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Art. 3 – Se o segundo preceito do decálogo foi bem formulado.

O terceiro discute–se assim. – Parece que o segundo preceito do decálogo não foi bem formulado.

1. – Pois, o preceito – Não tomaras o nome do Senhor teu Deus em vão – assim o explica a Glosa: Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, isto é, dando o nome de Deus a um pedaço de madeira ou de pedra. Pelo que se proíbe a falsa profissão de religião, que é um neto de infidelidade, bem como o erro. Ora, a infidelidade é anterior à superstição, assim como a fé, à religião.

2. Demais. – Recorremos ao nome de Deus para muitos fins: para louvá–lo, para fazer milagres e, em geral, para apoiar o que quer que digamos ou façamos, conforme aquilo do Apóstolo: Tudo quando fizerdes, seja de palavra ou de obra, fazei tudo isso em nome de Deus. Logo, o preceito, que proíbe tomar o nome de Deus em vão, parece mais universal que o proibitivo da superstição. Logo, devia ter precedência sobre ele.

3. Demais. – O preceito da Escritura: Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão é assim explicado – Jurando sem motivo. Por onde, esse mandamento proíbe jurar em vão, isto é, levianamente. Ora, muito mais grave é o juramento falso, que contraria à verdade; e o juramento injusto, que contraria à justiça. Logo, o preceito em questão devia ter proibido antes esses juramentos.

4. Demais. – Muito mais grave pecado é a blasfémia, qualquer palavra ou ato injurioso de Deus, do que o perjúrio. Logo, antes a blasfémia e tais palavras e atos é que deviam ser proibidos pelo referido preceito.

5. Demais. – São muitos os nomes de Deus. Logo, o preceito não devia dizer indeterminadamente: Não tomarás o nome de Deus em vão.

Mas, em contrário, a autoridade da Escritura.

Solução. – A aquele que se educa para a virtude, é preciso primeiro estirpar–lhe os obstáculos, que o afastam ela verdadeira religião, do que fundá–la nela. Ora, um obstáculo pode se opor à religião, de dois modos. Por excesso, fazendo–nos atribuir a outro, indebitamente, o que a religião pertence; e isso constitui a superstição. Ou por falta de reverência, como quando, por exemplo, desprezamos a Deus, o que constitui o pecado de irreligião, como estabelecemos. Ora, a superstição impede–nos a prática da religião, desviando–nos de prestar culto a Deus. Pois, quem tem a alma presa a um culto indevido não pode ao mesmo tempo prestar a Deus o culto que deve, conforme aquilo da Escritura: Estreita é a cama, de sorte que um dos dois há de cair, do coração do homem, isto é, o Deus verdadeiro ou o falso; e um cobertor curto não pode cobrir a um e outro. E quanto à irreligião, ela impede a religião, fazendo–nos não honrar ao Deus em que cremos. Pois, primeiro devemos crer no Deus, que devemos adorar, do que adorá–lo. Por isso, segundo o preceito, que proíbe a superstição, vem antes do que proíbe o perjúrio, que supõe a irreligião.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ As interpretações citadas são místicas. A literal é a que está na Escritura: Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, isto é, jurando sem motivo.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O presente preceito não proíbe tomar o nome de Deus de qualquer modo que seja, mas só para confirmar as nossas palavras, com juramento, porque este é o caso em que mais frequentemente a tomamos. Mas, como consequência, podemos incluir nessa proibição todo uso do nome ele Deus, desordenadamente. E é esse o fundamento das interpretações supra referidas.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Dizemos que jura sem motivo quem o faz quando não eleve; o que constitui juramento falso, denominado principalmente perjúrio, como dissemos. Pois, quando alguém jura falso, o seu juramento é vão por natureza, porque não se funda na verdade. E quando alguém jura sem discernimento e levianamente, mas com verdade, o juramento não é em si mesmo vão, mas o é somente por parte de quem o profere.

RESPOSTA À QUARTA. – Assim como ao que está aprendendo uma ciência, primeiro se lhe dá um certo ensino comum, assim também a lei contida nos preceitos do decálogo, que deve levar o homem a ser virtuoso e que são os preceitos primeiros, propõe–lhe, proibindo ou ordenando, o que comumente costuma acontecer no decurso da vida humana. Por isso. entre esses preceitos, está a proibição do perjúrio, mais frequente que a blasfémia, na qual o homem cai mais raramente.

RESPOSTA À QUINTA. – Devemos reverência aos nomes de Deus, por causa da realidade que significam que é só uma; não em razão das significações das palavras, que são muitas. Por isso, a Escritura diz, no singular – Não tomarás o nome de teu Deus em vão, – pois, pouco importa qual seja o nome de Deus, que foi objeto de perjúrio.

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