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Category: PensamentoConteúdo sindicalizado

Quando não é filosofia por não ter uma conotação especulativa natural; quando não é teologia por não tratar de dogmas nem de um ponto preciso da doutrina católica. Quando exprime o pensamento católico na análise do mundo, da vida, das coisas que nos cercam e que nos afligem ou nos alegram.

"Instaurare omnia in Christo"

Agosto 10, 2018 escrito por admin

Giuseppe Sarto nasceu em 1853, padre em 1858, cura em 1867, vigário geral em 1875, bispo de Mantua em 1885, cardeal em 1893, patriarca de Veneza em 1894, foi eleito papa em 1903 e tomou o nome de Pio X. Depois de onze anos de pontificado, entrega sua alma a Deus em 20 de agosto de 1914.

Foi o último papa a ser canonizado.

Impressionante é a fecundidade de sua ação para “Instaurare Omnia in Christo”. Seu pontificado foi a ocasião da renovação da vida sacramental nas paróquias, renovação do canto litúrgico, renovação do ensino catequético, renovação dos seminários, renovação do direito canônico. Ele favorece e encoraja o apostolado dos leigos. A Cúria romana lhe deve uma reorganização que a tornou mais eficaz e mais rápida em suas decisões.

Em seu pontificado houve também a condenação do modernismo com a encíclica Pascendi. Condenação corajosa, pois São Pio X não se contenta com uma análise clara e profunda, mas coloca em sua encíclica medidas disciplinares para impedir o modernismo de se infiltrar no interior da Igreja. A Pascendi foi ainda profética, pois o Papa previu as conseqüências graves para a fé se os erros triunfassem. Depois do Concílio Vaticano II e suas reformas, podemos constatar como Pio X tinha razão.

Por sua santidade, por seu espírito eminentemente sobrenatural, pela sabedoria de seu governo, o Papa São Pio X deixa o exemplo sempre atual para nossa época de apostasia geral.

“Para fazer reinar Jesus Cristo, nada é mais necessário do que a santidade do clero”. (carta ao Cardeal Respighi, 1904).

“Estamos, infelizmente, num tempo em que se acolhem e adotam com grande facilidade certas idéias de conciliação da fé com o espírito moderno, idéias que conduzem muito mais longe do que se pensa, não somente à fraqueza mas à perda total da fé” (alocução aos cardeais, 27 de maio de 1914).

O modernismo: “síntese de todas as heresias”, “caminho para o ateísmo”, “ataque aos fundamentos da fé”.

“Vocês alargam as portas para introduzir aqueles que estão fora, e enquanto isso fazem sair aqueles que estão dentro” (São Pio X ao modernista Semeria).

Os compromissos “sem converter nenhum de nossos adversários (...) causam grande dano aos bons: estes, procurando a luz, encontram as trevas (...). Nossa bandeira deve ser desfraldada; é somente pela lealdade e franqueza que podermos fazer algum bem” (carta ao Prévost de Casalpusterlengo, 20 de outubro de 1912).

 

(Revista SIM SIM NÃO NÃO n° 9 ― Setembro de 1993)

Netos de Renan

A V., meu caro Amigo, parece que impressionou a frase, que foi do escol dos intelectuais do mundo inteiro e V. já ouviu dos augustos lábios do jornalista de Timboré...: “Somos netos de Renan”... Que mal faz isto? Nenhum, creia V. Somos bisnetos de Voltaire, tetranetos de muitos outros desgraçados... de preferirmos tais ascendentes entre tantos, bem mais nobres, que a história nos apresenta.

Mas, enfim, netos de Renan... Creia, meu Amigo, o jornalista de Timboré não sabe o que disse. Foi um puro instrumento, um instrumento da Providência! Pequena glória, já se vê, para o diretor-proprietário do Progresso Timboreense, mas não pouco proveitosa para nós... Porque foi após a leitura da sua carta que, pela primeira vez em minha vida, pensei na família de Renan... Sim, aquele homem, que tão suave e sorridentemente envenenou tantos corações, arrancou a fé de tantas almas frágeis, entregou fria e despiedosamente tantas consciências, ardentes e generosas, às misérias da dúvida, sim, aquele homem também fizera uma família, tivera filhos, talvez, e os criara e educara sabe Deus como... Que fins terá tido aquela gente, que será ela, hoje em dia, lá naquela revolvida terra européia, eis o que a mim próprio perguntava, tomado, acredite V., de verdadeira piedade. Pois bem: não só a mim interroguei. Fi-lo também a um padre francês, meu amigo, e que é hoje exemplo de dedicação e carinho à nossa rude gente do sertão mineiro, após ter-se batido quatro anos, como soldado, nas fileiras do glorioso exército de sua terra. A resposta não se fez esperar muito tempo. E, veja V., não é que aquele excelente sacerdote se desse ao trabalho de escrever, ele próprio, uma história dos Renans... Não. Enviou-me simplesmente um livro, que veio a calhar. Avalie que é, justamente, a biografia de Ernest Psichari, um neto de Renan...

