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Art. 9 – Se a coragem consiste, sobretudo em vencer os obstáculos repentinos.

O nono discute–se assim. – Parece que a coragem não consiste, sobretudo em vencer os obstáculos repentinos.

1. – Pois, repentino parece que é um acontecimento inopinado. Ora, Túlio diz, que a coragem consiste em afrontar os perigos e sofrer os trabalhos. Logo, a coragem não consiste sobretudo em vencer os obstáculos repentinos.

2. Demais. – Ambrósio diz: É próprio do homem forte não dissimular o perigo que o ameaça; mas, encará–lo face a face e examiná–lo do alto do seu pensamento como de um lugar elevado; tratar de prever e prevenir os acontecimentos futuros, para não ser obrigado a se dizer a si mesmo depois: caí neste perigo porque não o julgava possível. Ora, quando o perigo é repentino não pode ter sido previsto como futuro. Logo, os atos de coragem não versam sobre o que é repentino.

3. Demais. – O Filósofo diz que o corajoso é homem de confiante esperança. Ora, a esperança implica um acontecimento futuro, o que se opõe ao repentino. Logo, os atos de coragem não têm por objeto o repentino.

Mas, em contrário, diz o Filósofo, que a coragem tem por objeto, sobretudo, afrontar os acontecimentos repentinos que causam a morte.

SOLUÇÃO. – Nos atos do corajoso, duas coisas havemos de considerar. Uma, relativa a sua eleição; e então, a coragem não tem por objeto os perigos repentinos. Pois, o corajoso escolhe premeditar nos perigos que podem ameaçá–lo para melhor resistir–Ihes ou suportá–los mais facilmente. Pois, como diz Gregório, os tiros previstos menos terem; e mais facilmente suportamos os males do mundo se nos munirmos contra eles do escudo da previdência. – A outra consideração a fazer é relativa aos atos de coragem como manifestações do hábito virtuoso. E então a coragem tem sobretudo por fim afrontar os perigos repentinos; porque, como diz o Filósofo; nos perigos repentinos é que principalmente se manifesta o hábito da coragem.

Pois, o hábito age como a natureza. Por onde, o praticar alguém atos virtuosos, sem premeditação, premido pela necessidade de arrostar um perigo iminente, isso manifesta que essa pessoa tem confirmada na alma a coragem habitual. Pois, é possível mesmo a quem carece do hábito da coragem preparar a sua alma, por uma longa premeditação, contra os perigos; preparação de que também o forte se socorre, quando tem tempo.

Donde se deduzem claras as RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES.

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