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O Circo da Monfort

Dom Lourenço Fleichman OSB

Sempre procurei rebater as coisas que considero erradas e que vou encontrando aqui e ali, nas leituras dessa vida, tomando-as pelo que elas são, procurando entender o fundo do pensamento do autor e, de preferência, evitando centralizar no próprio as conclusões a que chego. O sr. Orlando Fedeli, ao contrário, prefere ficar apontando com o dedo a pessoa que escreveu. Fedeli escreve como se estivesse num picadeiro de circo entretendo seus discípulos boquiabertos: - "Fenomenal". Acontece que as pessoas inteligentes, que gostam de conhecer a verdade, quando vão ao circo, é para levar seus filhos. Jamais pretenderiam encontrar sob a lona respostas às suas indagações transcendentais. Como este senhor não está muito interessado na verdade, montou um circo, que mais parece uma seita. Porque a primeira coisa que se deve reconhecer no artigo do sr. da Monfort é a difamação, a manipulação dos leitores e seu desprezo por aquilo mesmo que eu escrevi. Leia mais

Pergunto-me, em primeiro lugar, porque o Fedeli resolveu me apontar no meio do seu circo. Já escrevi diversas vezes artigos tratando da crise da Igreja, escrevi até mesmo um artigo que, sem falar diretamente desse grupo, poderia ser aplicado a ele e à sua Monfort, visto que é uma instituição sem linhagem espiritual, sem outros mestres senão o sr. Fedeli. Será que o levantamento das excomunhões tirou deste senhor o gosto de bater na Fraternidade S. Pio X, afinal, agora já não são "excomungados", sobrando assim para mim? Além disso, quando se tem toda a direção da Fraternidade S. Pio X e a grande maioria dos fiéis manifestando nos jornais e na internet idéias aparentemente diferentes das minhas, qual a relevância do meu artigo? Porque dar tanta importância ao artigo de um monge que ele despreza? Sobra a impressão de que o Fedeli precisa de um saco de pancadas para aliviar suas neuroses. Devo então, me sentir feliz por servir-lhe em alguma coisa.

1º erro do sr. Fedeli: Ao contrário do que ele afirma, eu não sou muito ligado a Dom Williamson. Tenho para com os quatro bispos da Fraternidade o mesmo respeito, gratidão, reverência. Tive apenas uma ou duas ocasiões de me dirigir a Dom Williamson. Também nas idéias, penso de modo diferente deste grande bispo da Fraternidade, em muitos pontos, sem que isso diminua meu respeito por ele. Infelizmente, nem todo mundo consegue manter o respeito quando discorda das idéias ou opiniões de outro.

2º erro do sr. Fedeli: tenho laços evidentes de amizade, admiração, colaboração com a Fraternidade São Pio X. Não são nem oficiais nem oficiosos, pois isso significaria uma dependência que não existe. Meu espírito de obediência às orientações da Fraternidade é de outra ordem.

3º erro do sr. Fedeli: Nunca disse e não está escrito isso no meu artigo, portanto não posso ter "repetido" que "o depósito da fé passou de Roma para a FSSPX, e que o posto de direção da Igreja, agora, é da FSSPX". A malícia dos intrigueiros é que cheira.

4º erro do sr. Fedeli: As palavras da mentira e da calúnia vão ganhando desenvoltura e cegando cada vez mais. Meu artigo é todo ele para atrair a atenção dos leitores sobre o que é essencial na questão das excomuhões. É um libelo contra o sentimentalismo que toma conta das pessoas em momentos como esse. Mas já cego pelo desejo de denegrir e falar mal, o sr. Fedeli mergulha no seu 4º erro sem nem perceber que leu errado todo o meu artigo. E inventa que eu me mostro contrário às conversações que Dom Fellay e a Fraternidade sempre solicitaram de Roma. Ora, a única passagem do meu artigo em que eu falo nisso, diz o contrário. Eis a citação: "A única coisa que muda com esse ato do papa, é que a Fraternidade fica à disposição do Papa para se sentarem à mesa e discutirem em termos de verdadeira teologia, os desmandos desse concílio." Mas essa frase ele não cita hora nenhuma, ela não serve para seus mesquinhos intentos.

