Category: Virtudes
Para compreender como deve ser o funcionamento do organismo espiritual, é importante saber distinguir, sob as virtudes teologais, as virtudes morais adquiridas, já descritas pelos moralistas da antigüidade pagã e que podem existir sem o estado de graça, das virtudes morais infusas, ignoradas dos moralistas pagãos e descritas no Evangelho. As primeiras, como seu nome indica, adquirem-se pela repetição dos atos sob a direção da razão natural mais ou menos desenvolvida. As segundas são ditas infusas, porque somente Deus pode produzi-las em nós; não são o resultado da repetição de nossos atos: recebemo-las no batismo, como partes do organismo espiritual e, se tivermos a infelicidade de perdê-las, a absolvição no-las restitui. As virtudes morais adquiridas, conhecidas dos pagãos, possuem um objeto acessível à razão natural; as virtudes morais infusas possuem um objeto essencialmente sobrenatural, proporcionado ao nosso fim sobrenatural, que seria inacessível sem a fé infusa na vida eterna, na gravidade do pecado, no valor redentor da Paixão do Salvador, no penhor da graça e dos sacramentos.
Com relação à vida interior, falaremos primeiramente das virtudes morais adquiridas, depois das virtudes morais infusas e, enfim, das relações de umas com outras.
Trataremos:
1. O Testemunho de Cristo e de São Paulo
2. Que é, em linhas gerais, a vida de Cristo em nós;
3. Conseqüências práticas e aplicação às diversas virtudes em particular.
Muitos erros práticos na vida espiritual provêm do fato de esquecermos de considerar que em tudo é preciso primeiramente querer o fim e que este fim só se realiza ou se obtém em último lugar. Como diz muitas vezes Santo Tomás: “o fim é o primeiro na ordem da intenção e último na ordem da execução” (Ia. IIae., q. 1, a. 4). O doente quer a saúde mais do que os remédios mas só após empregar os remédios é que recobra a saúde desejada. O arquiteto concebe a Igreja que quer construir em toda sua altura mas ele tem, evidentemente, que começar pelas fundações e não pelas abóbadas. Na ordem material, só os loucos é que se afastam deste bom senso elementar. Mas na ordem espiritual é fácil se afastar dele sem se notar. Muitos parecem querer começar pelas abóbadas e flechas e não pelos alicerces, a construção do edifício espiritual ou, para empregar outra imagem, parecem querer voar sem ter asas.
Desejaríamos recordar neste artigo qual é o alcance do princípio que acabamos de lembrar, para o itinerário espiritual. Será este um modo de completar praticamente o que muitas vezes dissemos sobre o caminho normal da santidade onde é preciso, contrariamente aos quietistas, evitar tanto a presunção como a preguiça espiritual, não avançando nem muito cedo nem muito tarde mas, como deseja o Senhor, fortiter e suaviter.
Nosso Senhor diz aos seus Apóstolos: Se vos não converterdes e vos não tornardes como meninos, não entrareis no reino dos céus. São Paulo acrescenta: o Espírito Santo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus, e nos aconselha freqüentemente uma grande docilidade ao Espírito Santo. Esta docilidade se encontra particularmente na via da infância espiritual, recomendada por muitos santos e, ultimamente, por Santa Teresa do Menino Jesus. Esta via, tão fácil e proveitosa para a vida interior, é muito pouco conhecida e seguida.
Os acontecimentos desses últimos dias marcados de violência levaram-me a pensar que têm muita razão os que já apontaram o predominante papel do medo na cultura moderna.
Meditemos diante de Deus, e demoremo-nos na consideração de Seus dons.
Pelo leite e pelo sangue da Sagrada Doutrina, sabemos que para vivermos cristãmente, isto é, para nos entregarmos totalmente aos trabalhos do Espírito, que opera em nós a modelagem do divino exemplar, para assim podermos voltar ao Pai, precisamos possuir órgãos, forças, faculdades espirituais que só Deus pode dar, e sem as quais todos os nossos esforços se perderiam em disparates e confusão.
Esta semana, compelido à busca de alguns textos em vista de um estudo que ainda sonho escrever, passei-a quase toda a ler os autores antigos: o Pe.Garrigou Lagrange, o Pe. Gardeil, e a incomparável Doutora Santa Teresa de Jesus em cujas páginas não encontrei o texto exato que procurava, mas encontrei o que não procurava, e que mais me valeu do que se tivesse alcançado aquilo que por deliberação própria procurava. Aproveito para recomendar, na leitura das coisas sábias e santas, este método da falta de método.