Skip to content

Art. 2 ― Se todas as paixões da alma são moralmente más

(Infra, q. 59, a . 2; De Malo, q. 12 a . 1).
 
O segundo discute-se assim. ― Parece que todas as paixões da alma são moralmente más.
 
1. ― Pois, diz Agostinho: certos denominam as paixões doenças ou perturbações da alma1. Ora, toda doença ou perturbação da alma é um mal moral. Logo, todas as paixões são moralmente más.
 
2. Demais. ― Damasceno diz: a operação é um movimento conforme à natureza, e a paixão, contrário2. Ora, o que encontra a natureza, nos movimentos da alma, se equipara ao pecado e ao mal moral; e por isso o mesmo autor diz, noutro passo, que o diabo caiu de um estado natural para outro, contrário à natureza3. Logo, as paixões são moralmente más.
 
3. Demais. ― Tudo o que induz ao pecado tem natureza de mal. Ora, tais são as paixões por isso, denominadas, na Escritura (Rm 7, 5), paixões dos pecadores. Logo, são moralmente más.
 
Mas, em contrário, diz Agostinho: do amor reto são retos todos os afetos. Pois, os que o nutrem desejam perseverar, condoem-se dos pecados, alegram-se com as boas obras4.
 
Solução. ― Sobre esta questão tinham opiniões diversas os estóicos e os peripatéticos, aqueles, considerando más todas as paixões, estes, tendo as moderadas por boas. Esta diferença de doutrinas porém, embora pareça grande, verbalmente é nula ou insignificante, realmente, para quem lhes considerar as intenções. Ora, os estóicos, não discernindo entre o sentido e a inteligência, e portanto entre o apetite intelectivo e o sensitivo, não discerniam também entre as paixões da alma, cuja sede é o apetite sensitivo, e os simples movimentos da vontade, que residem no intelectivo. Por onde, denominavam vontade qualquer movimento racional da parte apetitiva e paixão, qualquer movimento que extravasa dos limites da razão. Por isso, Túlio5, seguindo-lhes a opinião, chama doenças a todas as paixões, donde se conclui que os doentes não tem saúde e os que não tem saúde são insipientes, chamando-se assim insanos aos insipientes. Os peripatéticos, por seu lado, denominavam paixões todos os movimentos do apetite sensitivo, considerando boas as moderadas pela razão e más as carecentes dessa moderação. Por onde se vê que Túlio, no mesmo livro rejeita como inconveniente a opinião dos peripatéticos, admitindo a moderação nas paixões e diz: devemos evitar todo mal, ainda moderado; pois, assim como não está são quem está moderadamente doente, assim não é sã a moderação, de que se trata, das doenças ou paixões da alma. Ora, as paixões não se consideram doenças ou perturbações da alma senão quando carecem da moderação da razão.
 
Donde se deduz a resposta à primeira objeção.
 
Resposta à segunda. ― Todas as paixões da alma aumentam ou diminuem o movimento natural do coração, acelerando ou retardando-lhe a sístole ou a diástole; e isto manifesta a essência de paixão. Logo, não é necessário que toda paixão sempre se desvie da ordem natural da razão.
 
Resposta à terceira. ― As paixões da alma, quando contrárias à ordem da razão, inclinam para o pecado; ordenadas porém pela razão, auxiliam a virtude.

  1. 1. IX De civit. Dei, cap. IV.
  2. 2. Lib. II Orthod. Fid., cap. XXII.
  3. 3. Lib. II Orthod. Fid., cap. IV.
  4. 4. XIV De civitate Dei, cap. IX.
  5. 5. III lib. De tusculanis quaestionibus, cap. IV.
AdaptiveThemes