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Art. 7 ― Se a semelhança é causa do prazer.

O sétimo discute-se assim. ― Parece que a semelhança não é causa do prazer.
 
1. ― Pois, governar e presidir implica dissemelhança. Ora, ambos são deleitáveis, naturalmente, como diz Aristóteles1. Logo, mais que a semelhança, a dissemelhança é causa do prazer.
 
2. Demais. ― Nada é mais dissemelhante do prazer que a tristeza. Ora, os que sofrem de alguma tristeza são os que mais procuram os prazeres, como diz Aristóteles2. Logo, a dissemelhança é, mais que a semelhança, causa do prazer.
 
3. Demais. ― Os que superabundam em certos prazeres não se deleitam, mas antes, se enfastiam com eles, como o mostram os que se abarrotam de alimentos. Logo, a semelhança não é causa do prazer.
 
Mas, em contrário, a semelhança é causa do amor, como antes se disse3. Ora, o amor é causa do prazer. Logo, a semelhança é causa do prazer.
 
Solução. ― A semelhança é uma certa unidade; por isso, o semelhante, enquanto uno, é deleitável e amável, como já dissemos4. Por onde, o semelhante que não corrompe, mas aumenta o nosso bem próprio, é deleitável, absolutamente; assim, o homem para o homem, o jovem para o jovem. O que porém corrompe o nosso bem próprio se nos torna acidentalmente aborrecido e causa a tristeza, não por certo como semelhante e uno, mas por corromper o que tem maior unidade.
 
Ora, de dois modos o semelhante pode corromper o nosso bem próprio. De um modo, corrompendo a medida desse bem, por excesso; pois o bem, sobretudo o corpóreo, como a saúde, consiste numa certa comensuração; e por isso, os que superabundam em alimento ou em qualquer prazer corpóreo, se enfastiam. De outro modo, por contrariedade direta com o bem próprio; assim, os oleiros se detestam, não como oleiros, mas por fazerem uns os outros perder a excelência ou lucro próprios, que desejam como bem próprio.
 
Donde a resposta à primeira objeção. ― Entre governador e governado, havendo uma certa comunidade, há também uma determinada semelhança que porém implica uma determinada excelência, porque governar e presidir respeitam à excelência do bem próprio; assim, aos prudentes e aos melhores compete governar e presidir; e isso desperta no homem, a representação da bondade própria. ― Ou porque, governando ou presidindo, fazemos bem aos nossos semelhantes, e isso é deleitável.
 
Resposta à segunda. ― Aquilo com que se deleita o homem triste, embora não seja semelhante à tristeza contudo é-lhe semelhante a ele, pois a tristeza contraria o bem próprio de quem está triste; e por isso os tristes desejam o prazer, que contribui para o bem próprio deles, enquanto remédio do contrário. E esta é a causa porque os prazeres corpóreos, a que são contrárias certas tristezas, são mais desejados do que os intelectuais, que não tem a contrariedade da tristeza, como a seguir se dirá5. E assim se explica também porque todos os animais desejam naturalmente o prazer, pois o animal tem a sua atividade sempre ligada aos sentidos e ao movimento. E também porque os moços são os que mais buscam o prazer, por causa das muitas mudanças, que, por crescerem, sofrem. E por fim, também os melancólicos desejam veementemente os prazeres, para expulsar a tristeza; pois, o corpo deles é como que corroído pelo mau humor, conforme Aristóteles6.
 
Resposta à terceira. ― Os bens corpóreos implicam uma certa medida. Por onde, o superexcesso de prazeres semelhantes corrompe o bem próprio. E assim, esse superexcesso torna-se fastidioso e causa de tristeza, enquanto contraria o bem próprio do homem.

  1. 1. I Rhetor., cap. XI.
  2. 2. VII Ethic., lect. XIV.
  3. 3. Q. 27, a. 3.
  4. 4. Ibid.
  5. 5. Q. 35, a. 5.
  6. 6. VII Ethic., lect. XIV.
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