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Art. 7 – Se a avareza é um pecado capital.

O sétimo discute–se assim. – Parece que a avareza não é um pecado capital.

1. – Pois, a avareza se opõe à liberalidade, como ao meio termo; e à prodigalidade, como ao extremo. Ora, nem a liberalidade é uma virtude principal, nem a prodigalidade, um vício capital. Logo, também a avareza não deve ser considerada um vício capital.

2. Demais. – Como já se disse, chamam–se pecados capitais os que se ordenam a certos fins principais aos quais se ordenam os fins dos outros pecados. Ora, não se dá isso com a avareza, porque as riquezas não são, por natureza, fins, mas antes, meios, como diz Aristóteles. Logo, a avareza não é pecado capital.

3. Demais. – Gregório diz, que a avareza às vezes nasce do orgulho e, às vezes, do temor. Pois, deixam–se invadir a alma na avareza os que pensam vir a faltar o necessário que devem dispender, E outros, há que, querendo passar por mais poderosos, ardem na busca de bens alheios. Logo, a avareza nasce, antes, dos outros pecados e está longe de ser um pecado capital, em relação a eles.

Mas, em contrário, Gregório considera a avareza como um dos pecados capitais.

SOLUÇÃO. – Como dissemos, chama–se pecado capital aquele de que nascem outros, em dependência da ideia de fim, o qual, exercendo grande influência sobre o nosso apetite, este nos leva a praticar muitos atos bons ou maus. Ora, o fim que mais desejamos é a beatitude ou felicidade, fim último da vida humana, como se estabeleceu. Por onde, quanto mais um fim participa da condição da felicidade, mais desejável é. Mas, uma das condições da felicidade é ser, em si mesma suficiente; pois, do contrário, não nos aquietaria o apetite, como fim último. Ora, essa suficiência, em si mesma, é o que sobretudo prometem as riquezas, segundo Boécio. E a razão é que, no dizer do Filósofo, nós usamos do dinheiro como uma garantia para possuirmos tudo o que quisermos. E a Escritura: Todas as coisas obedecem ao dinheiro. Logo, a avareza, que consiste no desejo do dinheiro, é um vício capital.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A virtude se aperfeiçoa, .na ordem da razão; mas o vício se desenvolve segundo a inclinação do apetite sensitivo. Ora, a razão e o apetite sensitivo não pertencem ao mesmo género. Logo, um vício principal não há de necessariamente se opor a uma virtude principal, porque não visa o bem principal da razão; contudo, a avareza é um vício capital, por ter por objeto o dinheiro, que tem uma certa principalidade entre os bens sensíveis pela razão já dita. A prodigalidade, porém, não se ordena a nenhum fim principalmente desejável, mas antes, procede da falta de razão. Por isso, o Filósofo diz que o pródigo é considerado, antes, vão, que mau.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Por certo que o dinheiro se ordena a outra causa como ao seu fim. Mas, enquanto útil para com ele adquirirmos todos os bens materiais, eles os contém de certo modo virtualmente a todos. Por isso, tem certa semelhança com a felicidade, como dissemos.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Nada impede um pecado capital nascer de certos outros pecados, como se disse; mas, para ser capital é preciso que, de ordinário, outros se originem dele.

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