Chega a parecer resposta direta ao jornalista de Timboré, e V. vai ver como acertou o fino ironista, o rival sertanejo do nosso Humberto de Campos.

Sim, V. verá, meu Amigo, que já não nos pode molestar, a nós católicos, a nós crentes, que se diga das gerações que entram agora em plenitude da ação que são netas do homem que fez de Jesus Cristo protagonista de um dos mais vis romances das letras modernas, pela açucarada perfídia com que quis vestir de inconsciência o mesmo tipo que, para nós, é o Filho de Deus vivo — mas que para ele era também o mais alto, o mais perfeito, da humanidade!!

Até já podemos proclamar bem alto que somos netos desse homem, para maior glória do Deus invencível e único.

“Dios no muere”, disse o grande García Moreno, respondendo à punhalada do infernal sectário... Sim, Deus não morre, nem mesmo no sangue dos que blasfemaram de seu nome, dos que repudiaram o amor de seu Filho e apunhalaram o seio da sua Esposa.

Nem de leve suponha que exagero se lhe digo que este livro, que venho de ler, me arrancou lágrimas. Somente não lhe sei dizer se foram elas de tristeza ou de alegria. Sei que as chorei. No silêncio da noite, em que, uma a uma, fui voltando as fúlgidas páginas de Henri Massis, como que vi levantar-se, mais do que nunca, formosa, digna de adoração, a figura da excelsa majestade do espírito da Igreja, sustentáculo do mundo, todos os dias crucifica­do, todos os dias exaltado, glorifica­do, vencedor de todo o mal!

Ouvi a prece que a todas as horas sobe aos céus e abranda a justiça do Criador, sofri também de to­dos os silenciosos sacrifícios que se fazem no altar da renúncia às vaidades do mundo, e como que, dentro em mim, ecoavam também — tão grande era o silêncio lá por fora — os cânticos felizes de todos os que, ardentes de fé, na paz dos claustros ou nos perigos da catequese, bendizem Jesus Cristo, aquele que deu sentido à nossa peregrinação sobre a terra.

Mas, se eu pudesse nestas poucas linhas dar-lhe a biografia desse neto de Renan, certo V. Compreenderia a minha exaltação.

Dele já se disse até que “a França cristã pode invocá-lo nas suas preces”. E por que não? Que vida mais gloriosa, que fim mais sublime e mais ardentemente santificado? Quem se conhece aí vencedor de mais temerosas vaidades?

Avalie V. que educação poderia ter tido um neto de Renan, respirando a atmosfera mesma da mais orgulhosa idolatria a tudo quanto falava daquele homem, que ousara contrapor a sua pérfida palavra ao sangue dos mártires! Ademais, tudo parecia indicar que era Ernest Psichari um digno herdeiro do nome tristemente glorioso: o mesmo pendor para as letras, o mesmo indomável intelectualismo, e fluidez de expressão...

Mas que pode o mal quando Deus não quer? Que é que tocou o coração do jovem príncipe da inteligência?

Ernest Psichari, diz o seu biógrafo, conheceu todas as febres, todas as perturbações da sua geração, mas, sempre adiante dos seus companheiros, “nele se exaltava a mocidades de França”.

Ainda foi com assombro que o viram abandonar os cursos da Sorbone para fazer-se soldado e partir para a África, a uma rude guerra de conquista. Mas, se o entusiasmo das suas primeiras obras, nascidas do contato com a barbaria e a religiosidade do deserto, a muitos pareceu ainda entusiasmo de diletante, não tardou que se compreendesse o idealista que se revelava com força invencível. E não é nunca demais esperar-se de um soldado que se faça apóstolo. O entusiasmo pela guerra não é já entusiasmo pelo sacrifício?

Ernest Psichari em poucos anos de guerra, de “vida perigosa”, se fizera um apóstolo da desforra francesa, e Deus é como Deus dos exércitos que, pela primeira vez, fulge na sua consciência.

Ele encarna, dentro em pouco, a ação intensa, mesmo a violência, para responder ao cepticismo do avô.

