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Art. 5 – Se se consideram convenientemente como nascidos da luxúria: a cegueira do espírito, a inconsideração, a precipitação, a inconstância, o amor de si, o ódio de Deus, o apego à vida presente, o horror ou o desespero da futura.

O quinto discute–se assim. – Parece que se consideram inconvenientemente como nascidos da luxúria: a cegueira do espírito, a inconsideração, a precipitação, a inconstância, o amor de si, o ódio de Deus, o apego à vida presente, o horror ou o desespero da futura.

1. – Pois, a cegueira do espírito, a inconsideração e a precipitação se compreendem na imprudência, que implicam todos os pecados, como todas as virtudes supõem a prudência. Logo, não devem ser consideradas filhas especialmente da luxúria.

2. Demais. – A constância é considerada parte da fortaleza, como se estabeleceu. Ora, a luxúria não se opõe à fortaleza, mas, à temperança. Logo, a inconstância não é filha da luxúria.

3. Demais. – O amor de si até o desprezo de Deus, é o principio de todo pecado, como claramente o diz Agostinho. Logo, o amor de si não deve ser considerado filho da luxúria.

4. Demais. – Isidoro, enumera quatro filhos da luxúria: o turpilóquio, a escurrilidade, a ludicridade e o estutilôquio. Logo, a referida enumeração parece supérflua.

Mas, em contrário, a autoridade de Gregório.

SOLUÇÃO. – Quando as potências inferiores aderem veementemente aos seus objetos, as potências superiores hão de por consequência ficar impedidas e desordenadas na prática dos seus atos. Ora, pelo vício da luxúria, sobretudo o apetite inferior, isto é, o concupiscível, veementemente adere ao seu objeto, que é o prazer, por causa da veemência da paixão e do deleite. Por onde e consequentemente, pela luxúria, sobretudo, as potências superiores, isto é, a razão e a vontade, ficam desordenadas.

Ora, são quatro os atos da razão, na ordem prática. – Primeiro, a simples inteligência, que apreende um fim como bem. E este ato fica impedido pela luxúria, como diz a Escritura: A formosura te seduziu e a concupiscência te perverteu o coração. E é o que na enumeração se chama a cegueira do espírito. – O segundo ato é o conselho sobre os meios que devemos aplicar para a consecução do fim. E este também fica impedido pela concupiscência da luxúria. Por isso, Terêncio, falando do amor sensual: O que em si é a negação de todo conselho e é de todo desregrado não o poderás submeter ao conselho. E é o que a enumeração denomina precipitação, que implica a ausência do conselho, como provamos. – O terceiro ato é o juízo sobre o que devemos fazer que também fica impedido pela luxúria. Por isso, diz a Escritura, dos velhos luxuriosos: Perverteram o seu sentido sem se lembrarem dos justos juízos. É o que a enumeração denomina inconsideração. – Enfim, o quarto ato é a ordem da razão sobre o que se deve fazer que também fica impedido pela luxúria; porque o ímpeto da concupiscência impede–nos executar o que a razão decretou que deveríamos fazer. E é o que, na enumeração, se chama inconstância. Por isso, diz Terêncio de um tal que assegurava haver de separar–se da amiga: Estas palavras uma falsa lagrimazinha as extinguirá. Relativamente à vontade, dela resultam dois atos desordenados. – Um é o desejo do fim. E é o que se chama o amor de si, no atinente ao prazer que desordenadamente se deseja: e por oposição, o ódio de Deus, por proibir Deus o prazer desejado. – O outro é o desejo do meios conducentes ao fim. E a este se refere o apego à vida presente, durante a qual queremos gozar do prazer; e, ao contrário, enumera–se o desespero da vida futura, porque, quem se apega demasiado aos prazeres carnais não cuida de conseguir os espirituais, mas aborrece–os.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­ Como diz o Filósofo, a intemperança destrói sobretudo a prudência. Por isso principalmente os vicies opostos à prudência é que nascem da luxuria, que é a parte precípua da intemperança.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A constância nas causas difíceis e terríveis é considerada parte da fortaleza. Mas, a constância em nos abstermos dos prazeres faz parte da continência, considerada como inclusa na temperança, como se disse. Por onde, a inconstância, que se lhe opõe, é considerada filha da luxúria. E contudo também a primeira inconstância é causada pela luxúria por amolecer o coração do homem e torna–lo efeminado, segundo a Escritura: A fornicação, o vinho e a embriaguez endurecem o coração. E Vegécio diz, que teme a morte menos quem menos se dá aos prazeres nesta vida. Nem é necessário, como dissemos, que os vícios nascidos do vício capital tenham matéria idêntica à dele.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O amor de si, no atinente a quaisquer bens que desejemos, é o princípio comum dos pecados. Mas, o amor é considerado como filho da luxúria, especialmente, quando é o pelo qual desejamos os prazeres da carne.

RESPOSTA À QUARTA. – Os vícios que Isidoro enumera, são certos atos exteriores desordenados e sobretudo ligados às palavras, que podem dar lugar a quatro desordens. – Primeiro, pela matéria. Por isso enumera o turpilóquio; porque a boca fala da abundância do coração, como diz o Evangelho, os luxuriosos, cujo coração anda cheio de torpes concupiscências, prorrompem facilmente em turpilóquios. – Segundo, pela causa. Pois, como a luxúria causa a inconsideração e a precipitação há de por consequência fazer prorromper em palavras levianas e inconsideradas, o que constitui a escurrilidade – Terceiro, pelo fim. Pois, como os luxuriosos buscam o prazer, ordenam ao prazer até as suas palavras e então prorrompem em vocábulos lúdicros. – Quarto, pelo valor das palavras, que a luxúria perverte, por causa da cegueira do espírito, que produz. E por isso, prorrompe em estultilóquios, preferindo assim, com suas palavras, os prazeres que deseja, a quaisquer outras coisas.

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