5º erro do sr. Fedeli: Peço vênia ao grande senhor: emiti uma opinião, declarei que era minha opinião. Tenho meus motivos. Em vez de fazer gracinhas colocando na minha boca que eu espero a morte de Bento XVI, espera-se de uma pessoa com um pingo de honestidade que mostre que a opinião declarada não tem fundamento. Ao contrário disso, deixa o delírio tomar conta da sua cabeça. Quanto mais avançamos na leitura do texto deste senhor, mais se vai confirmando que ele nada mais fez do que manipular seus leitores. As alucinações do homem levam-no a simplesmente inventar frases e pensamentos que nunca tive. É assim que chegamos ao seu sexto erro:

6º erro do sr. Fedeli: Como o dono do circo começa o delírio chutando o palhaço para ver se ele chora e alegra a platéia, devo dizer que sou o último dos filhos de São Bento, mas não sou um "vagus", que na linguagem da Santa Regra significa um monge "sem mosteiro, sem prior, sem abade", como me acusa o inconsequente articulista. Sou monge do Mosteiro da Santa Cruz cujo prior é Dom Tomás de Aquino Ferreira da Costa. Se eu vivo no mosteiro ou não, isso não é da conta de ninguém, basta que as pessoas saibam que eu vivo na obediência. O que importa para as pessoas é saber se minha vida é escandalosa ou não. Aparentemente, devo me sentir em paz, pois tenho o respeito e a amizade de Dom Fellay, de Dom Galarreta, de Dom Tissier de Mallerais e, com muito orgulho, de Dom Williamson. Diga-me com quem andas e te direi quem és! Se os desejos de oração por mim que Fedeli exprime no fim do seu artigo fossem sinceros, ele não teria se rebaixado me atacando dessa forma. É só mais fumaça para enganar seus leitores.

7º erro do sr. Fedeli: as duas frases que seguem aquele pontapé do 6º erro são da lavra do sr. Fedeli. Não correspondem ao meu pensamento, são calúnias e mentiras. É a hora do mágico prestidigitador entrar no picadeiro. Realmente, o espetáculo é grandioso e o circo da Monfort tem uma programação recheada! Agora, baseado na tese de que eu sou um monge "vagus", tenta induzir o leitor a pensar que eu não aceito bem a obediência e que o meu pensamento é de que não adiantaria nada o papa condenar Vaticano II e a missa nova.

