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Art. 5 — Se em Deus há mais de duas processões.

(IV Cont Gent., cap. XXIV; De Pot., q. 9,a. 9; 10, a. 2. ad argumenta sed contra)
 
O quinto discute-se assim. — Parece que há em Deus mais de duas processões.
 
1. — Pois, assim como a ciência e a von­tade se atribuem a Deus, assim também a potência. Se, portanto, se admitem em Deus duas processões, segundo o intelecto e a vontade, re­sulta que se deve admitir uma terceira, segundo a potência.
 
2. Demais. — A bondade é por excelência o princípio da processão; pois, como se disse, o bem é difusivo de si1. Logo, devemos admitir uma processão, em Deus, segundo a bondade.
 
3. Demais. — O vigor da fecundidade é maior em Deus que em nós. Ora, em nós não há só uma, mas muitas processões do verbo; pois de um verbo procede outro, e semelhante­mente, de um, outro amor. Logo, há em Deus mais de duas processões.
 
Mas, em contrário, em Deus só há dois procedentes, o Filho e o Espírito Santo. Logo, só há nele duas processões.
 
Solução. — Em Deus só se podem admitir processões segundo os atos imanentes no agen­te. Ora, tais atos, em a natureza intelectual e divina, são apenas dois — inteligir e querer. Pois o sentir, que também se considera como operação do que sente, está fora da natureza intelectual; nem é totalmente diverso do gênero de atos tendentes ao exterior, pois o sentir se completa pela ação sensível, no sentido. Donde se conclui que em Deus não pode haver outra processão, além da do Verbo e do Amor.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — A potência é princípio de ação transitiva, e por isso, fundados nela, admitimos a ação transi­tiva. E assim, quanto ao atributo da potência, não se admite processão da Pessoa divina, mas só das criaturas.
 
Resposta à segunda. — A bondade, como diz Boécio, pertence à essência e não à operação2, a não ser talvez como objeto da vontade. Donde, como é necessário admitir as processões divinas, em relação a certos atos, não se podem admitir outras processões, relativamente à bon­dade e atributos semelhantes, a não ser a do Verbo e a do Amor, pelas quais Deus intelige e ama a sua essência, a sua verdade e a sua bon­dade.
 
Resposta à terceira. — Como já demonstramos3, Deus, por um ato simples, tudo intelige e semelhantemente tudo quer. Donde, o não poder existir nele um verbo, procedendo, de outro verbo, nem um amor procedendo de outro amor; mas existe um só Verbo perfeito com um só perfeito amor. E isto lhe manifesta a perfeita fecundidade.

  1. 1. De Div. Nom., c. 4.
  2. 2. De Hebd.
  3. 3. Q. 14, a. 7; q. 19, a. 5.
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