“Nossa geração”, escrevia ele, “a dos que começaram a vida com o século, é importante. Nela, sabemos, estão todas as esperanças. É dela que depende a salvação da França e assim a do mundo, a da civilização. Parece-me que os moços sentem obscuramente que verão grandes coisas, que grandes coisas se farão por eles. Não serão nem amadores nem cépticos. Não serão turistas através da vida. Sabem o que se espera deles.” Estava muda­do aos seus olhos o cenário do mundo. Estava delineado o seu programa, não havia mais escolher: “prendre contre son père le parti de ses pères”.

Ainda era quem assim falava um homem que não tinha por si as armas de uma fé positiva.

Mas, como ele mesmo disse:“Dès qu’on fait un pas hors de Ia médiocrité, on est sauvé...” “On est embarqué dans l’absolu...” – Ao primeiro passo para fora da mediocridade estamos salvos. Embarcamos no absoluto.

Daí em diante, seus livros assim como a sua vida são a resposta mais lúcida, mais vibrante e mais séria que o espírito de ordem podia dar à anarquia contemporânea, e a sua figura de herói e de artista, de homem de ação e de sábio vai pouco a pouco aproximando-se e por fim surge, duplamente envolvida, de entre as fileiras dos que, a esta hora, cristãos e franceses, já salvaram as grandes tradições da sua pátria do completo aniquilamento. A Igreja podia gloriar-se de mais um filho, um verdadeiro filho, amante e fiel.

E é comovente ler estas palavras do neto de um Renan... “Toda a tentativa por nos libertarmos do catolicismo é um absurdo, pois, queiramos ou não, somos cristãos; e é uma maldade, visto que, quanto temos de belo e grande no coração, nos vem do catolicismo. Não apaga­remos vinte séculos de história, precedidos de toda uma eternidade. E, como a ciência foi fundada por crentes, nossa moral, no que tem de nobre e de elevado, também vem dessa grande e única fonte do cristianismo, de cujo abandono decorre a falsa moral, assim como a falsa ciência.”

No dia 8 de fevereiro de 1913, Ernest Psichari, o neto de Renan, foi confirmado por Mons. Gibier, na capela do pequeno seminário de Grandchamp.

Com a voz a tremer de ardor contido, recitou o “Credo”, de que, uma a uma, acentuou as sílabas latinas. Após a confirmação, o Bispo de Versailles lhe perguntou a sua idade: — Vinte e nove anos! Muito tempo perdido!, foi sua resposta.

E porque, assim, tanto tempo perdera foi que desde então o viram seus soldados e toda a França intelectual arder na febre de reparar, em cada livro, em cada ato, as injúrias que seu avô fizera à França cristã, e, humílimo, ou melhor, possuído de santo orgulho, servir a missa e ser aquele mesmo ser — Cristão, que Louis Veuillot também quisera ser... E foi deste modo, entre os rigores da vida militar e os rigores de uma exaltada prática cristã, que a Grande Guerra surgiu. Foi dos primeiros que marcharam contra o inimigo de sua pátria, foi dos primeiros que caíram fulminados no campo de honra.

“Os que o viram mais tarde ficaram impressionados ante a calma de seu rosto; tinha nas mãos o rosário que pudera segurar.”

Eis aí, meu Amigo, como soube morrer um neto de Renan. Felicito o jornalista de Timboré pelas suas ironias. Já podemos ser bons netos de Renan. E V. há de concordar comigo: Ernest Psichari foi, de fato, uma dessas naturezas que são privilégio daquela nação a quem nem as desgraças nem os erros tiraram ainda o que Joseph de Maistre, então insuspeito de lhe ser favorável, pode observar no seu destino: o exercício de uma verdadeira magistratura sobre a Europa e, por conseguinte, sobre o mundo.

Quando uma dessas naturezas aparece como uma estrela sobre os céus borrascosos daquela grande pátria, não há consciência cristã que não veja claramente alguma coisa de mais profundo e de mais forte que o que prende todas as mais nações, ligando os destinos da França aos destinos da Igreja Católica.

E tem-se o desejo de dizer que, sejam quais forem as aparências, sempre a causa da França é a causa da Igreja.

 

(Revista PERMANÊNCIA, 1981, novembro/dezembro, números 157/157.)