A questão não está na gracinha do mágico ilusionista: “se o Papa não condena, é herege, se condena não adianta”. Estamos diante de uma euforia desmedida que esconde o que há de principal, que é a questão da fé e da verdade. Por isso é preciso sublinhar e insistir que não são duas ou três medidas de boa vontade do Papa para com a Fraternidade que vai fazer desaparecer quarenta anos da obra do pós-Concílio, que é uma obra de demolição. É preciso ter a clareza do espírito para analisar a situação e ver que, junto com o Motu Proprio (que é limitado) e com o levantamento das excomunhões, temos um pontificado que ensina erros já comuns aos quarenta anos de Igreja Conciliar. Como nós não somos sede-vacantistas, nos importa muito que os ensinamentos vindos de Roma não estejam em continuidade aos do Vaticano II. Mas isso não se observa. Mais uma vez vemos um desses católicos que se interessam mais pelo lado canônico do que pela fé e pela verdade. Se a Monfort se pauta pelos carimbos do Vaticano e não pela verdade que lá é ensinada, é problema dela. Mas não se pode exigir isso de todo mundo. É preciso dar aos acontecimentos dessa última semana o seu valor real: as duas condições prévias para que a Fraternidade se sente com confiança numa rodada de discussões teológicas foram colocadas pelo Papa. Muito bem. Daí a achar que as conversações chegarão a um entendimento doutrinário, é outra coisa. E como não se vê, em Roma, um ensinamento tradicional nos pontos essenciais demolidos pelo último Concílio, tenho todo o direito de achar que não haverá consenso. É minha opinião. Se o sr. Fedeli discorda dela, em vez de fazer gracinhas superficiais e circenses, deveria mostrar para os seus devotos discípulos que ele pensa de outra forma e não ficar sugando o sangue do pescoço alheio. Eu pergunto, no artigo: "Vai mudar alguma coisa no ambiente, no espírito de Assis, na imensidão da obra pós-concíliar que nada tem de católica?" Ora, o sr. Fedeli conhece muito bem a profundidade da crise em cada paróquia do mundo. Ele sabe muito bem que a restauração da vida católica exigirá um esforço heróico de um santo. O mínimo que se espera, para que se tenha uma esperança verdadeira de que estamos nesse caminho é que a doutrina emanada do sucessor de S. Pedro, seja ortodoxa, católica, corresponda ao que a Santa Igreja sempre ensinou. Se isso não ocorre (isso não é opinião, é constatação), baseado em quê devo eu esperar uma restauração do catolicismo?

8º erro do sr. Fedeli: Afirma o sábio professor que eu cito Corção para por em dúvida a restauração da Igreja que Bento XVI está promovendo. Ora, a frase de Gustavo Corção que eu cito, tem um sentido muito claro. E se o artigo deste senhor fala nisso, porque não analisa o que está dito? É verdade ou não é verdade que toda demolição tem algo de definitivo? É verdade ou não é verdade que não se restaura o que já está por terra? E se, para ele, Vaticano II não jogou o catolicismo por terra, eu ficaria muito grato que ele mostrasse qual a pilastra, qual a parede que permanece de pé!

9º erro do sr. Fedeli: Diz ele que eu teria esquecido das coisas que Jesus disse. Infeliz seria eu se houvera esquecido do meu Deus. Ao contrário, é só nele que espero, só nele que confio. "Bonum est confidere in Domino quam confidere in homine". Devo concordar com o sr. Fedeli quando diz que Deus vai restaurar a sua Igreja. Ah! nisso ele tem razão. Mas para que essa esperança seja baseada na ação de Bento XVI ou de qualquer outro papa futuro, é preciso maiores evidências do que os dois gestos que vimos até agora. Se este senhor não tivesse a alma tão atormentada, veria que as minhas opiniões, apesar de diferentes das suas, não são sem pontos em comum. Mas quando a cegueira faz alguém ler todo um artigo sem querer compreender nenhuma linha dele, fica dificil esperar mais do que esse amontoado de mentiras, calúnias e gracinhas superficiais.

Não será a primeira vez que as calúnias e as mentiras desse senhor me atingem. Mas creio ser a primeira vez que ele faz isso de modo público. Para os seus fiéis discípulos as artimanhas deste senhor contra a minha pessoa datam de muito longe. Divertiram-me, é verdade, muitas vezes. Como na afirmação de que eu sou um "monge surfista", ou pertenço "à maçonaria branca", seja lá o que isso signifique. A mais hilariante de todas, é quando escreve a um leitor: "Dom Lourenço é um monge ignorante, incapaz e de pouca virtude". Poucas vezes vi uma crítica tão completa, visto que a ignorância torna vazia a inteligência; a incapacidade torna estéril qualquer obra; a pouca virtude mergulha o pobre coitado na vida de pecados. Com isso, nada mais me restaria senão sentar no meio fio "e chorar lágrimas de esguicho", ou raspar minha lepra com um caco de telha. Enquanto isso, do outro lado, ouve-se a fanfarra tocar: Para todos os que gostam de circo, entrem! Mais um espetáculo vai começar!

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