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Art. 8 – Se são filhos da avareza os vícios assim chamados: traição, fraude, falácia, perjúrio, inquietude, violência e coração obdurado.

O oitavo discute–se assim. – Parece não serem filhos da avareza os vícios assim chamados: traição, fraude, falácia, perjúrio, inquietude, violência e coração obdurado.

1. – Pois; a avareza se opõe à liberalidade, corno se disse. Ora, a traição; a fraude e a falácia se opõem à prudência; o perjúrio à religião; a inquietude, à esperança ou à caridade, que repousa no objeto amado; a violência se opõe à justiça; a duração, à misericórdia. Logo, tais vícios – pertencem à avareza.

2. Demais. – A traição, o dolo e a falácia parecem ter o mesmo fim, que é enganar o próximo. Logo, não devem ser contados como filhos diversos da avareza.

3. Demais. – Isidoro enumera os nove filhos da avareza: a mentira, a fraude, o furto, o perjúrio, o desejo do lucro desonesto, o falso testemunho, a violência, a desumanidade e a rapacidade. Logo. a primeira enumeração dos vícios oriundos da avareza é insuficiente.

4. Demais. – O Filósofo inclui muitos gêneros de vícios na avareza, a que chama iliberalidade. Tais são os dos parcos, dos tenazes, dos sórdidos, dos que agem iliberalmente, dos que vivem do meretrício, dos usurários, dos jogadores, dos que despojam os mortos e dos ladrões. Logo, parece insuficiente a enumeração referida acima.

5. Demais. – São, sobretudo os tiranos que violentam os seus inferiores. Pois, como diz o Filósofo, no mesmo lugar, não chamamos iliberais, isto é, avarentos, aos tiranos, que desolam as cidades e depredam os templos. Logo, a violência não deve ser considerada filha da avareza.

Mas, em contrário, Gregório assinala, como filhos da avareza, os pecados supra referidos.

SOLUÇÃO. – Chamam–se filhos da avareza os vícios que dela nascem, e principalmente no que concerne ao desejo do fim. Ora, a avareza, sendo o desejo exagerado de possuir riquezas, peca por excesso, de dois modos. Primeiro, retendo imoderadamente, e, por aí, ela gera a obduração, contrária à misericórdia, que nos torna de todo estranhos à brandura da compaixão e indiferentes a socorrer os miseráveis com as nossas riquezas. – Em segundo lugar, é próprio da avareza adquirir bens imoderadamente. E, a esta luz, ela pode ser considerada de dois modos. –­ Primeiro, relativamente à afeição. E então dela nasce a inquietude, que desperta em nós solicitude e cuidados supérfluos; pois, como diz a Escritura, o avarento nunca jamais se fartará de dinheiro. – Segundo, relativamente ao efeito. E, então, o avarento, para adquirir o alheio, às vezes emprega a força, o que constitui a violência; outras vezes recorre ao dolo. E este, se for verbal, chama–se falácia, que supõe simplesmente o emprego de palavras; se essas palavras forem confirmadas com juramento, tem lugar o perjúrio. Mas, se o dolo for cometido por obras, haverá fraude, e se tratar de uma causa; si se tratar de pessoas, terá lugar a traição, como bem o demonstra o caso de Judas, que por avareza traiu a Cristo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Os pecados nascidos de um pecado capital não hão, necessariamente, de pertencer ao mesmo gênero que ele. Porque pecados de um gênero podem se ordenar ao fim de outro pecado, de gênero diferente. Pois, não devemos confundir os vícios engendrados por um pecado com as espécies que esse pecado compreende. 

RESPOSTA À SEGUNDA. – Os três vícios citados se distinguem entre si, como se disse.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Esses nove pecados enumerados se reduzem aos sete referidos. Pois, a mentira e o falso testemunho estão compreendidos na falácia; assim, o falso testemunho é uma espécie de mentira, como o furto o é da fraude, na qual está por isso compreendido. Quanto ao desejo do lucro desonesto, ele está incluído na inquietude, sendo desta uma espécie. E a desumanidade enfim é o mesmo que a obduração contrária à misericórdia.

RESPOSTA À QUARTA. – Esses vícios a que se refere Aristóteles são, antes, espécies que filhos da iliberalidade ou da avareza. Pois, pode ser chamado iliberal ou avarento quem é apoucado em dar. E se der pouco é denominado parco; se não der nada, tenaz; se com grande dificuldade, sórdido, como quem diz – vendedor de cuminho, porque tira das coisas insignificantes grandes proveitos. – Outras vezes, porém chama–se iliberal ou avarento quem se apossa do que não deve. E isto se dá de dois modos. – Ou porque ganha desonestamente, exercendo obras vis e servis, por meio de atos iliberais: ou porque aufere lucros da prática de certos atos viciosos, como do meretrício e de outros semelhantes; ou porque ganha com o que devia dar de graça, como os usurários; ou porque ganha pouco com grande trabalho. ­ De outro modo, porque lucra injustamente, quer atacando os outros pela força, como os ladrões; quer espoliando os mortos; ou ganhando dos amigos, como os jogadores.

RESPOSTA À QUINTA. – Como a liberalidade, também a iliberalidade diz respeito a pequenas somas de dinheiro. Por isso, os tiranos, que roubam muito com violência, não se chamam iliberais, mas, injustos;

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