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Art. 1 ― Se a atividade é a causa própria e primeira do prazer.

(IV Sent., dist. XLIX, q. 3, a . 2).
 
O primeiro discute-se assim. ― Parece que a atividade não é a causa própria e primeira do prazer.
 
1. ― Pois, como diz o Filósofo: deleitar-se consiste em o sentido sofrer1, porquanto o prazer supõe o conhecimento, como ficou dito2. Ora, antes de conhecermos as atividades mesmas, conhecemos-lhe os objetos. Logo, a atividade não é a causa própria do prazer.
 
2. Demais. ― O prazer consiste principalmente no fim alcançado o qual é principalmente desejado. Ora, nem sempre a atividade é um fim, mas às vezes este é o objeto da ação. Logo, a atividade não é a causa própria e por si mesma do prazer.
 
3. Demais. ― O ócio e o descanso supõem a cessação da atividade. Ora, ambos são agradáveis, como diz Aristóteles3. Logo, a atividade não é a causa própria do prazer.
 
Mas, em contrário, diz o Filósofo, que o prazer é uma operação conatural, não impedida4.
 
Solução. ― Como já dissemos5, duas condições são exigidas para o prazer: a consecução do bem conveniente e o conhecimento dessa consecução. Ora, aquela e este consistem numa determinada atividade; pois, o conhecimento atual é uma atividade e semelhantemente por uma certa atividade é que alcançamos o bem conveniente. E também a atividade própria é um certo bem conveniente. Por onde é necessário todo prazer dependa de alguma atividade.
 
Donde a resposta à primeira objeção. ― Os objetos mesmos da atividades não são deleitáveis senão enquanto que conosco se conjugam, quer pelo só conhecimento, como quando nos deleitamos na consideração ou visão de certos objetos, quer simultaneamente como o conhecimento, de qualquer outro modo, como quando nos deleitamos sabendo que possuímos algum bem, p. ex., as riquezas, a honra ou coisas semelhantes, que por certo não seriam deleitáveis se não fossem conhecidas como possuídas. Pois, como diz o Filósofo6, há grande prazer em considerar uma coisa própria nossa, isso procede do amor natural que temos por nós mesmos. Ora, possuir tais coisas não é senão usar ou poder usar delas, o que supõe alguma atividade. Por onde, é manifesto que todo prazer se reduz à atividade como à sua causa.
 
Resposta à segunda. ― Mesmo quando os fins visados são, não as atividades, mas os resultados delas, estes são deleitáveis enquanto possuídos ou feitos, o que diz respeito a algum uso ou atividade.
 
Resposta à terceira. ― As atividades são deleitáveis enquanto proporcionadas e conaturais ao agente. Ora, como a virtude humana é finita, a atividade lhe é proporcional conforme uma certa medida. Por onde, excedendo essa medida, já não será proporcional nem deleitável, mas antes, laboriosa e molesta. E neste sentido, o ócio, o jogo e tudo o que respeita ao repouso é deleitável porque expunge a tristeza, procedente do que é penoso.

  1. 1. I Rhetor., cap. XI.
  2. 2. Q. 31, a. 2.
  3. 3. I Rhetor., loc. cit.
  4. 4. VII Rhetoric., lect. XII et X, lect. VI.
  5. 5. Q. 31, a. 1.
  6. 6. II Polit., lect. IV.
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