Revista Permanência 272 - Tempo do Natal 2013

ÍNDICE DA REVISTA (272)                                              127 págs

(Editorial) O Oráculo dos deuses  Dom Lourenço Fleichman
Nazaré ressuscitada  Pe. Emmanuel-Marie
Ainda em defesa da Vulgata Dom Lourenço Fleichman
Ensaio sobre a história de Roma    Juan Fernando Segovia
O Terceiro Segredo de Fátima  Ir. Michel de la Sainte Trinité
O Terceiro Segredo de Fátima - um testemunho Franco Adessa
Milagre austríaco de 1955  Christopher Ferrara
Nas ruas  Gustavo Corção
Considerações destituídas de lógica impecável   Gustavo Corção
(Recensão) 10 datas que todo católico deve conhecer     Fernando Prado de Barros   

                                               

                                                       

                            

   

REVISTA PERMANÊNCIA 282

 

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OU COMPRE ESSE NÚMERO AVULSO

 

Sobre o Editorial - A Permanência e a Fraternidade Sacerdotal São Pio X

Dom Lourenço Fleichman OSB

No mês em que Dom Alfonso de Galarreta pronunciou o sermão das ordenações sacerdotais em Winonna, EUA, explicando que o Papa Francisco e o Cardeal Muller desautorizaram as declarações de Mgr. Pozzo, de que o Vaticano não iria mais cobrar da Fraternidade São Pio X uma adesão ao Concílio Vaticano II, chega ao público a Revista Permanência, Tempo de Pentecostes, com o Editorial narrando o longo relacionamento do movimento Permanência com a Fraternidade.

Jó, o Eclesiastes e o Orkut

 Dom Lourenço Fleichman OSB

Conta o Livro de Jó, em seu início, uma conversa entre Deus e Satanás. Quando Deus pergunta a Satanás o que anda fazendo, o Príncipe das Trevas responde: "Andei dando voltas pelo mundo e passeando por ele". Podemos perceber que não é de hoje que o Demônio anda por aí espalhando entre os Filhos dos Homens sua malícia disfarçada em coisas boas. Como anjo mau muito esperto, o Demônio hoje não passeia, ele navega pelas ondas da virtualidade (coisa fácil para um espírito). "Andei navegando pelo Orkut, e vi a juventude entediada, vazia e descarada!" E eu, no meu esconderijo protegido contra Orkuts fiquei imaginando se o Cão não estaria dizendo uma grande mentira, um exagero, com alguma intenção desconhecida. Leia Mais

Do ORKUT ao FACEBOOK

Dom Lourenço Fleichman

Há alguns anos, após tecer algumas considerações sobre o fenômeno do Orkut, primeira "rede social" a se espalhar de modo universal, atingindo particularmente o Brasil, lancei uma campanha aconselhando ao leitor apagar sua conta naquele sistema de escravidão. Os e-mails recebidos na época indicaram cerca de 150 pessoas que tomaram a iniciativa de apagar sua conta e de escrever à Permanência comunicando este fato.

Analisando este número de corajosos leitores, considerei um resultado muito bom, diante dos meios de que dispomos e, sobretudo, diante dos motivos espirituais e civilizacionais oferecidos como incentivo para se tomar decisão aparentemente tão sofrida e difícil.

O diabo não dá ponto sem nó, como se diz, e logo surgiu fenômeno mais amplo e pernicioso do que o primeiro. Contam que o Facebook começou como um sistema de reconhecimento dos rostos dos alunos em certa universidade. Basta conhecer um pouco a natureza humana para compreender porque milhões de pessoas pelo mundo foram contaminados com a Síndrome da Bruxa Má, da Branca de Neve! "Espelho, espelho meu". O engenhoso "crachá" eletrônico é como a "imagem da besta", que aparece no Apocalipse. O joguete do dragão adquiriu tanto movimento que ele fala, escreve, e vai variando sua bela imagem, cativando a todos e gozando dessa imensa felicidade: "digam-me se há mais bela do que eu" Continue Lendo

Jean Madiran (1920 - 2013)

Dom Lourenço Fleichman OSB

Faleceu neste dia 31 de julho, aos 93 anos, Jean Madiran, o famoso diretor da Revue Itinéraires, revista fundada por ele em 1956, e que congregou a nata do pensamento católico francês na 2ª metade do século XX. Dono de um pensamento lógico imbatível, tornou-se temido por seus adversários, sobretudo no campo da política francesa e no combate ao progressismo católico.  CONTINUE LENDO

Os escravos da imaginação

Dom Lourenço Fleichman OSB

 

Uma oposição sistemática entre o mundo e a Igreja, entre a sociedade civil apóstata e a família católica: realidade mais do que conhecida, denunciada e lamentada. Todos nós sabemos disso e procuramos nos orientar de modo a não perder a fé, a não nos entregarmos aos prazeres e aos critérios desse mundo mau. Temos, sim, os Evangelhos e São Paulo que já nos alertavam e nos alertam ainda hoje, pela Revelação das Sagradas Escrituras. Temos a Igreja, com sua palavra forte, sua Tradição, seu depósito da fé, transmitindo, de papa a papa, de concílio a concílio, os conselhos e mandamentos que devemos seguir para não cair no abismo. E os padres lembram, em sermões e artigos, que devemos viver no mundo sem ser do mundo, que devemos estudar, nos armar contra a enganação do mundo, defender as crianças contra as escolas deformadoras, a televisão invasora e destruidora da moral católica.

