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Art. 6 – Se o ato da ciência adquirida nesta vida permanece na alma separada.

O sexto discute–se assim. – Parece que o ato da ciência adquirida nesta vida não permanece na alma separada.

1. – Pois, diz o Filósofo, que, corrupto o corpo, a alma nem se lembra, nem ama. Ora, lembrar–se é pensar no que já se conhecia. Logo, a alma separada não pode ter ato da ciência que adquiriu nesta vida.

2. Demais. – As espécies inteligíveis não hão de ser mais eficientes na alma separada do que na que está unida ao corpo. Ora, pelas espécies inteligíveis não podemos inteligir, presentemente, a não ser voltando–nos para os fantasmas, como já se estabeleceu antes. Logo, também a alma separada não poderá inteligir de outro modo. E, então, de nenhum modo poderá inteligir pelas espécies inteligíveis adquiridas nesta vida.

3. Demais. – O Filósofo diz: os hábitos tornam os atos semelhantes aos atos pelos quais são adquiridos, Ora, adquire–se o hábito da ciência, nesta vida, pelos atos do intelecto, que se volta para os fantasmas. Logo, não pode tornar outros atos semelhantes a estes. –Ora, tais atos não são próprios à alma separada. Logo, esta não terá nenhum ato da ciência adquirida nesta vida.

Mas, em contrário, na Escritura se diz ao rico precipitado no inferno: Lembra–te que recebeste bens em tua vida.

SOLUÇÃO. – Duas coisas se devem considerar num ato : a espécie e o modo. Aquela se deduz do objeto ao qual é dirigido o ato da virtude cognoscitiva, por meio da espécie, que é semelhança do objeto. Porém o modo do ato é determinado pela virtude do agente.

Assim, vemos uma pedra por meio da espécie da mesma, que está nos olhos; mas se a vemos com agudeza, isso provém da virtude visiva dos olhos. Como, pois, as espécies inteligíveis permanecem na alma separada, segundo já se disse, e como o estado dela não é o mesmo que o da vida presente, resulta que, pelas espécies inteligíveis adquiridas nesta vida, a alma separada poderá inteligir o que antes já inteligira: não, porém, do mesmo modo, isto é, voltando–se para os fantasmas, mas por modo que lhe seja conveniente. Assim, que os atos da ciência adquirida nesta vida permanecem, por certo, na alma separada; mas não do mesmo modo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ O Filósofo fala da reminiscência, enquanto a memória pertence à parte sensitiva, não, porém, enquanto a memória está, de certo modo, no intelecto, como já se disse.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Os diversos modos de inteligir não provêm da diversidade das espécies; mas dos diversos estados da alma que intelige.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Os atos pelos quais se adquire o hábito são semelhantes aqueles que os hábitos causam, quanto à espécie do ato; não, porém, quanto ao modo de agir. Pois, é o operar coisas justas, mas não justa­mente, isto é, deleitavelmente, que causa o hábito da justiça política, pelo qual operamos deleitávelmente.

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