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Art. 3 – Se a coragem tem por objeto o temor e a audácia.

O terceiro discute–se assim. – Parece que a coragem não tem por objeto o temor e a audácia.

1. – Pois, diz Gregório: A coragem dos justos consiste em vencer a carne, contrariar os prazeres próprios, exterminar os deleites da vida presente. Logo, a coragem parece versar, antes, sobre os prazeres que sobre o temor e a audácia.

2. Demais. – Túlio diz que é próprio da coragem enfrentar os perigos e sofrer o trabalhos. Ora, isto parece não ser o objeto da paixão do temor ou da audácia, mas antes, constitui ações trabalhosas ou são perigos exteriores. Logo. a coragem não versa sobre o temor e a audácia.

3. Demais. – Ao temor não só se opõe três  audácia, mas também a esperança, como se estabeleceu quando se tratou das paixões. Logo, a coragem não deve ter como objeto, antes, a audácia, do que a esperança,

Mas, em contrário, diz o Filósofo, que a coragem versa sobre o temor e a audácia.

SOLUÇÃO. – Como dissemos, é próprio da virtude da coragem remover os obstáculos que impedem a vontade de seguir os ditames da razão. Ora, por causa do temor é que deixamos de fazer o que é difícil; pois, o temor nos faz evitar o mal difícil de ser superado, como estabelecemos, quando tratamos das paixões. Por onde, a coragem versa principalmente sobre o temor das coisas difíceis, que podem impedir a vontade de seguir os ditames da razão. Ora, essa impressão que fazem em nós as cousas difíceis não somente devemos tolerá–las, coibindo o temor, mas também atacá–las moderadamente, isto é, quando for necessário exterminá–las, para termos segurança, no futuro; e isto inclui a ideia de audácia. Por onde, a coragem versa sobre c temor e a audácia, coibindo aquele e moderando esta,

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Gregório, no lugar citado, trata da coragem dos justos, como relativa, em comum, a todas as virtudes. Por isso, assinala primeiro certas características da temperança, como dissemos; e depois acrescenta o que propriamente pertence à coragem, como virtude especial, dizendo: amar as asperezas deste mundo com a vista nos prémios eternos.

RESPOSTA À SEGUNDA. – As coisas perigosas e os atos penosos só afastam a vontade da obediência à razão, quando temidas. Por isso, é necessário que a coragem tenha por objeto imediato o temor e a audácia; e, mediato, os perigos e os trabalhos, como sendo os objetos das referidas paixões.

RESPOSTA À TERCEIRA – A esperança se opõe ao temor, pelo seu objeto; pois, este é o bem, e o do temor é o mal. Ao passo que a audácia tem o mesmo objeto que ele, ao qual se opõe como se opõe o aproximar–se ao afastar–se, segundo dissemos. Mas, a coragem é relativa propriamente aos males temporais que afastam da virtude, como é claro pela definição de Túlio; donde vem que o seu objeto é propriamente o temor e a audácia, e não, a esperança, senão enquanto dependente da audácia, como dissemos.

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