Tudo isso nós sabemos e por isso devemos estar atentos e fortalecidos pela graça.
Mas não adiantou muito! Leia mais
 

O bramido do mar, uma manchete de jornal

Haverá consternação dos povos pelo bramido do mar e das ondas, mirrando-se os homens de susto na expectativa do que virá sobre o mundo, porque as forças dos céus se abalarão”. S. Lucas, 21,25 - 1º domingo do Advento
 
Não é com trombetas e cânticos de alegria que abrimos este ano, mas com a lembrança apertada da ira de Deus que se abate sobre a terra para mostrar aos homens que só Ele é o Senhor. Alguns podem contestar a idéia de que seja um castigo divino a tragédia da Ásia, mas não podem esconder que pelo menos 50% de chances existem para que o seja. Eu, de minha parte, espero sinceramente que assim seja, e estou convencido disso, pois os desígnios de Deus são sempre sábios e visam a salvação do maior número possível de homens. Prefiro a idéia de Deus castigando a humanidade que, aqui para nós, abusa há muitos séculos da capacidade de pecar, do que de uma simples permissão divina, anódina e sem conseqüências para a salvação tão esperada no céu. Se é para que muitos se convertam, que venham as ondas, os raios, o fogo, que caiam do céu os meteoritos, os satélites, que calem os telefones, internets e globalizações para que os homens descubram que são pó e ao pó hão de voltar. Leia mais
 

O mundo está pronto

Se viver mergulhado no mundo não leva ninguém para o inferno, pergunto: porque a porta do céu é tão estreita? Porque N. Senhor insiste com essa idéia, ao dizer que é mais fácil um camelo entrar no fundo de uma agulha do que um rico entrar no céu? É claro que não se trata aqui, apenas de um homem que possui muitos bens. Rico é aquele apegado às coisas, aos bens materiais, ao conforto, ao mundo. Um homem que centraliza sua vida nas coisas desse mundo. Fica, de fato, quase impossível entrar no céu carregado de tantos apegos, vaidades, orgulhos e vícios.

Do seu lado, os santos insistem sempre: levem uma vida piedosa; o católico deve guardar sua vista, seus sentidos para evitar todo pecado; vivam com modéstia, na castidade.

Não é bem esta a prática atual, onde os católicos não diferem em nada dos mundanos. Assistem aos mesmos programas de televisão, freqüentam os mesmos shows, as mesmas festas; gastam seu dinheiro no mesmo comércio anunciado pela mídia: Natal com Papai Noel, Páscoa com ovos e coelhinhos, e essa gama impressionante de festas inventadas para ocupar o lugar das tradicionais festas religiosas e dos santos: dia das mães, dia dos pais, dia dos namorados, dia da criança, dia do zumbi, dia do black power, dia das bruxas...  Quando acabaram com os feriados nos dias santos de guarda, diziam que atrapalhava o trabalho. Como mentem! Mentem e manipulam as cabeças de todos, mesmo daqueles que lêem jornais cults todos os dias e compram o "Código da Vinci". Grandes culturas! São porquinhos mansos indo pelo curral em direção à morte. E não percebem nada.
 
Naquele tempo se praticava virtudes
 
Houve época em que o mundo se pautava pela prática das virtudes. Que o homem fosse católico ou não, o critério de sua vida seria o mesmo: cada qual trabalhava para ser reconhecido pela sociedade como pessoa honesta, honrada, homem de palavra, fiel. Virtudes como a coragem, a castidade, a piedade estava na pauta do dia. Se era católico, praticava essas virtudes voltadas para a vida eterna, virtudes sobrenaturais. Se não era católico, praticava essas mesmas virtudes sem a marca divina, eram as virtudes naturais. Não diferem em si das primeiras, apenas nessa qualidade divina que dá à virtude sobrenatural uma nova força, vinda de Deus, que conduz o homem ao seu fim último, em Deus. Que ele fosse um médico ou um jurista, soldado ou quitandeiro, dono de terras ou colono, todos se gabavam de dar a seus filhos a boa educação, de corrigir seus filhos malcriados, de ensinar aos filhos a prática das virtudes. Qual o pai que não se orgulhava de ver sua filha prendada tomar bom marido, recomeçando assim o ciclo virtuoso da família decente? Não eram santos, por certo. Mas quando pecavam ficavam com a consciência culpada diante de Deus e tinham medo de serem mal-vistos na sociedade.

