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Art. 4 – Se a adivinhação feita com invocação dos demônios é ilícita.

O quarto discute–se assim. – Parece que a adivinhação feita com invocação dos demônios não é ilícita.

1. – Pois, Cristo, nada praticou de ilícito, como se lê na Escritura: O qual não comete pecado. Ora, o Senhor interrogou o demônio: Que nome é o teu! E este: Legião, disse, porque somos muitos. Logo, parece lícito interrogar o demônio sobre coisas ocultas.

2. Demais, – As almas dos santos não favorecem os que interrogam ilicitamente. Ora, Samuel apareceu a Saul, quando consultava uma mulher, que tinha o espírito pitônico, sobre uma guerra futura, e lhe predisse o que havia de acontecer, como lemos na Escritura, Logo, a adivinhação feita por interrogação aos demônios não é ilícita.

3. Demais. – Parece lícito indagar uma verdade, que nos é útil saber, de quem a conhece. Ora, às vezes é útil conhecer certas coisas ocultas, que os demónios podem saber; como por. exemplo, quando se trata de descobrir um furto. Logo, a adivinhação feita com invocação dos demônios não é ilícita.

Mas, em contrário, a Escritura: Nem se ache entre vós quem consulte adivinhos nem quem consulte aos pitões.

SOLUÇÃO. – Toda adivinhação feita com invocação dos demônios é ilícita por duas razões. – A primeira se funda no princípio da adivinhação, que consiste num pacto feito com o demônio pela invocação do mesmo. E isto é absolutamente ilícito. Por isso a Escritura diz contra certos: Vós dissestes: Nós fizemos um concerto com a morte e fizemos um pacto com o inferno. E ainda seria mais grave fazer sacrifício ao demônio invocado e reverenciá–lo. – A segunda razão se funda no acontecimento futuro. Pois, O demônio, visando a perdição dos homens, procura com as suas respostas, mesmo quando verdadeiras às vezes, acostumá–los a acreditar nele; e assim, leva–los ao que lhes é prejudicial à salvação. Por isso, Atanásio, expondo aquilo do Evangelho – Repreendeu–o dizendo: cala–te – diz: Embora o demônio confessasse a verdade, contudo Cristo embargou–lhe a palavra para que, confessando–a, não manifestasse também a sua iniquidade. E ainda para nos acostumar a não cuidar de tais coisas, ainda que ditas com verdade; pois, é mau deixarmo–nos instruir do diabo, quando temos ao nosso dispor a Escritura divina.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Como diz Beda, o Senhor não interrogou como ignorante, mas para que, confessada a doença, que permitia, fulgisse mais digno de agradecimento o seu poder curativo. Ora, uma causa é interrogar o demónio, que acode espontaneamente, o que às vezes é lícito, para utilidade alheia, sobretudo quando o poder divino pode compeli–lo a falar verdade; e outra, invocá–lo para obter dele o conhecimento de coisas ocultas.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Agostinho diz: Não é absurdo crer que a aparição de Samuel não tivesse sido produzida por virtude de nenhuma arte ou poder maçicos, mas por uma disposição secreta da Providência, desconhecida tanto de Seul como da pitonissa, que fez aparecer o espírito do justo para intimar ao rei a sentença que deveria feri–lo. Ou também, podemos pensar que a alma de Samuel não foi verdadeiramente tirada do seu lugar de repouso, mais que o demônio formou, com as suas maquinações, um fantasma e uma ilusão imaginária, a que a Escritura deu o nome de Samuel, assim, como as imagens das coisas costumam ser designadas pelos nomes destas.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Nenhuma utilidade temporal pode ser comparada ao dano que sofre a salvação da nossa alma, resultante da inquirição de coisas ocultas, por invocação dos demônios.

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