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Art. 2 – Se há diversas espécies de superstição.

O segundo discute–se assim. – Parece que não há diversas espécies de superstição.

1. – Pois, segundo o Filósofo, se um dos contrários tem muitas significações, também as tem o outro, Ora, a religião, a que se opõe a superstição, não tem diversas espécies, mas a uma só se referem todos os seus atos. Logo, também a superstição não tem espécies diversas.

2. Demais. – Os contrários tem o mesmo objeto. Ora, a religião, a que se opõe a superstição, versa sobre os meios de nos ordenarmos para Deus, como estabelecemos. Logo, certas adivinhações dos acontecimentos humanos ou certas observâncias dos atos dos homens não podem constituir espécies de superstição, que se oponham à religião.

3. Demais. – Aquilo do Apóstolo – As quais tem aparência de sabedoria em culto indevido – diz a Glosa: isto é, com uma religião simulada. Logo, também a simulação deve ser considerada uma espécie de superstição.

Mas, em contrário, Agostinho admite diversas espécies de superstição.

SOLUÇÃO. – Como já dissemos o vício da superstição consiste em ultrapassar a mediedade da virtude, relativamente a certas circunstâncias. Ora, segundo dissemos, não é qualquer diversidade de circunstâncias indevidamente observadas que varia a espécie do pecado, mas só quando elas se referem a objetos ou fins diversos; pois, é assim que os atos morais se especificam, conforme estabelecemos. Por onde, as espécies de superstição se diversificam, primeiro, pelo modo; segundo, pelo objeto. Pois, o culto divino pode ser prestado a quem deve sê–lo, isto é, ao verdadeiro Deus, mas de modo indevido, e esta é a primeira espécie de superstição. Ou a quem não devia sê–lo, isto é, a uma criatura qualquer; e este é outro género de superstição, que se divide em muitas espécies, conforme aos diversos fins do culto divino.

Ora, o culto divino se ordena, primeiro, a reverenciar a Deus. E então, a primeira espécie desse gênero é a idolatria, que presta reverência divina indebitamente à criatura. – Ele se ordena, em segundo lugar, a fazer o homem instruído de Deus, a quem cultua. E então há lugar para a superstição divinatória, que consulta os demônios, por certos pactos tácitos ou expressos feitos com eles. – Em terceiro lugar, o culto divino se ordena a dar uma certa direção aos atos humanos, conforme aos mandamentos de Deus, objeto do culto. Donde a superstição, cuja matéria são certas observâncias.

E a essas três se refere Agostinho quando diz o seguinte: É supersticioso tudo quanto foi estabelecido pelos homens para fazer ídolos e prestar–lhes culto, o que entra no primeiro gênero de superstição. E depois acrescenta: Ou para obter consultas e realizar certos pactos fundados em acordos e alianças com os demônios para alcançar revelações, o que constitui o segundo género. E logo a seguir: Neste género que é o terceiro, entram todos os amuletos e causas semelhantes.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃ0. – Como diz Dionísio, o bem resulta de uma causa una e íntegra; mas, o mal, de qualquer defeito. Por isso, a uma mesma virtude se opõem muitos vícios, como estabelecemos. Quanto às palavras do Filósofo, elas são verdadeiras relativamente aos contrários em que a multiplicação tem o mesmo fundamento.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Certas adivinhações e observâncias constituem superstição por dependerem de determinadas obras dos demónios. E então importam em pactos feitos com eles.

RESPOSTA À TERCEIRA. – No lugar citado, religião simulada significa a aplicação do nome de religião à tradição humana, como diz a Glosa logo a seguir. Por onde, essa religião simulada outra coisa não é que o culto do Deus verdadeiro prestado de modo indevido. Como se alguém, sob a vigência da lei da graça, quisesse cultuar a Deus segundo os ritos da lei antiga. E a isto é a que literalmente se refere à Glosa.

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