O drama que estamos vivendo vem do fato de que o mundo atual não se pauta por estes critérios de vida. Homens "iluminados" introduziram um novo eixo no pensamento da humanidade. Este novo eixo levou Gustavo Corção a entender o mundo moderno como "antropo-excêntrico", ou seja, um mundo que trocou o seu eixo1.
 
Hoje se pratica a liberdade
 
O pólo desarticulador do mundo veio da falsificação da liberdade. A prática da virtude passou a ser vista como obstáculo à liberdade. No pensamento greco-católico, a liberdade é uma faculdade do espírito inteligente que o faz mover-se para o bem por um movimento interior da própria pessoa, e não empurrada por alguma outra força. Ora, só existe verdadeira liberdade quando nos inclinamos para o bem. Quando os homens passam a ensinar que a inclinação para o mal também é válida, estabelecem as bases para uma nova civilização: o mundo sem Deus, o mundo sem virtudes, sem piedade.

O resultado é catastrófico. Nada ficou de pé na nova civilização. Não somente a Igreja Católica foi alijada de qualquer influência no pensamento moderno2, como a simples prática das virtudes naturais perdeu qualquer respaldo. Se perguntarmos como vivem os homens deste nosso século, logo teremos uma lista das novas atitudes:

- o reino do sexo  livre, sem qualquer tipo de limite tanto pela natureza quanto pela cultura. Forma-se uma pressão sobre todos para que se acostumem a romper com os limites da própria consciência. Esta pressão vem pelos programas de televisão, pelos filmes, pela presença constante diante dos olhos, de imagens sensuais espalhadas pelas cidades. É um dado positivo (no sentido de afirmativo) que vem somar a uma impressionante propaganda negativa que há décadas faz uma verdadeira lavagem cerebral, convencendo a todos que a castidade seria uma doença.

- o reino do erro livre, onde todos têm razão e ninguém é dono da verdade porque expulsaram a verdade. Expulsaram das suas vidas a autoridade divina, pois todas as religiões passam a se valer; expulsaram a autoridade paterna, pois um pai não pode mais corrigir seu filho, educá-lo na prática das virtudes condenando seus erros. O mundo onde cada qual constrói sua própria verdade é um mundo esquizofrênico. Como a inteligência humana se alimenta da verdade dos objetos que conhece, entra em colapso quando é forçada a criar verdades de dentro para fora, sua própria consciência passando a dar vida às coisas, o que é propriamente “tornar-se como deuses”.3

- o reino da desonestidade livre, pois é evidente que não cabe no mundo tantas verdades individuais opondo-se umas às outras. Por isso o colapso da verdade gera o ódio, a guerra, inimizades. Não pensem que algum tipo de governo ou de partido poderá escapar da corrupção. Ela é endêmica, faz parte essencial da vida onde a liberdade é deusa. Lá onde a verdade movia os homens ao amor, temos hoje o erro movendo os homens ao ódio. Na política como dentro das empresas, nas famílias como no mundo jurídico.

- o reino da infidelidade livre, pois a falsa noção de verdade e o falso amor geram uma relação social evolutiva, chacoalhante, em constante movimento. Nada fica de pé, nada tem aparência de duração, de solidez, de eternidade. Neste mundo não há lugar para a família. Por isso podemos dizer que o Divórcio foi a bomba de retardo lançada no mundo todo, que detonou a seu tempo sobre os alicerces da família, base da antiga sociedade.

Tudo isso está invadindo as casas há mais de cinqüenta anos, sem que os católicos reajam. O liberalismo já tinha minado as bases da família. Poderíamos dizer que o liberalismo fez o trabalho de sapa e a liberdade enlouquecida fez o trabalho de restauração da casa destruída, com novas bases. O pior de tudo não é o mundo ser assim; o pior é ver os católicos vivendo no meio disto sem enxergar; cegos, surdos, sem forças, marionetes burrificadas por cinqüenta anos de estupidez televisiva.

Na formação deste impressionante “Reino” do mal, algumas armas foram usadas de modo mais constante:

- a imagem, essa rainha da falsidade que escraviza a nossa imaginação, marca, fere, choca, tirando dela toda reação possível.

- o som, que trouxe ao mundo vários tipos de música que simplesmente destrói na alma qualquer capacidade de raciocínio, de concentração.

