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Art. 4 — Se os anjos foram criados no céu empíreo.

(Infra, q. 102, a. 2, ad 1; II Sent., dict. VI, a. 3; Opusc. XV, De Angelis, cap. XVII)
 
O quarto discute-se assim. — Parece que os anjos não foram criados no céu empíreo.
 
1. — Pois, são substâncias incorpóreas. Ora, a substância incorpórea não depende do corpo pelo seu ser e, por conseqüência, nem pelo vir-a-ser. Logo, os anjos não foram criados num lugar corpóreo.
 
2. Demais. —  Agostinho diz que os anjos foram criados na parte superior do ar1. Logo, não no céu empíreo.
 
3. Demais. — O céu empíreo é chamado o céu supremo. Se, logo, os anjos tivesse sido nele criados, não lhes caberia subir a um céu superior, o que vai contra o que a Escritura diz da pessoa do anjo pecador (Is 14, 13): Subirei ao céu.
 
Mas, em contrário, diz Estrabão, a propósito do passo — No princípio criou Deus o céu e a terra: Chama aqui, céu, não ao firmamento visível, mas ao empíreo, i. é, ígneo ou intelectual, assim dito não pelo ardor, mas pelo esplendor e o qual, imediatamente depois de feito, se encheu de anjos.
 
SOLUÇÃO. — Como já ficou dito2, das criaturas corpóreas e espirituais se constitui o universo unido. Assim, foram criados seres espirituais, de certo modo ordenados aos seres corpóreos e que a todos estes presidem. Por onde, foi conveniente que os anjos, devendo presidir a toda natureza corpórea, fossem criados no corpo supremo, quer se dê a este a denominação de empíreo ou qualquer outra. Por isso, Isidoro diz que céu supremo é o dos anjos, comentando a passagem da Escritura (Dt 10, 14): O céu é do Senhor teu Deus, e o céu dos céus.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Os anjos não foram criados em lugar corpóreo, como se dependentes do corpo, pelo ser ou pelo vir a ser deles; pois, Deus poderia ter criado os anjos antes de toda criatura corpórea, e muitos santos Doutores assim o pensam. Mas foram feitos em lugar corpóreo para mostrar a relação que tem com a natureza corpórea e que, pela sua virtude, tem contato com corpos.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Talvez Agostinho, pela suprema parte do ar entenda a suprema parte do céu, com a qual o ar tem certa conveniência por causa da sua sutileza e diafaneidade. — Ou se refere, não a todos os anjos, mas aos que pecaram e que, segundo alguns, eram das ordens inferiores. Pois, nada impede dizer-se que os anjos superiores, tendo sobre todos os corpos virtude elevada e universal, foram criados no lugar supremo da criatura corpórea; os outros, porém, tendo virtudes mais particulares, foram criados nos corpos inferiores.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — O passo citado se refere não a algum céu corpóreo, mas ao da santa Trindade, ao qual o anjo pecador quis subir quando quis, de certo modo, equiparar-se a Deus, como a seguir se verá3.

  1. 1. III Super Gen. ad litt. (cap. X).
  2. 2. Q. 61, a. 3.
  3. 3. Q. 63, a. 3.
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