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Art. 5 – Se a avareza é o máximo dos pecados.

O quinto discute–se assim. – Parece que a avareza é o máximo dos pecados.

1. – Pois, diz a Escritura: Não há coisa mais detestável que o avarento; e logo depois acrescenta: Não há coisa mais injusta que amar o dinheiro; porque um tal homem vende a sua mesma alma. E Túlio diz: Nada denuncia mais uma alma acanhada e pequena, do que amar o dinheiro. Ora, isto é a avareza. Logo, a avareza  é o gravíssimo dos pecados.

2. Demais. – Um pecado é tanto mais grave quanto mais contrário à caridade. Ora, a avareza é o que mais a contraria; pois diz Agostinho, que o veneno o da caridade é a cobiça. Logo, a avareza é um pecado mortal.

3. Demais – É da gravidade do pecado ser irremediável; por isso se diz que é irremisível o pecado contra o Espírito Santo. de todos o mais grave. Ora, a avareza é um pecado irremediável; por isso diz o Filósofo, que é a velhice, como todas as fraquezas, que faz os homens iliberiais. Logo, a avareza é o gravíssimo dos pecados.

4. Demais. – O Apóstolo diz: A avareza é o culto dos ídolos. Ora, a idolatria é considerada entre os pecados gravíssimos. Logo, também a avareza.

Mas, em contrário, o adultério é mais grave pecado que o furto, segundo a Escritura. Ora, o furto está incluído na avareza. Logo, a avareza não é o gravíssimo dos pecados.

SOLUÇÃO. – Todo pecado, sendo um mal, consiste numa certa corrupção ou privação de algum bem; e, como voluntário que é, consiste no desejo de algum bem. Por onde, podemos considerar uma dupla ordem de pecados. Uma relativa ao bem desprezado ou corrompido pelo pecado, o qual, quanto maior, tanto mais grave é o pecado. Ora, assim sendo, o pecado contra. Deus é o gravíssimo; logo depois dele vem o pecado contra a pessoa humana; em seguida, o que é contra as coisas exteriores, destinadas ao uso humano, sendo nessa ordem que se inclui o pecado da avareza. A outra luz, podemos considerar o grau dos pecados relativamente ao bem a que se deixa desordenadamente prender o apetite humano; o qual bem, quanto menor for, tanto maior será a deformidade do pecado; pois, é mais desonesto deixarmo–nos atrair por um bem inferior do que um superior. Ora, o bem das coisas exteriores é o ínfimo dos bens humanos; pois, é menos que o bem do corpo, que por sua vez é inferior ao da alma, Que é sobrepujado pelo bem divino. E, assim sendo, o pecado da avareza, que nos leva a sujeitar o apetite, mesmo às cousas exteriores, tem de certo modo maior deformidade. Mas, como a corrupção ou privação de um bem é o que o pecado tem de formal, sendo o seu elemento material o fazer–nos voltar para os bens transitórios, devemos julgar da gravidade do pecado mais pelo bem que ele corrompe do que pelo bem do qual o apetite se deixa levar. Por onde, devemos concluir que a avareza não é, absolutamente falando, o máximo dos pecados.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Os lugares citados se referem à avareza relativamente ao bem por que se deixa levar o apetite. Por isso. a Escritura acrescenta, como razão, ­ que o avarento vende até a sua mesma alma; porque expõe a sua alma, isto é, a sua vida, a perigos, por amor ao dinheiro. E por isso ainda acrescenta: Pois que ele se despojou em sua vida, isto é, desprezou as próprias entranhas, para ganhar dinheiro. E Túlio aponta ser próprio de uma alma acanhada consentir em sujeitar–se ao dinheiro.

RESPOSTA À SEGUNDA. – No lugar aduzi o Agostinho considera a cobiça em sentido geral, cama a de qualquer bem temporal; e não enquanto tomada pela avareza, em sentido especial. Pois, a cobiça de qualquer bem temporal é o veneno da caridade, porque nos faz desprezar o bem divino para nos apegarmos a um bem temporal.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O pecado contra o Espírito Santo é insanável de um modo e a avareza, de outro. Pois, o pecado contra o Espírito Santo é irremediável por causa do desprezo; isto é, por se desprezar a misericórdia ou a justiça divina, ou qualquer dos meios que nos purificam do pecado. Portanto, tal irremediabilidade implica em maior gravidade do pecado. Ao passo que a avareza é irremediável por defeito humano, no qual sempre cai: a natureza humana; porque, quanto mais defeitos tivermos tanto mais precisaremos do adminículo dos bens externos e, portanto, mais descambarernos para a avareza. Por onde, essa irremediabilidade não indica maior gravidade do pecado, mas, de certo modo, e mais perigosa.

RESPOSTA À QUARTA. – A avareza é comparável à idolatria por uma certa semelhança que tem com ela; porque, como a idolatria nos sujeita a uma criatura exterior, assim também o avarento. Mas não do mesmo modo; pois, a idolatria nos sujeita à criatura exterior, fazendo–nos prestar–lhe culto divino; ao passo que o avarento se sujeita a tal criatura, cobiçando–a imoderadamente para seu uso e não para lhe prestar culto. Por onde, a avareza não tem necessariamente tamanha gravidade como a idolatria,

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