- a ocupação, escravizando o homem numa avalanche de preocupações, de trabalhos, de excitações que o obriga a estar 24 horas por dia "ligado" na coisa material. Ao mesmo tempo, através de décadas de mentiras, arrancaram a mulher do seu trabalho materno, do seu lar, onde sua presença era a maior garantia da boa educação dos filhos.

- a diversão, que vem preencher o resto de tempo que os pobre-coitados ainda poderiam dispor: agora é hora de malhar, de correr, de praticar esportes cada dia mais exigentes. E tem o show alucinante, a festa que termina pela manhã, a praia, a viagem, o carnaval.

Pobre gente. Já não conseguem entender as coisas mais banais. Já não percebem que os frutos dessa nova civilização já estão estabelecidos como práticas consagradas:

- o aborto que mata a criança inocente, contraponto dos famigerados "estatutos" da criança que protege o marginal de baixa idade.

- a eutanásia, que é o aborto dos velhos, tão indesejados pelo "custo" quanto os filhos. Temos como exemplo gritante desta prática o assassinato de Terri Schiavo no início de 2005, executada pela fome e pela sede com carimbos dos juizes e da polícia.

- o casamento homossexual, que choca a natureza, contraponto das vantagens que a lei outorga aos concubinatos. Chegamos ao ponto mais baixo na destruição da sociedade.

- vários detalhes da chamada bio-(sem)ética, onde homens levam o delírio até experimentos com genética humana, verdadeiros alucinados brincando de Deus. Seria o caso de perguntarmos: porque querem matar as crianças inocentes e, ao mesmo tempo, gerar artificialmente seres humanos? Não podemos deixar de incluir aqui a aberração dos embriões congelados que ninguém quer, seres humanos que sofrem sem piedade e que serão destruídos cruelmente.

Em todos esses exemplos a família aparece destruída. Já não é mais a base da sociedade. Os homens que construíram isto que está aí detestam a família, odeiam qualquer cheiro de tradição familiar, de fidelidade conjugal, de casa cheia de crianças.

Ora, se esses são os critérios e as práticas da nova civilização anti-cristã, então somos obrigados a constatar: o mundo está pronto para o Anti-Cristo!
 
O mundo  está pronto para o Anti-Cristo
 
Sempre me pareceu impressionante a facilidade com que a humanidade segue apaixonadamente o Anti-Cristo, que é uma das bestas, no relato divino do Apocalipse.4 Dizia-me: como pode ser que os homens se entreguem a uma vida completamente enganadora e destruidora de tudo? Hoje ficou mais claro para mim. E muito me impressionou ao encontrar no Pe. Castellani, grande pensador argentino, uma descrição feita em 1953 disso tudo que só hoje estamos vivendo:

“... porque o Homem do Pecado tolerará e se aproveitará de um cristianismo adulterado...Imporá por todas as partes o reino da iniqüidade e da mentira, o governo puramente exterior e tirânico, a “Liberdade” desenfreada dos prazeres e diversões, a exploração do homem; e seu modo de proceder hipócrita e sem misericórdia. Haverá em seu Reino uma estrondosa alegria falsa e exterior, cobrindo o mais profundo desespero.
Em seu tempo acontecerão os mais estranhos distúrbios cósmicos, como se os elementos se houvessem revoltado. A humanidade estará numa grande expectativa e reinará grande confusão e dissipação entre os homens. Rompidos os laços de família, de amizade, de lealdade e bom relacionamento, os homens não poderão confiar em ninguém, e correrá no mundo como um tremor frio, um universal e ímpio “salve-se quem puder”. Será atropelado o que há de mais sagrado e nenhuma palavra terá mais fé, nem pacto algum terá vigor, senão pela força. A caridade heróica de alguns fiéis, transformada em amizade até a morte, manterá no mundo ilhotas de fé; porém mesmo ali, ela estará continuamente ameaçada pela traição e pela espionagem. Ser virtuoso será um castigo em si mesmo e como uma espécie de suicídio”.5

Parece-me evidente que os processos políticos atuais geraram um mundo sem lideranças. Não há verdadeira liderança nos atuais países porque todo o jogo político local obedece a ordens que não entendemos nem ouvimos. E não há, também, uma liderança mundial, porque o lugar ainda está vago. É o lugar dele, do Anti-Cristo. Quando este homem do pecado determinar que chegou a hora de aparecer, será certamente ovacionado por toda a humanidade, pois falará a mesma linguagem, terá o mesmo pensamento de todos, sobre tudo isso que citei acima. Sua ideologia, sua política, sua ciência, tudo corresponderá ao que os homens pensam e praticam já hoje. Por isso podemos dizer sem medo de errar. O mundo está pronto.

