mereça. Ora, a magnanimidade tem por objeto as honras porque nos leva a nos esforçar por praticarmos atos delas merecedores; e não no sentido de no–Ias fazer estimar grandemente.

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