Skip to content

O grande abismo dos conservadores

Junho 13, 2021 escrito por admin

O pontificado do Papa Francisco tem assistido ao número de “conservadores” aumentar incessantemente

 

Deve-se compreender que “conservadores” são definidos, aqui, como católicos que não estão dispostos a vender a fé católica, que esperam uma renovação ou um reflorescimento da Igreja neste mundo secularizado e que estão, sinceramente, ansiosos para ver o Corpo Místico voltar a fruir, a expandir-se através de novas conversões. Em outras palavras, aqueles que têm mantido o espírito católico.

Mas, ao mesmo tempo, esses conservadores querem seguir todas as reformas operadas pelo Concílio Vaticano II. Algo que parecia possível a eles com alguns contorcionismos... Até a chegada o Papa Francisco.

Porém, desde o começo deste pontificado, e de maneira particular em certas ocasiões – como os dois Sínodos sobre a família, a exortação pós-sinodal Amoris Laetitia, o Sínodo da Amazônia e, especialmente, seu instrumentum laboris, ou, ainda, o Documento sobre a Fraternidade Humana – os conservadores têm se sentido cada vez mais desconfortáveis.

Isso se manifesta através de protestos cada vez mais frequentes, cujas origens estavam situados cada vez mais alto na hierarquia eclesiástica: protesto contra Amoris Laetitia por várias petições, incluindo a famosa correctio filialis, bem como as cartas dubia de quatro Cardeais; ataques frequentes contra documentos romanos ou atos de Eminências como os Cardeais Müller, Brandmüller, Burke ou Zen, bem como por Bispos.

Esse desafio é uma novidade. Quase não havia algum traço dele até 2013 e a chegada do atual Soberano Pontífice ao Trono de Pedro. Portanto, há uma clara conexão entre as duas coisas. E devemos acrescentar que essa contradição, às vezes, assume formas graves entre vários Cardeais e Bispos.

Tudo isso é um sinal de inquietação crescente entre os “conservadores” tais quais definidos acima. Uma ilustração possível apta a descrever a situação: um homem cujos pés estão situados sobre duas pedras diferentes, equilibrando-se acima de um vão. Devido a movimentos tectônicos, as duas pedras estão começando a se afastar uma da outra. A situação já quase chegou ao ponto em que a distância entre ambas está grande demais.

Só há três soluções para essa situação: perder o equilíbrio e cair; tomar refúgio na pedra da direita; ou aderir à pedra da esquerda. Nada é mais desconfortável que esse tipo de posição.

Infelizmente, os conservadores obstinados ainda querem crer que as pedras vão unir-se um dia e que eles não precisarão fazer uma escolha. Claro, isso é uma possibilidade, se olharmos para o plano meramente físico. Uma força contrária poderia aproximar as duas pedras.

Mas, no plano das ideias, e, especialmente, no plano da Teologia, a história é completamente diferente. Não há a menor possibilidade do erro aproximar-se da verdade, ou vice-versa. Pretender manter-se fiel a ambos ao mesmo tempo seria uma distorção da inteligência. E, se o sujeito possuir um mínimo de integridade intelectual, a violência da divisão parecerá cada vez mais intolerável.

De fato, desde o Concílio, a distância apenas aumentou entre os erros modernos e a Tradição da Igreja, com mais ou menos intensidade de acordo com a personalidade dos Papas que se sucederam na cátedra de Pedro. E, é claro, deve-se reconhecer que essa distância tem aumentado consideravelmente desde 2013.

A vantagem dessa situação é que podemos mostrar, com maior clareza, as posições “tradicionalistas”, que desafiaram o Concílio desde que ele ocorreu, baseadas em fundações sólidas. E, gostem eles ou não, a linha conservadora está começando a ser forçada a reconhecer isso.

Além disso, e talvez ainda mais doloroso de se reconhecer: sem essa firmeza doutrinal, os conservadores, há muito tempo, já teriam perdido uma das pedras sobre a qual um de seus pés se situa e teriam sido forçados a adotar uma linha apenas. Porque, se certos pilares ainda estão de pé – se, por exemplo, a Missa tradicional ainda pode ser celebrada hoje com alguma liberdade – isso se deve à tenacidade e firmeza daqueles que se recusaram a compactuar com o erro.

Portanto, é profundamente inconsistente declarar e repetir que essa tenacidade assemelha-se a uma obstinação desarrazoada ou a uma teimosa desobediência.

E tão inconsistente quanto isso seria, como é feito por vários conservadores que temem ser tachado de extremistas, relegar como “marginais fora da Igreja”, com um aceno de mão ou um estalar de dedos, aqueles que guardam a Tradição sem fazer concessões.

Só há uma maneira verdadeiramente eficiente e intelectualmente satisfatória de sair dessa posição tão decepcionante e desagradável: com honestidade, tomar um lado e declarar-se por Jesus Cristo incondicionalmente. Desse modo, eles poderão prestar um enorme serviço à Igreja, e isso é o que importa.

Não são petições e pedidos de explicações que farão as coisas progredirem, mas a profissão pública da fé, acompanhada dos atos que devem se seguir a ela.

Com o cisma alemão em processo de consumação, e a preocupação crescente com os fundamentos básicos da vida moral, a defesa integral da fé torna-se cada vez mais urgente. Em breve, não haverá sequer espaço para colocar um pé na pedra do Concílio.

 

(traduzido da versão em inglês, disponível em: https://fsspx.news/en/news-events/news/conservatives-straddling-gap-66694)

AdaptiveThemes