Não estou aqui a dizer que o fim do mundo está próximo, ou que o Anti-Cristo seja tal ou tal pessoa. O que me interessa nestas linhas é que os verdadeiros católicos tenham consciência do perigo que correm se mergulharem no mundo. Se acharem que podem viver com estes critérios que lhes são impostos, correm o grave risco de serem enganados pelo grande líder, quando este chegar. Algumas pessoas poderiam objetar que podemos conviver com todos e permanecermos católicos. Mas eu os alerto para essa diferença radical entre o mundo de hoje e o mundo de cinqüenta anos atrás: lá, no final da civilização cristã, ainda era possível viver assim porque os homens tinham aquele critério da prática das virtudes, para suas próprias vidas e para os seus filhos. Mas hoje já não é assim. Portanto, estejam armados, de espada em punho, pois aquele que não combater, que não desviar seu pensamento das falsas idéias, que não fugir das práticas absurdas, blasfematórias, ultrajantes para Deus e sua Igreja, pode enredar-se na fina malha que já foi lançada sobre os homens e que os arrasta para o reino do Anti-Cristo, que não é outro que o reino das trevas. Está na hora de reler algumas páginas dos santos e doutores da Igreja:
 
“Estas são as marcas da vinda do Anti-Cristo:
Quando os velhos não tiverem nem bom senso nem prudência,
Quando os cristãos estiverem sem fé,
Quando o povo estiver sem amor,
Quando os ricos forem sem misericórdia.
Quando os jovens não tiverem respeito,
Quando os pobres forem sem humildade,
Quando as mulheres tiverem perdido o pudor,
Quando, no casamento, não houver mais continência,
Quando os clérigos forem sem honra e sem santidade,
Quando os religiosos não tiverem verdade nem austeridade,
Quando os bispos não se inquietarem de sua administração e não tiverem piedade,
Quando os mestres da terra não tiverem misericórdia nem liberdade”.6
 
E o Padre Emmanuel, grande espiritual do sec. XIX:
 
“Apresentar-se-á como cheio de respeito pela liberdade dos cultos, uma das máximas e uma das mentiras da besta revolucionária. Dirá aos budistas que é um Buda; aos muçulmanos, que Maomé é um grande profeta... Talvez até irá dizer, em sua hipocrisia, como Herodes seu precursor, que quer adorar Jesus Cristo. Mas isso não passará de uma zombaria amarga. Malditos os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável Salvador seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteon de falsos deuses”7.
 
Impotentes que somos diante de tal situação, só podemos olhar para a Virgem Maria, para seu Coração Imaculado, e suplicar a ela que nos proteja contra toda influência do maligno. Que nos dê a mão, que nos acolha em seu Coração. É preciso fincar o pé, recusar ser arrastado como um cordeirinho para a destruição de nossa personalidade, de nossa fé, de nosso espírito. É preciso ler, estudar, conhecer a verdade objetiva, clara, de Deus, do mundo, do pensamento. É preciso amar. Amar na ordem da Caridade, ou seja, amar como Deus nos ordena, praticando os mandamentos, cumprindo nosso dever. E nossos deveres são de três ordens: para com Deus, para nós mesmos, para com o próximo.

É preciso, com toda urgência, praticar a devoção reparadora dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria. Fazer os Primeiros sábados do mês, rezar o Terço todos os dias, para que, ao chegar o Anti-Cristo, estejamos recolhidos e protegidos por nossa Mãe do Céu. Com a espada em punho, lançaremos contra o rosto tenebroso do homem do pecado o grito de Viva Cristo Rei! Imaculado Coração de Maria, salvai-nos! E Jesus Cristo o vencerá “com o sopro da sua boca”.
 

  1. 1. Corção, Gustavo, Dois Amores, Duas Cidades, Agir, 1967, Tomo II, parte 3 – A civilização do Homem-Exterior
  2. 2. Diga-se de passagem que o Concílio Vaticano II amordaçou a Igreja, retirando o último obstáculo para conter a avalanche.
  3. 3. Foi a primeira mentira proferida na face da terra, do demônio a Eva. “Sereis como deuses” se desobedecerem a Deus.
  4. 4. “E toda a terra, cheia de admiração, seguiu a besta” (Apoc. XIII, 3)
  5. 5. Castellani, Leonardo, Los Papeles de Benjamin Benavides, Buenos Aires, 1953,  Caderno 4, cap. 2.
  6. 6. São Boaventura
  7. 7. Pe. Emmanuel-André, O drama do fim dos tempos, Revista Permanência 198-199.
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